𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝑫𝑶𝑰𝑺

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Meus olhos se recusavam a abrir por muito tempo, eu fiquei boiando entre a linha da consciência e um sonho nebuloso do qual não me lembro mesmo ainda estando nele, eu não conseguia sentir meu corpo, não conseguia mexer meus dedos ou mesmo minha lí...

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Meus olhos se recusavam a abrir por muito tempo, eu fiquei boiando entre a linha da consciência e um sonho nebuloso do qual não me lembro mesmo ainda estando nele, eu não conseguia sentir meu corpo, não conseguia mexer meus dedos ou mesmo minha língua. Tudo estava pesado, denso, dolorido, tudo que eu sabia é que eu não estava sozinha onde quer que eu estivesse.

Havia vozes borbulhando do lado de fora de minha cabeça, uma chuva de gritos e xingamentos, alguém estava sendo ameaçado de morte, alguém estava sendo segurado e impedido de cumprir o juramento, alguém tocou minha testa.

Dedos calejados e com um cheiro de ferrugem... sangue – percebi depois de um tempo – alguém com os dedos sujos de sangue gentilmente acariciava a pele de meu rosto e meus cabelos, a mão claramente maior que a minha trançava os fios longos do meu cabelo com uma calma que não se encaixava com o caos que eu ainda ouvia ali.

— Dea... — era a voz de Thomas, eu a reconheceria em qualquer lugar do planeta — Você está salva agora, eu tirei você de lá.

Tenho vagas lembranças de ter sentido o vento no meu rosto e sua voz chorosa me pedindo para abrir os olhos. Eu poderia negar a mim mesma e dizer que ambos enlouquecemos, não havia saída, eu jamais sairia daquele calabouço, poderia jurar que eu estava morta e o calor que eu sentia em cima de mim eram as línguas de fogo do inferno onde meu pai jurava que eu iria acabar.

— Aquele pau no cu, filho de uma puta, desalmado do caralho, arrombado igual cu de jumento...

— CASSIAN! Chega, nós já entendemos!

Eu poderia jurar, se não fossem essas vozes que eu não conhecia e ainda rodavam no lugar onde eu estava. Algo gelado tocou minha bochecha e escutei o típico rosnado de Thomas enquanto a coisa se afastava, uma voz grossa e jovem como a dele xingou baixinho e disse que era só um pano úmido. Meu irmão parece ter cedido quando o pano voltou e outra pessoa, um pouco menos delicada, limpava minha pele sem nunca se aproximar do meu pescoço.

— O que faziam com ela? — a voz perguntou, mas ninguém deu uma resposta, eu queria dizer a ele, queria contar, mas também não conseguia responder — Por que faziam isso?

Dessa vez, eu não conseguiria responder mesmo que pudesse e quisesse, porque também não sabia. O pano continuou correndo até que todos ficassem em silencio, até que a neblina tivesse passado e eu finalmente conseguisse abrir os olhos e piscasse eles, a luz ofuscante me cegou, eu estava acostumada demais com a escuridão para ser inundada de luz tão repentinamente.

Quando finalmente consegui focar sem sentir meu cérebro derretendo, eu olhei para o lado e vi um macho que não conhecia ajoelhado no chão, perto demais de meu rosto, o pano frio estava em suas mãos e os olhos castanhos expressivos dele estavam cravados nos meus com uma intensidade assustadora. Seus cabelos castanhos ondulavam até parar logo abaixo das orelhas, ele tinha a pele morena e era bonito...

Era a primeira pessoa que eu podia olhar, era a primeira vez que via os detalhes de alguém tão próximo, eu foquei em tudo que podia ver, em como sua boca se apertou em uma linha fina, em como as duas bolinhas pretas de seus olhos se dilataram e em como suas narinas dobraram de tamanho enquanto ele cheirava o ar.

Corte de Herdeiros e CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora