capítulo 6 : O Júbilo da caçada

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O Xerife parou o comboio perto das colinas. Se tivesse sabido quem foi Napoleão, sem dúvida haveria se sentido como aquele conquistador. Se tivesse conhecido a biografia do conquistador, poderia ter pressentido que aquele seria seu Waterloo, mas Joshua Marshall viveu e morreu sem necessidade de heróis.

Ordenou a seus homens que desembarcassem dos carros e se meteu entre eles, com a mão mutilada metida no casaco desabotoado. Não era o desfile mais encorajador da história militar. Havia mais de uma cara pálida e transformada entre seus "soldados", e vários olhos evitaram seu olhar quando lhes
deu as ordens.

— Homens! — Rugiu. — Homens... chegamos, estamos organizados, e Deus está do nosso lado. Já vencemos esses selvagens, compreendido?

Silêncio, olhares tétricos, mais suor.

— Não quero ver nenhum de vocês se virar e pôr-se a correr! Porque se fizerem isso vou pegá-los e os arrastarei para casa com o traseiro arrebentado.

Judith quis aplaudir, mas a arenga não tinha acabado.

— E lembrem-se, homens — aqui a voz de Marshall baixou de volume até transformar-se em um cochicho de conspiração, — que esses demônios vivem a espreita prontos para estuprar as mulheres e arrancar crianças do seio de sua mãe enquanto são embaladas para dormir. Não são mais que selvagens, aquelas terras pertence aos homens de Deus, chegou a hora de dizer chega a esses monstros a esses indígenas, tenham a aparência que tiverem. Não respeitam uma mãe, nem uma criança, nem nada. Assim quando estiverem perto de um deles pensem em como se sentiriam se tivessem sido arrancados do seio de sua mãe...

Gostava da expressão “seio materno”. Dizia tanto e com tanta simplicidade... O seio de mamãe tinha muita mais força para mobilizar aqueles homens que seu bolo de maçã.

— Não têm nada a temer, só parecer menos que homens, homens. Boa frase para acabar.

— Em frente.

Montou de novo no carro. Alguém começou a aplaudir no final da fila, e o resto fez coro ao aplauso. A grande cara vermelha de Marshall se abriu em um sorriso duro e amarelo.

— Em marcha! — concluiu sorridente, e o comboio começou a dirigir-se para as colinas coroadas.

O carro de Marshall encabeçava o ataque. A coluna de veículos surgiu da escuridão com as sirenes uivando e os faróis acesos e se dirigiu diretamente para o centro da celebração. Em um ou dois carros, policiais aterrados uivaram espontaneamente quando viram de repente todo o espetáculo, mas então a força de choque já estava lançada. Houve disparos. Jedediah notou as criaturas juntavam o corpo para proteger aqueles que tinham formas humanas, e seus pelos se arrepiaram agora de fúria e de medo.

Marshall soube instintivamente que aquelas criaturas podiam sentir temor, podia cheirar como o medo emanava deles. Parte de seu trabalho consistia em reconhecer o medo, jogar com ele e utilizá-lo contra o infiel. Gritou suas ordens pelo megafone e levou os carros para dentro do círculo de "demônios". Na parte traseira de um dos carros que o seguia, Dave fechou os olhos e dedicou uma prece ao Yavé, a Buda e a Groucho Marx. “Me deem poder, me deem indiferença, me deem senso de humor.” Mas ninguém foi em sua ajuda: seu fígado queimava, a garganta lhe dava ferroadas.

A frente soou o chiado dos freios. Dave abriu os olhos (só uma fresta) e viu uma das criaturas envolver com seu braço musculoso e com pelo negro o carro de Marshall e levantá-lo no ar. Uma das portas de atrás se abriu violentamente, e uma figura a quem reconheceu ser Eleanor Cooper, a mulher caiu ao chão, seguida muito de perto por Jedediah.

Sem um chefe, os carros se espalharam freneticamente, e toda a cena ficou velada em parte pela fumaça e o pó. Ouvia-se o ruído de pára-brisas dianteiros rompendo-se quando os policiais saíam a marchas forçadas dos carros, os chiados
de capôs rasgados e portas arrancadas. O uivo agonizante de uma sirene esmagada e a última prece de um policial moribundo.

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⏰ Última atualização: Apr 07 ⏰

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