capítulo quatro.

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- Cecília, pode me ajudar a cuidar do bar hoje?

- Claro, desço assim que terminar aqui.

- Tá bom, estou te esperando.

Isis era praticamente a única que tinha uma amizade com Cecília, na verdade, não chegava a ser uma amizade, mas era a única que via Cecília como um ser humano qualquer, como uma outra garota dali, que também era explorada e não como um produto na vitrine.

Durante a semana a luz do luar ficava fechada, somente o bar ficava aberto para receber alguns bêbados perdidos, e as moças revezavam o posto de quem ficaria atendendo e limpando. Cecília e Isis estavam sempre juntas em dias como esse, conversavam pouco, de vez em nunca, mas ainda conversavam, o diálogo mais longo que Cecília poderia ter naquela casa fora com sua madrinha, era com Isis.

Enquanto estavam repondo garrafas de bebida, limpando o balcão e varrendo o chão, em completo silêncio, Isis decidiu quebrar o gelo.

— Ceci, você está namorando?

— Claro que não, da onde tirou isso?

— Vi você conversando com um cara no bar esses dias atrás, não costumo te ver em momentos assim.

— Só estávamos conversando.

— E você quer ele?

— Sabe, Isis, me sinto diferente com ele, sinto como se fosse uma adolescente tola e apaixonada, vi ele no máximo três vezes e estou completamente obcecada, passo o dia todo pensando nele, já tive outras obsessões mas sinto que com ele existe algo diferente.

— Não acha que ele é velho de mais pra você Ceci?

— Não acho não.

— Tá...e você já beijou ele pelo menos?

— Não! E isso está me matando, honestamente.

— Ai Ceci, boa sorte, os mais velhos são os piores.

— Talvez ele seja diferente.

— Se isso te faz dormir à noite... — Isis disse e saiu arrastando o carrinho de limpeza para os fundos deixando Cecília sozinha atrás do balcão.

No fundo Cecília sabia que estava fantasiando um homem que não existia, afinal, se ele fosse tão perfeito assim não estaria em uma casa de prostituição disfarçada de salão de festa, mas queria acreditar que ele seria diferente, diferente de todos os outros, o homem que não seria mais um nojento e asqueroso, no fundo Cecília só queria acreditar na possibilidade de viver um sonho sendo como as garotas de novela, viver algo que nunca viveu, uma pessoa que a lhe respeitasse, que pudesse lhe amar como nenhum outro ser humano jamais lhe amou, que a visse em sua forma mais pura e não somente como um objeto, no fundo Cecília só queria ser verdadeiramente amada.

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Quando terminou de limpar subiu para o quarto, preparou um banho quente e na banheira colocou algumas pétalas de rosa, umas borrifadas de "Hypnotic Poison" seu perfume favorito, artemísia, cravo e hibisco, dizia repetidamente baixinho "atração, sedução e amor, a paixão me renderá". Pensava em Vicent, e pensava que naquele momento ele já era dela, não tinha mais pra onde correr, Cecília queria Vicent, e se era esse o seu desejo, ele iria se realizar, pelo bem, ou pelo mal.

Não iria se apresentar hoje mas não era por esse motivo que deixaria de ser o centro das atenções, seu vestido era branco e ficava bem acima do joelho, tinha um decote em "V" e mangas longas meio largas, prendeu metade do cabelo em um laço perolado e se mantinha em um salto quinze preto, estava radiante com as joias enlaçadas no seu pescoço e nas mãos, sabia que iluminaria a noite e estava confiante.

Atendeu um pingo de clientes, e estava séria, sua noite estava completamente tediosa e estava até mesmo estava arrependida de ter aceitado ajudar Isis. O movimento era fraco, foi para o outro lado do balcão e se sentou bebericando uma piña colada que ela mesmo tinha preparado, no tédio brincava com a decoração do copo e não notou quando Vicent chegou.

— Não sabia que além de cantora também era bartender. — Ele havia chegado na surdina, puxou uma cadeira ao lado de Cecília e falava com a sua voz rouca e inconfundível, sorria e  olhava Cecília de cima a baixo.

— Sou muito mais do que você imagina. — Apesar do nervosismo conseguiu falar sem gaguejar, ficou um pouco assustada ao ver ele ali, do nada, mas não se importou, pelo contrário, gostava da companhia dele.

— Vim até uma boate vazia em plena terça-feira à noite somente pra te ver, sabia disso?

— Não, não sabia. Mas já que está aqui, não pode dá viagem perdida, não acha?

— Concordo com você. — Os dois sorriam um para o outro e ali o querer deles era quase que palpável. Cecília levantou e segurando a mão de Vicent o levou para o quarto, a partir dali as chamas do inferno começaram a queimar dentro deles e se alastrava por todo o cômodo, percorrendo seus corpos da cabeça aos pés a luxúria se espalhava pelo ar.

As borboletas no estômago de Cecília Grant voavam de um lado para o outro totalmente desnorteadas a cada toque de Vicent, as mãos ásperas do mais velho ia de seus cabelos até  o comprimento de seu corpo e todos os movimentos dado por ele faziam com que Cecília estremecesse, sentia algo que nunca havia sentido antes, estava totalmente entregue e não iria se contentar somente com uma noite, ao menos sua vontade era recíproca, o tempo passava, os beijos ficavam mais fervorosos e o anseio de Vicent apenas aumentava cada vez mais, mais e mais.

A noite foi longa, deitada sobre o peito de De Luca, Cecília sentia como de estivesse no seu paraíso particular. Quando amanheceu, ficou um tanto magoada ao não ver o mais velho na cama, sua mágoa foi embora ao ver um bilhete sobre a mesa-cabiceira. “Jantar comigo amanhã às 21:30. Adorei a noite ao seu lado, minha Sirius.”

"Minha Sirius?" Ela se perguntava, apesar da dúvida, adorou o "minha". Com tanta felicidade pulou da cama, nunca tinha acordado tão feliz em tantos anos vivendo naquela casa, estava radiante e cantarolava pelos corredores, recebia alguns olhares de canto mas estava feliz demais para se importar com isso, estava tendo o que queria e somente isso importava, suas expectativas subiam e sem perceber se prendia em suas fantasias, cada vez mais se afundando nessa paixão que antes platônica agora obsessiva, amor de mais pode levar a loucura?

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