Capítulo 3 : Descendência maldita

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Mamie Towers era a habitante mais velha de Santa Teresa, naquele momento estava sentada em sua velha cadeira de balanço, o guisado já começava a cheirar junto com o cheiro do arroz enquanto ouvia-se o crepitar e estalar da madeira no fogão de lenha, o cheiro de fumaça misturava ao cheiro de comida e trazia uma nostalgia que apenas os mais velhos conhecem, um cheiro que remete a tempos mais simples. Tudo naquele local invocava a sensação de "casa de Vó"

Aquela casa foi o refúgio de Laura Black e sempre tinha sido. Quando o velho Eugene Black voltava bêbado da taberna, ou se irritava porque o guisado estivesse frio, Laura ia para a casa de Mamie Towers, onde podia chorar tranquilamente. Não havia compaixão em sua vida. Certamente não por parte dos cidadãos e muito menos por parte do velho Black, e ela tinha pouquíssimo tempo para ter pena de si.

Mamie Towers estava perdida em seus devaneios, a idade fazia isso. Enquanto o cheiro do guisado melhorava, mais Mamie voltava no tempo. Ela se lembrava daquele dia, o dia em que Laura entrou correndo pela sala e contou a Mamie, contou toda a verdade, era comum a coitada queixar se com mamie, mas aquela revelação mexeu com mamie.

O velho motivo de irritação tinha degenerado em ira, o menino.

O fruto engendrado e cuidadosamente criado de seu amor, O nome Edgar surgiu a partir de Audagar e Eadgar, nomes que unem duas palavras: ead, que significa "riqueza, fortuna, bênção", e gar, que quer dizer "lança". Dessa forma, o nome Edgar ganha os significados de "o que protege suas riquezas com a lança” ou “lança abençoada, afortunada" . Um menino doce, mas taciturno. O menino mais meigo e feio de toda a região, com cinco anos já era tão educado como qualquer mãe deste lado da costa teria desejado. Edgar.

O orgulho e a alegria de Laura, um menino que se não fosse a aparência canina seria feito para alegrar qualquer álbum de fotos, feito para dançar e para encantar o próprio demônio.

Essa era a objeção do velho Black.

— Este maldito guri tem de menino o mesmo que você — dizia a Laura. — Nem sequer é meio menino. Só serve para calçar as calças e correr por aí. Ou para ser um cão, tem vocação para ser cão.

Apontou para o menino com uma unha amarela e um polegar artrítico.

— Envergonha os Black.

O olhar de Edgar se encontrou com o de seu Avô.

— Está me ouvindo, menino?

O velho afastou o olhar. Os olhos do menino lhe revirava as tripas , pareciam-se mais com os de um cão que os de um ser humano.

— Quero que vá embora desta casa.

— O que ele fez?

— Não precisa fazer nada. Basta com que seja como é. Riem de mim, sabe?

Riem de mim por culpa dele.

— Ninguém ri de você, papai.

— Oh, sim...

— Não por culpa do menino.

— Não?

— Se riem, não é do menino. É de você.

— Feche o bico.

— Sabem o que você é, Papai. Eles o veem claramente, tão claramente como eu.

— Estou dizendo, mulher...

— Doente como um cão na rua, falando do que viu e do que teme...

Golpeou-a como tantas outras vezes. O golpe a fez sangrar, igual a tantos golpes semelhantes durante 10 anos, mas, embora doesse, seus primeiros pensamentos foram para o menino.

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