Capítulo 1: Trevas e Luz

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  Uma escuridão me cerca, meus olhos estão obscurecidos pelas trevas que me rodeiam. Eu nada posso sentir, nada posso ver, no entanto, uma coisa posso ouvir, são as batidas do meu próprio coração que reverberam sem parar, penso que seja o eco provocado pelo vazio que nesta escuridão contém.

  Meus músculos, que antes estavam adormecidos, agora fazem-me sentir o chão gelado qual estavam levementes entregues em total calmaria encobertos pela escuridão que me cerca. As pequenas pedras parecem alfinetes em meus braços e pernas nesse chão gelado. Finalmente um ponto de luz pode ser visto ao longe. Eu estou em uma caverna fria, suja e escura.

  A última coisa que me lembro é de ser pego por um cinturão de asteróides e cair neste planeta - ou seja o lugar que eu esteja. Minhas memórias parecem intactas. Eu estava me preparando para testar minhas invenções até que deu certo - até demais por assim dizer. Consegui alcançar a velocidade da luz através do Éter, rompi a barreira do espaço e do tempo, quando aquele cinturão de asteróide estava me aguardando silenciosamente. Isso foi inesperado. Choquei-me com o cinturão e agora nem sei mais onde estou. Me lembro de ter-me refugiado nessa caverna. Nem sei como meus pés me trouxeram até aqui. Acho que perdi meu acelerador de partículas nessa viagem. Preciso encontrá-lo. Antes, devo averiguar minha Máquina de Rompimento, preciso de medicamentos.

  O desconhecido esta fora, eu tenho medo, não quero morrer, mas minha máquina está, então me levantar desse chão gelado e ir, sem dúvidas a melhor escolha.

  Estou cansado. Lembrei-me do meu gato, será que alguém vai cuidar dele? Será que alguém vai se lembrar? Não sei. Sinto que não devia ter feito isso. Maldito homem que sou. Minha família é eu e meu gato; ele pode morrer de fome. Por que me refugiar sob o ímpeto dos meus desejos no meu achismo; do meu próprio entendimento e invenções? Será que é certo o que eu fiz? Será que E=Mc ao quadrado foi uma boa descoberta?

  Enquanto devaneios como esses permeiam a minha mente sobre tais coisas nem percebo o quão perto de sair da caverna estou. Ao passo que vou para fora meus olhos quase cegaram-me com tamanha luz quando saí daquela distinta caverna escura. É tudo tão claro que meus olhos ardem como quando olha-se para o Sol. Não existem nuvens, não existem céus azuis. Tão alvo quanto a neve e o algodão, é assim os céus. É tudo tão vasto e vazio. Não vejo árvores, montanhas, casas, animais ou pessoas. Não existem flores com cores vibrantes enfeitando a mãe natureza. A única cor visível é a simples cor branca.

  Algo pode sim ser avistado neste branco vazio. É a minha Máquina de Rompimento. Eu preciso saber onde estou.

  É admirável este lugar. Não têm vida nenhuma aqui, mas estou vivo. Até a terra deste lugar é tão branca como a neve. Isso é um planeta?

  Talvez eu deva voltar para casa. Cuidar do meu gato, ouvir seu ronronado, acariciá-lo, viver pacificamente com ele, como eu vivia; continuar trabalhando, terminar meus estudos e se tornar um cientista brilhante. Tudo isso parece promissor demais para mim; acho que estou longe demais para isso.

  Minha mais nova invenção - talvez a única no mundo - me levou para bem longe de casa. Uma Máquina de Rompimento do tempo e espaço. Essa foi a minha forma de fugir das obrigatoriedades da vida. Cada peso, cada fardo emocional foi embatido pela minha fuga; por fugir das minhas responsabilidades naturais.

  É verdade o que dizem: toda ação têm uma consequência; e creio que antes de toda consequência há uma causa. As causas de qualquer consequência que eu receba certamente são motivadas por minhas ruins e mortais más ações e escolhas. Não posso culpar alguém, nem meus pais, muito menos Deus, pois eu sou o culpado. Nem lembro mais qual a última vez que caíram lágrimas dos meus olhos. É tão bom senti-las escorrer pelo rosto. Talvez as janelas da alma sejam mesmo os olhos.

  Após secar minhas lágrimas, lá estava ela, bem ao lado. O Sol e seu reluzente reflexo brilhava como lanternas em um espelho em uma das partes metálicas da Máquina. Chegando mais perto, ao entrar nela, foi então que percebi: está faltando algo - pensei. Não é mais uma possibilidade como pensava, o Ominidío, um dispositivo que forças necessárias para a Máquina mover-se entre o cosmos do espaço e do tempo foi perdido em meio a isso tudo; eu perdi o acelerador de partículas. Então me dei conta que não estava em um planeta, mas em algum lugar entre o tempo e o espaço; em algum lugar entre a realidade e a irrealidade. Instantaneamente peguei meu navegador interestelar de pulso e me preparei para explorar esse lugar à procura do Ominídio.

  Com as forças que ainda me restam arrastar a Máquina de Rompimento e esconder é algo à se fazer. Na mesma caverna que me refugiei da morte e do cansaço refugiarei minha Máquina.

  Sem perceber já havia escondido a Máquina de Rompimentos na caverna envolto pelas trevas que me protegera outrora.

  Eis que dois inimigos devoradores chegaram, minhas entranhas corroiam por dentro, um vazio me consumia. Com a Máquina eu levei 8 horas e meia para chegar até aqui, não seria normal se a fome e a sede não surgissem assim. Nem o cansaço, nem o ar ou o acidente me abateram tanto como a fome e a sede me abatem agora. Meu corpo está pesado e caindo estou. A poeira envolta causada por minha queda me submete a possibilidades de estar inconsciente e caído outra vez. Eu não sei o que poderia acontecer se desmaiar outra vez.

  As sementes da Árvore Viva quais estam em meus bolsos podem me salvar, mas até para colocar minhas mãos nelas não tenho força alguma. Talvez eu morra aqui mesmo.

  Então milagrosamente, uma das sementes escorrega de um dos bolsos e encosta levemente na terra seca no interior daquela caverna, cujas trevas deixam de ser trevas após o feixe de luz que vem de sua entrada se mostrar, sem perceber talvez algo esteja prestes a acontecer. O suor que escorre pelo meu corpo causados pelo esforço físico de mover a Máquina e de querer estar vivo cai na semente qual estava sobre a terra, fazendo surgir uma imensa árvore no mesmo instante, cheias de frutos. Nesse momento, o último impulso de adrenalina antes da possível morte que severamente viera me buscar, me dara forças o suficiente para levantar-me e me fazer agarrar um dos suculentos e poucos iluminados frutos naquela árvore no âmago da imensa caverna.

  Por um momento quase pensei cair inconsciente outra vez. Lembrei-me da antiga história de João e o pé de feijão. As mordidas daqueles frutos me repararam as energias e vitalidades; levarei comigo uma boa quantidade desses frutos e suas respectivas sementes, certamente que isso me ajudará nessa jornada qual me empenharei.

  Estou vivo!

  Estou vivo!

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2023 ⏰

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