Acidentes não acontecem

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Eu parecia estar sufocando, me faltava o ar, tinha plena consciência que estava sendo atacada, intimidada, ameaçada. Minha mente a encarou de uma maneira completamente diferente, de uma desconhecida imponente agora ela era uma ameaça, minha inimiga declarada.

— Ele nunca falou de você. - fui mais firme que consegui.

— Não estou surpresa. Ele tem esse jeito não-verbal... ele prefere por nas músicas o que sente, ao invés de falar, trata tudo com tanto desdém, como se não se importasse, das coisas mais importantes nunca fala. - mas ela não se intimidou, pôs finalmente o cão no chão que parecia envenenado.

Meu corpo sabia bem o porquê aquela sensação ruim agora, o ar era pesado, ela tinha mesmo um peso por onde passava que contaminava tudo ao redor, eu me sentia infeliz, impotente, me sentia inferior.

— Mas não se preocupe, Angel...

Eu? Preocupada? Imagina, eu quero lutar capoeira na sua fuça.

Nós dois não temos mais nada, você pode se divertir com as noites de leitura, os presentes caros, e aquela língua tecnológica...

Filha da...

— Com o sexo em todo lugar e a toda hora... eu vim só avisar que estamos comprando ações da Coway e em breve vamos trabalhar juntas.

Holly se aproximou de mim, deitando-se no meu pé, quase pedindo socorro, e com essa frase ela deixou minha sala.

Eu tinha uma faca em uma guerra clara de armas de fogo.

Ela tinha destruído tudo em poucos minutos: minha confiança, minha segurança, meu autocontrole, ela tinha levado como uma avalanche, meu reinado tinha durado poucos meses. Peguei Holly no colo o abraçando com tudo que tinha me sobrado da batalha perdida.

O que eu podia fazer?

Eu não tinha nada contra ela, mas ela tinha tudo contra mim, o dinheiro, a manipulação, o passado, a inteligência, a beleza, o berço, o idioma perfeito. Se eu perdesse tudo que tinha lutado até ali, não me sobraria mais nada. Enfiei meu rosto todo debaixo da torneira da pia, tentando acordar, foi quase uma enchente no escritório, logo depois juntei tudo que tinha e saí pela porta sem explicar nada a ninguém. Desci doze andares de escada com medo de encontrá-la em qualquer un deles ou no estacionamento e atravessei a rua carregando o cão indo pegar o metrô até a casa de Yoongi.

Não podia ser tudo falso ou era?

A festa, o beijo na sacada, o karaokê de sua tia, a viagem, o urso, o descontrole, as mãos dadas dentro do carro. Era tudo falso? Holly correu assim que viu sua própria casa mas eu demorei um tempo para ir até o elevador, ele estava lá, tudo estava no lugar como todas às vezes, a moto, o carro, os capacetes, mas quanto daquilo ela também tinha vivido?

Os dois banheiros. A cama.

Parecia que ela estava em todos os lugares, me vendo, me julgando, me rebaixando.

— Yoongi... o quê você tá fazendo?

Como se nada importasse ele tinha uma escada no meio da sala e estava pendurado nela.

— Nossa, que horas... eu tô tentando... trocar essa lâmpada...

— Não é melhor... você... chamar alguém pra isso? - eu tentava raciocinar mas não conseguia, pelo menos eu estava mais calma.

— Não. - ele disse segurando a chave de fenda no ar. — Eu faço.

— Seu ombro?

— Tá ótimo, o que foi com o Holly?

Destiny • Yoongi (02) [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora