Vinte e dois

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Minato Namikaze
Depois que saímos do posto e termos levado a Hinata em casa, fiz questão de dar uma volta pelos principais estabelecimentos comerciais de Konoha e vejam só. A maioria deles possuem as condições adequadas para pessoas com necessidades especiais e tudo devidamente separado. A pergunta que ficou no ar foi: como que um local tão bem frequentado, como o shopping, pode tratar as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, com tamanho descaso?
É algo sério a ser levado em consideração, pois numa cidade tão bem vista em todo o Estado, uma coisa dessas não deve jamais ser aceita pela sociedade. Após conferir tudo, retornei para casa, onde a minha esposa me aguardava. Entrei, pendurei o paletó no mancebo e as chaves do carro, sobre o aparador de canto. Fui até a cozinha onde a minha gata reparava um delicioso jantar. Acabei perdendo a hora de retornar.
— Por onde andou? Eu já estava ficando preocupada! – ele diz, continuando a cortar um frango.
— Bom, missão cumprida. Eu fui dar uma volta para ver alguns estabelecimentos comerciais. Além de ser o sogro da Hinata, me coloquei no lugar de pai! – respondo, sentando-me à mesa. — Não foi nada lindo o que aconteceu hoje com aquela moça!
— E o que pretende fazer? – comentou Kushina, servindo-me uma xícara de chá. — Vai mesmo acionar a justiça contra o shopping?
— Ora, veja se isso não seria o certo a se fazer, Kushina! – a respondo, prontamente. — Você ouviu aqueles pais, tios e avós, reclamando do descaso daquele lugar com pessoas portadoras de necessidades especiais? Pois bem!
Kushina suspirou e retornou para o que estava fazendo, mas olhou para mim, em concordância.
— É, você está certo, Minato. Se algo não for feito, certamente outras Hinatas vão aparecer e a impunidade irá continuar!
— Obrigado por me apoiar, amor. Não sabe o quanto eu fico feliz com isso!
— Foi para isso que me tornei sua esposa, meu marido. Para lhe dar apoio quando precisar e, para puxar sua orelha quando estiver errado! – ela diz, e sorrir.
Vou até ela e a agarro por trás, dando um cheiro em seu pescoço, deixando-a arrepiada.
— Ai, para, Minato! – ela reclama. — Nosso filho está lá em cima. E se ele chegar e nos ver nessa pouca vergonha?
— Ah, fala sério, amor! – falo revidando — Naruto já é bem crescidinho pra saber que ele não foi trazido pela cegonha!
Rimos juntos, mas a verdade é que sempre procuramos ser o mais discreto possível quanto à nossa intimidade, desde que o nosso filho começou a crescer.
— E por falar nisso, depois de falar com a Tsunade, eu vou até o prédio onde irei alugar o apartamento para o Naruto, quando ele estiver na faculdade!
Notei de cara, a mudança no semblante da minha mulher. Ela nunca conseguiu engolir o fato de o nosso filho querer morar sozinho depois de concluir o ensino médio e eu a entendo. Mas por outro lado, nós dois sabemos que o Naruto já não é mais uma criança há muito tempo e que é normal ele querer ter um pouco mais de privacidade.
— Não vejo motivos para o nosso filho sair de casa, Minato. Ele ainda vai fazer faculdade apenas no ano que vem! – zangada, ela responde.
— Kushina... eu sei o que está pensando e até mesmo o que vai dizer! – agora eu vou entrar numa questão que ela não vai conseguir argumentar. — Você sabe que o nosso filho já não é mais nenhuma criança!
— E é pra mim que você vem dizer isso, Minato?
— Veja bem, ele tem a Hinata e certamente os dois precisam de um lugar mais reservado. Sem falar que ele mesmo quer morar perto da faculdade. Sabe o quanto nosso filho gosta de ser o primeiro em tudo!
Ela me olha, depois coloca o frango no forno, com cara de poucos amigos. Mas como eu disse, não houve um argumento plausível de sua parte.
— Ele vai ser sempre o meu bebê, Minato! – me olha, fazendo aquele biquinho que me conquistou há mais de vinte anos.
— Pensa pelo lado bom, amor. Vamos poder ter mais privacidade, que tal? – consigo por fim, arrancar-lhe um sorriso. — Precisamos de um tempo só para nós dois e eu confio no nosso garoto!
— Tá bom, você tem razão! – ela baixou a guarda. — Mas os finais de semana serão aqui em casa, ok?
Nos abraçamos e cerca de uma hora depois, fui até o quarto do Naruto para avisar que o jantar já estava pronto. Ele desceu e então eu contei que iríamos até a Tsunade logo pela manhã. Ele concordou e ficou empolgado por saber que também iríamos ver o seu apartamento novo.
***
O dia mal amanheceu e já fomos para os nossos afazeres, Naruto e eu. Estou gostando dessa nossa interação. Há muito tempo que não fazemos um programa entre pai e filho.
Fomos até o centro da cidade onde fica a sede do tribunal de justiça, onde já havia dito à assessoria da Tsunade que gostaria de uma reunião com ela, vamos ver se ela dará um jeito pelo menos no caso do shopping.
— Minato! – sentada atrás da mesa, ela vai logo me cumprimentando. — Disse que queria falar comigo. Pois bem, fique à vontade!
— Obrigada, senhora Tsunade. Mas o assunto que me traz aqui não é meramente algo cortês. Trata-se de uma situação que requer uma atenção especial por parte do conselho e acredito que, sua também!
Ela pigarreou, cruzando as mãos sobre a mesa. Pela minha experiência no meio jurídico, sei perfeitamente o que esse gesto quer dizer. Nossa "amada" pode ser que nossa juíza  já esteja a par do que eu vim fazer aqui.
— Bom, senhor Minato, se é a respeito da situação no shopping – bingo. — O dono do estabelecimento entrou em contato comigo ainda ontem, explicando a situação!
— Sei – balanço a cabeça —, mas ele também lhe contou que no seu estabelecimento, não há espaço para pessoas com necessidades especiais?
— Dr. Namikaze...
— E que só existe um único banheiro para deficientes físicos e o mesmo é compartilhado por homens e mulheres, senhora? – a interrompo. — Agora se coloque no lugar de um pai, uma mãe, um namorado, que é o caso do meu filho, vendo alguém que ama, passar, além do constrangimento, discriminação?
Tsunade fez silêncio diante das minhas palavras. Naruto também ficou calado, apenas a me observar, será que deseja seguir a mesma carreira que eu? Bom ainda não sei, eu e Kushina estamos deixando ele bem à vontade com isso.
Expliquei para ela tudo o que havia ocorrido com a minha nora e também, das muitas pessoas presentes ali, que se mostraram indignadas com a maneira com a qual o shopping lida com a situação.
— Eu entendi seu ponto de vista, senhor Namikaze, mas devo lhe informar que...
— Não, senhora, a senhora não me entendeu. Se algo não for feito nesta casa, eu irei acionar a justiça federal não apenas contra o shopping. Será que fui claro? – dessa vez, levanto-me e tento parecer o mais sucinto possível, ela deu um profundo suspiro.
— E qual seria a solução, senhor Namikaze? O senhor veio até aqui, apresentou o problema... agora estou disposta a ouvir uma solução! – ela pensa que me engana.
— Quero que apresente esse projeto ao conselho. Não quero que nada seja feito sem o aval deles! – falo, de maneira objetiva. — Aí está tudo o que precisa saber e ser feito.
Entrego-lhe a pasta contendo todo o esquema de uma lei que visa em dar a prioridade merecida a pessoas com necessidades especiais. Hinata já está na nossa família, meu filho gosta dela e eu não posso deixar de pensar no bem estar dela. E também, ao fazer isso, sei que estou ajudando muitas pessoas mais. Essa lei, elaborada por mim, irá obrigar a todos os estabelecimentos comerciais da cidade, a terem banheiros exclusivos para cadeirantes e para homens e mulheres, separados.
— Eu não sei como que os comerciantes da cidade vão aceitar essa sua proposta, senhor Minato! — ela diz, após dar uma olhada breve no que eu havia posto pauta.
— Não é uma proposta, senhora, é uma lei e ela deverá ser cumprida, caso aprovada pelo conselho! – novamente, eu sendo claro. — Mas pode deixar, porque eu já fiz uma busca pela cidade e veja só... menos de 2% dos locais aos quais visitei, não possuem exclusividade para especiais. Ou seja, a senhora não vai ter muitos problemas!
Faço questão de uma risada irônica, deixando Tsunade completamente sem defesa diante de mim. Fiz questão de lembra-la o quão influente eu sou e que osso encontrar aliados fora da cidade também.
— Tudo bem. Hoje mesmo eu levarei o seu projeto ao conselho da cidade. Desejo-lhe sorte, senhor Minato Namikaze!
Audiência encerrada e eu deixo a sala da juíza, com uma sensação de vitória e dever cumprido. Ao menos, é isso que se espera de um juiz e eu faço questão de servir à população com carinho e respeito.
— Será que seu projeto vai passar, pai? – Naruto pergunta.
— Não há como saber, filho, mas vamos aguardar, pois só o tempo dirá. Agora vamos ver o seu apartamento?
— Aí sim! - Naruto diz empolgado. — E pai?
— Oi filho!
— Obrigada por tudo. - ele me diz com sinceridade e eu lhe dou um abraço.
Acima de tudo eu também quero ver o meu filho feliz sempre.
***
Naruto

Eu posso dizer que sou o filho mais orgulhoso do mundo, por ter um pai como o meu. Mal pude me aguentar de tanto orgulho, ao ver o meu velho batendo de frente com a juíza e defendendo os interesses, não só da Hina, mas de muitos iguais a ela. Eu li o projeto de lei e digo que se passar, irá dar mais dignidade a muitas pessoas.
Saímos juntos e fomos até o prédio onde eu irei morar, assim que entrar na faculdade, o que já está preparado. Minha mãe é quem está batendo o pé, mas eu só penso em como isso será bom para Hina e eu. Não seremos bem um casal, mas já vou poder pensar nessa possibilidade, de um dia me juntar a ela, para sempre.
— Vai esse mesmo, Naruto? – o meu pai pergunta.
— Nossa, pai! Isso é demais! – falo, empolgado. — Pequeno, porém, aconchegante pra caramba.
— Então isso quer dizer que você gostou, não foi?
— Gostei? Pai, eu adorei! – principalmente o quarto, mas isso eu não vou comentar com o meu pai, né?
— Você vai poder receber seus amigos com mais liberdade, só espero que com responsabilidade também! – ele me olha sério.
— Claro, pai. Jamais iria expor você e a mamãe, muito menos a Hina, a qualquer coisa que venha a ser vergonhoso!
— Confio em você. Agora vamos? Estou morrendo de fome.
— E eu, de saudades da Hinata!
— Mas já? Vocês se viram ontem... - ele disse e eu sorri.
Saímos do prédio e o sorriso do meu pai me deixa fascinado. Quero muito ser igual a ele quando eu crescer e me formar. Ele é o cara mais incrível que eu conheço e jamais farei qualquer coisa que o deixe triste, nem a ele, nem à minha mãe.
***
Alguns dias se passam e as coisas saem melhores do que imaginamos. Passei em todas as provas e estou livre do ensino médio, Hina e os outros, também. Agora é pensar na faculdade, Hee!
O conselho da cidade também nos reservou uma grande surpresa.
— Diante das declarações apresentadas pelo Dr. Minato Namikaze, esse conselho decide por unanimidade votar sim, ao seu projeto de lei!
Se eu já tinha orgulho do meu velho, agora sim é que eu morro de orgulho. Posso dizer com todo o ar que existe em meus pulmões, que o meu pai é o herói do meu coração.
Mas a Hinata ainda não sabe e eu fiz questão de fazer uma surpresa a ela, dias depois de a lei ser sancionada e executada.
— Por que voltar àquele Shopping, Naruto? Sabe que eu não me sinto bem lá! – ela diz, empurrando a cadeira com as mãos. 
— Olha, deixa de coisa e vem comigo, pois tenho algo para te mostrar e é algo bom!
Ela deu de ombros e então eu a levei até o shopping. Chegando lá, ela já notou que haviam muitos curiosos por lá e muitas pessoas a olhavam, batendo palmas.
— O que está havendo, Naruto?
— Vamos lá, falta pouco!
Empurrei a cadeira e ao chegar em frente aos sanitários, ali estavam duas portas com as placas, masculino e feminino, para cadeirantes. Ali também estavam algumas pessoas, que assim como a Hina, também usavam a cadeira para se locomoverem.
— Obrigada, moça. Graças a você, uma providência foi tomada! — disse uma senhora, que carregava um bebê em colo.
— De nada. E é lindo o seu bebê! – Hina responde, com um largo sorriso.
Depois de passearmos um pouco pelo shopping, fomos para a casa dela.
— Ainda nem acredito na reviravolta que tudo isso culminou! – ela comenta, com a cabeça sobre o meu peito. — Não posso esquecer de agradecer ao seu pai por isso!
— Ele sabe que você é grata, mas preferiu deixar a honras, com você! – respondo-a. — Pois até então, ninguém havia reclamado. Se sentiam constrangidos, mas nada diziam.
— É, tem isso!
— E mais... o meu pai disse que você é muito corajosa e que ainda vai longe!
— Vindo do seu pai, eu me sinto mais orgulhosa ainda, amor!
Nos beijamos e acabamos por adormecer. Vai ser maravilhoso quando estivermos no meu apartamento, assim vamos poder passar noites e mais noites, juntos.

Toda Perfeitinha - Naruhina Onde histórias criam vida. Descubra agora