capítulo dois.

34 5 12
                                    

No dia seguinte quando Cecília acordou foi direto para o quarto de madame Elvira, iria suplicar para poder fazer um show essa noite. Madame Elvira não permitia que Cecília fizesse show todas as noites, temia desgastar seu pote de ouro no fim do arco íris.
O quarto da velha era o maior de toda a casa, tinha diversas quinquilharias espalhadas pelo cômodo inteiro, no nervosismo Cecília se embolava na cortina de miçangas e tropeçava em alguns cacarecos jogados no chão.
Elvira já estava acordada, penteava seu longo cabelo loiro diante da penteadeira, chegou a levar um susto ao ver Cecília tão cedo em seu quarto

- Minha estrela? O que está fazendo aqui? Ainda mais a essa hora? - ela deixou o pente sobre a mesa e se virou para a jovem ainda de pijama e despenteada. Cecília se sentou na cama ao lado da penteadeira, com uma voz manhosa e uma carinha de cachorro sem dono começou a falar.

- Madrinha, será que posso fazer um show a essa noite?
- Você sabe muito bem quais são seus dias, e quais são as regras, estrelinha. Minha casa não é bagunça.
- Eu sei madrinha, sei que preza pelo meu bem, mas entenda, farei com que a senhora ganhe o dobro do que ganhou na noite passada, estou disposta e energética, farei um show melhor que ontem.

Não é muito difícil convencer Elvira, considerando que ela é praticamente o seu Sirigueijo de calcinha, basta falar em dinheiro e ela repensa suas idéias.

Cecília tinha conseguido a aprovação da sua madrinha e iria se apresentar mais uma vez, Obviamente essa empolgação tinha um motivo, e o motivo tinha nome e sobrenome, bem, embora sejam desconhecidos até o momento. Cecília mal tinha dormido pensando no tal homem e acordou novamente com o pensamento nele, talvez estivesse começando a ficar um pouco obcecada, mas um pouco de paixão platônica não faz mal, não é mesmo?

Ela passou o dia ensaiando músicas, dançando, se maquiando e fazendo tratamentos de pele, estava confiante que o misterioso homem estaria lá novamente, e em sua mente fértil, tinha a certeza que ele estaria lá para vê-la

Ao se aproximar da hora de se apresentar Cecília correu para o camarim, ela tinha uma beleza natural mas queria estar impecável, Cecília sempre teve os mais belos vestidos, e naquela noite queria caprichar. Sendo assim, se apossou de um longo vestido vinho, que tinha alguns ramos de flores feito de renda preta, completamente detalhado e com algumas lantejoulas, não abandonou o batom vermelho e adotou duas argolas brilhantes que se destacavam dentro dos cabelos pretos.

Ao terminar de se arranjar, Cecília entrou no palco. Ele estava lá. Foi a primeira coisa em que ela viu. Não desviou o olhar e não se sentia nervosa, pelo contrário, se sentia confiante. Cantou " You don't own me" de Lesley Gore, e não teve medo de olhar para o tal homem enquanto cantava, na verdade, só tinha olhos para ele durante a performance inteira. Ele a encarava, com um cigarro entre os dedos e os olhos vidrados, sequer piscava, não perdia um segundo do espetáculo de Cecília.

E quando o show terminou, e o globo espelhado saiu de cena, ela não voltou para o camarim, e ele também não foi embora, de certa forma, acredito que ele já esperava por ela, sabia que ela iria aparecer, e gostando ou não, o destino desses dois já estava traçado, e não se podia fazer nada para impedir.

Ele bebericava um copo whisky, e ela se sentou ao lado dele. O homem chamou o bartender e cochichou algo em seu ouvido, o rapaz atrás da bancada saiu e pouco tempo depois voltou com uma taça de martini, deixou a bebida na frente de Cecília e saiu.

- Espero que goste. - A voz rouca do homem saia com bastante confiança.

- Um clássico, eu diria.

- Não quero prejudicar sua voz com qualquer bebida.

- Realmente, não aceito qualquer coisa.

- E por acaso aceitaria vir comigo essa noite, ou vai fugir mais uma vez ? - Ele falava com um sorriso ladino

Cecília se virou para o homem. Odiava que achassem que ela era como as outras, sabia que era impossível que não achassem que ela era uma garota de programa, vivia em bordel, afinal, mas não era prostituta, era artista.

- Não sou uma das moças, estou aqui pra cantar. Se é isso que você procura, deve tentar com outra garota. - Apesar do desejo que sentia pelo homem, não iria deixar que ele achasse que ela era uma prostituta. Amava cantar, e gostava de ser reconhecida como artista, perderia o homem mas não feria o próprio orgulho e ego.

- Não quero outra garota, e nem estou aqui para ter uma prostituta, quero você.

Cecília sentiu um arrepio na nuca, os olhos do homem eram como portais, ela se perdia dentro deles e não sabia a resposta para o que sentia, sequer sabia responder e retribuir o flerte. Ele o deixava nervosa e sem palavras.

- Espero encontrar você amanhã novamente, caso tenha pressa, o convite não tem data de validade - O homem levantou-se da mesa e cumprimentou Cecília com um beijo no rosto, ao sair, deixou um cartão de visitas ao lado da taça de martini.

Vicent De Luca. O cartão deixava o nome e um endereço, agora ele não era desconhecido, Cecília sabia onde encontrá-lo.

Subiu para o quarto, tomou um banho e refez toda a noite em sua imaginação. Vicent De Luca. Pensou no nome do homem e sorriu como uma adolescente apaixonada, novamente se sentia ansiosa pelo amanhã. Estava completamente boba como se fosse a primeira vez em que estivesse apaixonada. As borboletas em seu estômago estavam voando como nunca tinham voado antes.

Mirrorball.Onde histórias criam vida. Descubra agora