MODO

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TUPAC

"Tô falando, meu mano. Ele era X9." K fala na nossa ida pro meu trabalho pra buscar meu salário.

"Qual foi K, cê acha mesmo que ele ia ser burro assim? Ele tá sabendo como é."

"Sei não, Pac. Esse mano não me engana." Ele fala e dou uma leve risada por causa dessa crença dele.

Há algumas semanas, um mano conhecido aqui, chamado de Dro, tinha saído da prisão. Ele tinha sido preso uns 3 anos atrás por matar um PM num assalto e recebeu uma pena alta. Mas, do nada, esse mano apareceu de volta e tem umas pessoas que acha que ele é X9, pra sair tão rápido assim.

Eu também tinha minhas dúvidas que o cara tinha feito alguma coisa pra poder sair depois de ter matado um polícia, mas ele já tava nisso faz tempo pra ser tão burro assim.
Ele, junto com outro mano chamado Ali, comandavam grande parte do Harlem.

"Você não sabe nem do que tá falando." Falo assim que entramos pela porta da pizzaria, percebendo que ele não tinha dado bola. "E aí, Senhor Chang. Como o senhor tá?" Falo pro mais velho que estava no caixa e direciona um olhar surpreso pra mim.

"Tupac. Pensei que fosse vir só amanhã com essa demora." Ele fala, buscando algo embaixo do balcão, enquanto me segura pra não fazer mais nada além de revirar os olhos. "Aqui." Ele diz, me dando o envelope que tinha o dinheiro e vendo minha expressão confusa ao abrir. "Esse mês o movimento ficou meio parado, não teve tanta clientela. É o que rendeu." Ele fala, observando minha expressão de indignação e mais uma vez me seguro pra não me frustrar.

Eu fazia coisas que nem eram minha obrigação, entregava pedidos enquanto tinha que ficar no caixa, ajudava a fazer os pedidos às vezes e esse mano vinha dá dessa pra cima de mim. Certeza que a parte dele rendeu mais do que devia.
Eu recebia 520$, enquanto o cara que faltava toda semana recebia 780$.

Tô cansado dessa merda.

"Beleza, senhor Chang. Até mais." Falo, nem esperando ele responder e saindo dali com Kastro.

"Caralho, Pac. Esse tiozinho tá tirando com sua cara."

"Esse mano é um folgado. Já tô cansado dessa merda. Preciso arrumar grana logo pra meter o pé daí."

Kastro percebe o quão frustrado eu tava, sem saber o que falar. Ele sabia que, assim como ele e o Yaki, eu precisava ajudar em casa. Depois das perseguições, dos federais com a minha mãe, ficou cada vez mais difícil dela conseguir algum emprego já que contratar uma ex-pantera era sinônimo de problema com a polícia.

"Aí lembra daqueles manos que te falei? Clifford e Omari?" Kastro pergunta, me vendo confirmar com a cabeça. "Eles vão ir pra festa da Ash e dá pra gente se acertar com o bagulho do concurso."

Depois que aceitei participar do concurso de rap, nóis concordamos que só eu, ele e o Yaki não ia render e que ainda faltava algo e Kastro me falou de uns manos que ele conhecia que, segundo ele, mandavam bem na rima.

"Firmeza, mas é melhor esses manos serem bons." Digo meio risonho, vendo ele balançar a cabeça rindo e daí me lembro. " E que porra é essa de você querer dá uma de KRS-One e Scott La Rock na festa da Ashley?" Digo, parando de andar e o encarando indignado.

"Mano, não é isso. Ela só não tinha quem ser DJ na festa dela e eu me ofereci e pá..."

"E me colocou no meio?" Digo voltando a andar, mas ainda confuso

"Irmão, cê sabe que DJ sem MC é igual MC sem DJ." Ele fala vendo minha expressão ainda mais confusa. " Você é bom, Pac. E eu só queria ver a mina feliz." Ele diz e eu o encaro, vendo que ele realmente tava falando sério.

LOVERS OF CHAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora