🔞ALERTA DE DARK ROMANCE🔞
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Depois de Jeremy, quem por toda sua infância fora considerado seu único amigo e eterno refúgio ao qual a morte levara diante de seus próprios olhos e em circunstâncias misteriosas, Alexis tem seus dias domados pela mon...
"Se tudo o mais perecesse e ele continuasse vivo, eu ainda deveria continuar a existir; mas se tudo o mais continuasse e ele fosse aniquilado, o universo tornar-se-ia para mim completamente estranho"
< O Morro dos Ventos Uivantes / Emily Brönte >
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Do recinto ruinoso e enfadonho de onde vinha, eles te ensinavam o verdadeiro pior lado do viver; ensinavam o quanto uma refeição, por mais parca e insossa que fosse, nunca estaria sujeita a descartes ou rejeição alguma. Ensinavam que, por mais injusta que uma situação podia se revelar ser diante de seus olhos, nunca era seu dever sobrepor-se, rebelar ou injuriar contra a mesma. Ensinavam que, por mais bom e agradável que você podia ser, não era seu dever indagar e lamuriar-se do por quê de tanto mal auguro em uma só vida.
Mas, por agora, eu notei que, diante de tantos ensinamentos — Por mais moralmente condenáveis que fossem —, eles não instruíram a como exatamente alguém devia se comportar diante de uma situação semelhante à que me encontrava agora.
Cada órgão do corpo humano tem sua reação instantânea ao deparar-se com algum infortúnio incomum e, naquele exato momento, conseguia sentir a ligeira gota de suor que descia por minha clavícula e desaparecia pelo interior da minha camisa, deixando um rastro infiltrado em cada poro dilatado meu diante do nervosismo ao qual tentava conter.
Não podia entrar em desespero.
Mas eu tinha vontade, a minha auto sobrevivência gritava por isso, o que era irônico se colocasse em conta que era exatamente isso que eu tanto queria, que ainda quero.
Contudo, não era para ser assim; eu jamais desejaria morrer diante de seus olhos, nunca permitiria que aquelas duas esmeraldas espelhassem o exato momento em que o meu maior desejo seria realizado da forma mais cruel possível.
Tinha ciência de existir uma arma apontada para mim naquele exato momento, do quanto um pequeno movimento seria suficiente para me privar do meu direito de viver, de ver algum lado bom do mundo e de continuar fazendo-a feliz.
Sim... fazê-la feliz.
Tinha vivido esses últimos anos à base disso, tinha respirado para isso, aguentado somente por isso porque, embora despropositado, aquele era o exato esquema do nosso Quid pro quo; eu dava a ela motivos para sorrir e ela me retribuía com seu sorriso que, sinceramente, era o ponto mais alto dos meus dias sempre que podia vê-la.
E, infelizmente, não era isso que estava causando naquele momento para ela; seu rosto gritava pavor e os olhos estavam banhados de lágrimas intermináveis, não pelo braço em seu pescoço, não pelo cara enorme parado atrás de si, que mantinha-a refém, mas sim por mim, pela ameaça que se encontrava diante de minha vida enquanto me mantinha estatelado no chão, paralisado pela arma direcionada exatamente para mim.
Ele o faria, eu sabia, eles sabiam e ela sabia. Mesmo assim, não hesitou em me perguntar se ia ficar tudo bem em nossa comunicação de olhares e eu muito menos ao garantir-lhe que sim.
Eles a queriam, não a mim, por isso era facilmente descartável, mas a ideia deplorável de que eles a manteriam em suas mãos, em perigo, me fez querer gritar por alguma coisa, qualquer coisa, qualquer ser divino que pudesse existir para que não a fizessem sofrer.
Porque precisava que ela ficasse bem do mesmo jeito que precisava do ar para respirar.
O primeiro ataque não demorou a chegar; era forâneo, inerte, quase comparável a um dedo pressionado na quina de alguma porta, ou talvez até menos e, se não fosse pelo barulho que ele causara e o grito desesperado dela, pelas suas esmeraldas — que eu não fazia questão de desviar —, nunca saberia exatamente o quão grave aquilo era.
O segundo chegou em um nano segundo de diferença, o suficiente para fazer-me desvincular da dor que o primeiro começou a causar.
Ela não conseguia mais manter-se parada, seus olhos gritavam mais que sua própria voz e as pernas falhavam na tentativa de correr até mim; não conseguia, porque a mão a segurava mais forte, tão forte que eu tinha a certeza de que machucava.
Não se importava tanto quanto eu, que desejava abdicar-me de toda aquela dor que começava a ser insuportável só para acabar com o desgraçado que a fazia sofrer.
Meu rosto superaquecia assim como toda a minha camada epitelial, tinha a breve sensação do sangue subindo por minha cabeça que chegava a ser doloroso e, no segundo em que tentei respirar, meu nariz e boca foram invadidos pelo líquido escarlate.
Era sufocante, tanto pela ardor em meus sentidos quanto pelos meus pulmões submersos. Não conseguia localizar de onde exatamente a dor vinha, onde tinha sido baleado, todo meu corpo o sentia sem limites, desde a unha do dedo do meu pé até o último fio do meu couro cabeludo.
Mas nada, nem isso, me fazia desfocar de seus olhos apavorados e eu me sentia hipócrita por odiar aqueles desgraçados sabendo que, se não fosse por eles, eu próprio teria causado essa mesma dor em si.
Porque, independentemente de qualquer coisa, isso era a nossa despedida, esse encontro seria o último por conta do meu mais puro egoísmo.
Minha respiração era dolorosamente escassa, meu corpo ardia de dentro para fora e minhas vistas se tornavam incapazes de enxergá-la. Isso não me impedia de vê-la em minha consciência e, mesmo naquela situação, só conseguia pensar no quão linda ela era.
Talvez em outra vida tudo pudesse ter sido diferente, talvez existisse alguma oportunidade para mim, para ela, para nós.
Mas, naquele momento, ali, eu tinha tudo o que sempre quis e passei a almejar; a presença, embora distante, daquelas esferas cor-de-jade e o mais completo nada.