O barulho ensurdecedor das hélices é ótimo para cochichar com seus colegas de trabalho quando um deles está inseguro sobre o planejamento da missão. — Tem certeza disso, Tenente? — Ela pergunta baixinho outra vez. Dentro do helicóptero, Ghost sequer escuta, mas seus olhos estão grudados nos lábios dela desde que se sentaram. Ele engole em seco e ordena os olhos a subirem para os dela, não gosta quando ela tira sarro dele por isso. — Confie em mim, Coelhinha. Malu assente, grata pela máscara esconder o rubor em suas bochechas.
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— Não. Não, não, de jeito nenhum. Bastou um olhar superficial sobre a garota para que Ghost tomasse sua decisão final. Maria Luísa Coelho, Malu, estrangeira recrutada pela Laswell para fazer parte da missão de espionagem e incursão junto da 141, especialista em furtividade, parecia uma adolescente que nunca havia saído da fase colorida. Os olhos cheios de julgamento do Tenente começaram no arco mantendo o longo cabelo ondulado afastado do rosto, desceram pelos brincos e colar de pérolas imaculadas combinando, e então para o cardigã rosa claro, estremeceu sobre as longas unhas pintadas com esmalte brilhoso. Só podia ser uma piada, ele pensava consigo mesmo, ainda recusando passar da porta. — Deixe de ser cabeça dura, Tenente. A garota é das nossas — McTavish tentara amenizar, erguendo o polegar com um sorriso imenso no rosto. E não havia mentido em palavra alguma. Soap fora o primeiro a chegar de manhã, depois de Price trazer Malu em seu encalço pelo corredor ele quis ser o primeiro a cumprimentá-la porque além de ser sua nova colega, Malu era uma mulher jovem e bonita. Delicada até demais, o que contrastava com as atuais personalidades femininas da equipe, todas assertivas e extremamente duronas. Quando ela baixou os olhos e corou diante de suas boas-vindas, Soap se tornou obcecado. E assim, Price teve de aguentar seus gracejos com a pobre novata a manhã toda, até que o resto da equipe resolvesse se juntar a eles. Agora, como se vivesse um pesadelo, Price esfregava a ponte do nariz entre o polegar e o indicador, cansado e já estressado com a negação insistente de Ghost.
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Bombas explodem perto demais, estremecendo o chão sob suas botas. Ghost ergue um pouco o tronco e espia sobre o carro de onde se esconde, mais inimigos se aproximam pelo vale à direita, tentando cercá-los. Soap e Gaz tentam abater todos que caem na armadilha, afunilando as forças inimigas que avançam como uma horda raivosa. De longe, Price os cobre com seu fuzil de alta precisão, disparando tiros certeiros em momentos fatídicos de quase morte. Ele sequer consegue contar quantas vezes houveram "quase mortes", e temia não chegar ao fim do dia para contabilizar aos risos sob uma rodada de cervejas com os rapazes. Respirando pesado, ele se força a erguer a arma mais uma vez, debilmente a apontando na direção oposta do campo. Seus disparos já não estão mais tão precisos e ele sente a ponta dos dedos formigarem contra o gatilho. Uma voz esganiçada grita seu nome de longe mas ele não vira, leva alguns minutos até que algo pesado o puxe de volta para trás da cobertura quando dois projéteis cortam o ar bem acima de sua cabeça. — Porra, Tenente! Seus olhos encontram os vincos preocupados na testa suja de camuflagem, um par de olhos enormes e assustados o encaram com uma raiva que beira o materno. Malu correu até ele, atravessando um campo aberto sem hesitar. Se o furo na lateral de seu corpo não estivesse cuspindo sangue com tanta vontade, ele com certeza sentiria uma pontinha de comoção. E pensar que havia repudiado a ideia de ter alguém tão vaidosa na equipe. Ela era a mais insana de todos eles, beirava a imprudência, e não era a primeira vez que fazia isso. Desde suas primeiras missões com a 141, Maria Luísa cuspia na cara da morte para manter seus parceiros a salvo. E com Ghost não seria diferente. — Vamos sair daqui — ela berra enquanto derruba homem atrás de homem, mal respira enquanto recarrega o fuzil e dispara outra rajada rápida. — Coelhinha... Ela o ignora, tirando uma granada de estilhaços do colete e arrancando o pino com os dentes antes de lançar ela dentro do prédio a esquerda, onde um franco-atirador se posicionava. Seu grito agonizando foi suficiente para ela. Ghost puxa sua mão, obrigando-a a se abaixar perto dele. De joelhos, Malu evita olhar para o ferimento que deixa uma poça de sangue sob o traseiro do seu tenente mas não consegue. Ghost prende seu rosto entre as mãos e ela engole em seco. — Eu preciso que recuem. — Nem fodendo, Ghost. — Não discute comigo. Irritada, Malu se desvencilha dele com força demais e cambaleia para trás. Ele não pode desistir agora, o reforço está quase aqui, ela simplesmente não vai permitir. É apenas então que ela se vira com olhos determinados e a respiração ofegante, clica no comunicador preso em sua orelha e praticamente late as ordens. Nem fica um pouco surpresa quando todos a obedecem. Enquanto Price continua lhes garantindo cobertura, Gaz e Soap se rearranjam para cobrir apenas a área que eles precisam usar para correr, atirando enquanto recuam. König permanece destroçando quem quer que tente surpreendê-los vindo pelas laterais e de dentro das ruínas dos prédios. E Malu, sabe-se-lá de onde, arranja uma força quase sobre-humana para erguer Ghost contra seu ombro e servir de âncora para o enorme soldado apoiar grande parte do peso enquanto correm para longe dali. Tudo parecia ir bem, eles estavam conseguindo conter os inimigos e se afastar em direção aos reforços e ao carro que os tiraria dali e levaria para o ponto de extração. Mais algumas passadas e Ghost estaria seguro. Price o obrigaria a tirar alguns dias de folga depois de perder tanto sangue, mesmo que ele reclamasse quanto a isso. — Vamos lá, o carro está logo ali. Ghost sente Malu tropeçar e quase vai ao chão sobre ela, mas de alguma forma conseguem se manter até ela praticamente jogá-lo sobre o assento do jipe. Após se certificar que ele estava dentro do veículo, Malu voltou alguns metros para ajudar Soap e Gaz a chegarem ao carro, descarregando praticamente toda sua munição na última leva de homens que surgiam por todos os lados. — Coelho! Anda logo, garota — Price grita para ela através do comunicador. Malu rosna mas atira uma última granada antes de se virar e correr. O motor do jipe ruge de volta a vida e Soap está manobrando quando ela estica o braço para se içar até o assento. Alguns tiros atingem a lateral blindada mas somem assim que deixam o campo para trás. — Isso foi maluquice. Quem reclama primeiro é Gaz, do banco da frente. Mas ninguém dá atenção. Todos estão no limite da adrenalina, sem fôlego e sem forças, inclusive Malu, que finalmente fecha os olhos e respira fundo, apertando a mão contra a barriga. — Como o Ghost tá? — Soap questiona, os observando pelo retrovisor com olhos preocupados e ansiosos. — Deixa só eu me recompor e eu já dou uma olhada nele. Gaz franze as sobrancelhas ao ouvir a voz dela tão fraca e trêmula, virando-se no banco, ele engole em seco, murmurando "merda" alto o suficiente para que o próprio Tenente, zonzo pela falta de sangue, o escutasse. Malu está com a mão livre caída ao lado do corpo, a mesma com que antes segurava a barriga para esconder a enorme mancha de sangue que cada vez crescia mais do ponto escuro em seu colete. — Estou bem. — Coelhinha... — Eu tô bem, caralho.