PRÓLOGO

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Nunca sairia dos confins da prisão monocromática que o cercava, Elliott sabia disso. Seu corpo frágil necessitando ser preenchido de medicamentos para suportar a mínima ação de andar. Um corpo que o falhava mesmo após se tornar um adulto.

Talvez, Elliott em alguma vida passada tenha zangado algum deus. Isso explicaria os infortúnios que o perseguiam tal como o antagonista perseguia o vilão. Seus irmãos cresciam mais velhos e saudáveis, enquanto ele continuava a apodrecer nas camas de hospitais que cheiravam a desinfetante. Uma puta sorte dos desgraçados, se perguntasse a ele.

Porém... entre tantos infortúnios, também vieram as pequenas bençãos. Cabelos morenos descansavam em seus ombros enquanto seu olhar encontrava a capa dourada de um livro em seu colo, a suave brisa da janela trazendo leves movimentos nas cortinas beges em seu quarto.

Arlo Elliott havia tido a proeza de ter nascido como o terceiro e último filho de pais sucedidos, tendo a ajuda financeira para viver tranquilamente em alguma ilha sendo cuidado por mordomos e viver a vida tranquilamente como desejasse.

Claro. Isso teria sido seu plano A se não fosse por um pequeno problema, seu corpo.

Elliott já havia passado do tempo em que continuava a chorar em suas almofadas como tudo aquilo era injusto, seus dias nesse maldito hospital não terminariam milagrosamente por chorar ou suplicar. Porém, uma pequena parte de si ainda se perguntava o porquê de sua família ter o deixado viver em tal situação ao invés de apenas desistir.

Teria sido uma escolha melhor, ao invés de deixá-lo sofrer sozinho em uma cama de hospital, apenas o deixando envelopes de cartões recheados de dinheiro que ele não poderia usar além de comprar coisas pela web.

E em meio a pelúcias, troféus e quebra cabeças que rodeavam seu quarto, tinha seus livros. Cuidadosamente organizados em fileiras em uma estante de madeira escura, tendo em si diversos temas.

Um hobby que nunca pesou em sua conta, ao contrário dos inúmeros cursos que poderiam ser ensinados para uma criança presa em uma maca de hospital. O que importava era que seu querido Arlo conseguia passar com pouca dificuldade, os troféus provavam isso.

Nunca podia fazer muitas coisas enquanto os insuportáveis professores iam embora, então, sua distração havia sido os livros infantis que o hospital fornecia para crianças como ele, uma forma de distração bem sucedida.

Recordava da primeira vez em que seus olhos avistaram cabelos ruivos e olhos claros adentrarem a porta de seu quarto privado. Uma voz suave lendo verso após verso de fantasias infantis, tentando fazer seu pequeno corpo continuar acordado para ouvir o final da história.

Sua face determinada era recompensada com uma risada melódica, juntamente com mãos quentes que acariciavam o topo da sua cabeça enquanto, em meio a risadas, lhe pedia para dormir. Algo que Elliott rapidamente fazia enquanto abraçava uma de suas pelúcias.

Elliot se lembrava do dia em que o contrato da mulher havia sido terminado, após anos observando e cuidando do mesmo garoto doente em uma sala de hospital privada, sabia que chegaria o dia de dar adeus aquela mulher. Mesmo assim, não conseguiu manter seu bravado após a porta se fechar.

Foi uma surpresa agradável quando as cartas começaram a deslizar por debaixo de sua porta, figurinhas coloridas e desenhos coloridos cuidadosamente no papel enquanto uma fita colorida a mantinha fechada.

Elliott descobriria pela mesma que Margareth preferia o sentimento de enviar cartas detalhadas ao invés de Mensagens sem vida que demorariam apenas segundos. Pelo menos, era isso que sempre o dizia por entre cartas. E, Elliott, com pena de as jogar fora, as deixava guardadas em um pequeno baú ao lado de sua cama.

A mulher havia sido um pilar na vida de Elliott, alguém que, se nunca tivesse entrado em sua vida, não teria lhe dado a força necessária para se manter estável nos seus momentos difíceis.

Seus esforços eram reconhecidos após terminar um cálculo difícil ou uma pergunta sobre algo que não entendia, abraços facilmente aquecendo o pequeno corpo contra si enquanto lhe trazia um pequeno lanche ou doce. Elliott conseguiria viver bem sem seus pais ou irmãos ao seu lado, contato que continuasse tendo Margareth.

Mesmo que não fosse sua intenção, a mulher havia se tornado sua figura materna para ele. E porra. Ela fez um ótimo trabalho.

"..." Hoje seria o aniversário de sua filha... não seria? Elliott se perguntou enquanto seu olhar se prendia a uma fita azul que decorava um vaso de flores em sua mesa.

Seus materiais de escrita, juntamente com uma caixa de bombons e um coelho de pelúcia prontos para serem embalados e entregues a pequena pirralha com os mesmos cabelos ruivos que começou a lhe visitar com sua mãe apenas alguns anos antes. A mesma sendo uma das razões pelas pelúcias que estavam em sua cabeceira.

Com um suspiro, Elliott havia começado a se levantar, seus braços lhe dando o equilíbrio para mover seu corpo e permitir que seus pés tocassem o chão frio do quarto, a ação ousando lhe cansar enquanto ouvia seus joelhos estalarem. Um franzir foi direcionado para seus pés em frustração antes de finalmente se levantar em um passo determinado.

Em apenas alguns passos para mesa, o abrir de portas fez com que ele parasse e olhasse pelo seu ombro.

Apenas para avistar a figura de um homem velho em sua porta, sua mão ainda na maçaneta.

Ele parecia preocupado. Seu peito subindo e descendo em respirações rápidas enquanto suor descia pelo seu queixo e se misturava com sua barba. Elliott revirou seu corpo, consciente em não deixar suas costas expostas para um homem desconhecido.

"Temo que entrou no quarto errado." Elliott disse enquanto endireitava sua postura, se sentindo estranhamente defensivo enquanto sentia o olhar do homem viajar pelo seu corpo, fazendo sua postura se tornar tensa e seus pelos arrepiarem.

Mesmo com as falas de Elliott, o homem parecia não o ouvir, suas respirações longas e agudas, como se estivesse se engasgando ao respirar. Tal aparência fez o rosto de Elliott a franzir em desgosto, suas mãos formando punhos ao seu lado. Não gostava da forma em que os olhos daquele homem pareciam vidrados em si.

"Peço que se retire antes que eu chame os seguranças." Disse em um tom firme, sua paciência finalmente se esgotando enquanto o homem parecia engolir sua própria saliva. Olhos loucos finalmente deixando seu corpo e se prendendo em meio aos seu olhos, o encarando.

Passos apressados foram ouvidos por Elliott perto do corredor onde seu quarto estava, seu olhar sendo direcionado para o corredor atrás do homem em alerta. Que caralhos tá acontecendo?...

Com leves movimentos, Elliott buscou atrás de si sua tesoura, a segurando atrás de si enquanto o homem tomava um passo para frente, entrando no quarto.

O barulho de passos chegando perto do quarto parecia finalmente acordar o homem de sua hipnose, e em um piscar de olhos, Elliott via uma arma apontada para si, a mão do dono tremendo enquanto sua respiração se tornava frenética.

Seu corpo havia paralisado, seu aperto na tesoura se tornando doloroso enquanto seu olhar não conseguia deixar a arma que estava direcionada a si, seus olhos se alargando em terror enquanto vozes se tornavam mais altas nos corredores do seu quarto.

Quando Elliott viu o familiar uniforme de um dos seguranças chegar perto do homem, um disparo ecoava pelo quarto e corredores, um grito de uma das enfermeiras perfurando seus tímpanos enquanto a bala atingia seu pescoço.

O frio do chão quase não podia ser sentido pela queimação que viajava por entre agonia em sua garganta e pintava suas vestes brancas. Suas mãos sendo tingidas pelo vermelho enquanto o gosto metálico se prendia ao topo de sua língua.

Por pouco, não sentiu mãos desconhecidas pressionando seu pescoço enquanto seu corpo se tornava complacente ao perder de suas forças, suas mãos se tornando fracas.

Elliott estava com medo.

Arlo não conseguia respirar.

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