Ela havia sido criada pelo propósito nefasto de seu pai, havia crescido e se moldado pela crueldade em uma cela repleta de escuridão. Conhecendo o pior de qualquer pessoa ela jamais confiaria plenamente em alguém, seja parceiro ou não, seja jurado a...
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Assim que Tyron abandonou a sala minha total atenção se voltou para a pequena menina esfomeada que devorava toda a comida, lentamente eu comecei a mexer meus dedos sobre a pele fina de suas costas, sentir seus ossos por baixo dos meus dedos era aterrorizante, mas o pior era ter que ver suas asas presas com aquelas correntes, fincadas tão fundo em sua pele que eu mal conseguia saber a cor do minério, a quanto tempo ela as tinha? Ela já voou alguma vez? Será que ao menos abriu as asas uma vez na vida?
— Dea? - chamei baixinho ganhando sua atenção e a de minha mãe - Posso tirar essas correntes de você?
Talvez ela não quisesse, ou por algum motivo se sentisse confortável com elas, meu pai me disse uma vez que algumas pessoas se acostumam com coisas ruins na tentativa de fazer parar de doer tanto. No entanto, contrariando meu pensamento, ela assentiu calmamente com sua bochecha inchada de comida, eu suspirei meio aliviado em fazer tudo aquilo sumir e sem tirar a mão de suas costas eu movi a minha livre jogando sobre cada correntinha minhas sombras, não como as de tio Az ou Nick, sombras cintilantes, todos dizem que eu tenho um pedaço do céu comigo.
Por um instante, enquanto as correntes quebravam, ela fechou os olhos como se tudo fosse demais para sentir de olhos abertos, quando a última estalou no chão de mármore negro ambas as asas permaneceram no lugar e eu sorri porque pensei que ela estava segurando, mas quando ela foi para frente e vomitou eu engoli o sorriso.
Quando voltou para mim, verde e mole eu a segurei com força contra meu peito, ela estava gelada, isso não parecia um bom sinal, isso nunca era um bom sinal.
— Meu sangue não funcionou? - Minha mãe parecia aflita tocando o rosto da menina, todos ficamos aflitos, o sangue dela já trouxe tio Cas dos mortos, como pode falhar agora?
— PAI! - Gritei para ele que soltou Az correndo até nós, seus dedos se fecharam na testa dela antes de seus olhos arregalarem.
— Vou chamar a Madga!
Ele atravessou, me deixou sozinho com uma garota meio morta nos braços! Cassian se aproximou de nós e por algum motivo meu abraço ao redor dela ficou mais forte, eu vi bem a fúria em seus olhos enquanto dizia de quem ela era filha, eu conhecia aquele olhar, odiava aquele olhar. Tyron entrou correndo um segundo depois, passou na frente do pai e se jogou ao meu lado.
— Porra! O que aconteceu? Nyx o que você fez? - ele fez careta para mim e eu teria revirado os olhos se não sentisse meu almoço na garganta.
— Eu não... Só tirei as correntes, pensei que ela se sentiria aliviada!
— Temos que levá-la! Rhys está esperando em um lugar seguro! - Cassian se meteu entre nós dois arrancando-a de mim com força - Vocês dois vem comigo, Az, você também. As meninas ficam!
— Machista? - Minha prima debochou.
— Hera! Não é hora, porra!
Nunca vi Cas gritar com ela, muito menos falar um palavrão. Hera calou a boca e se encolheu para perto da mãe enquanto saiamos da sala em fila seguindo de perto Cassian, que corria pelos longos corredores da casa com a menina adormecida sacodindo nos braços. Ele virava e eu temia que socasse a cabeça dela em uma quina das paredes ou em moveis de madeira maciça.