Prólogo

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Caden Carter

8 anos de idade

ANOS ANTES

Deitado em minha cama de barriga para cima, cobri o meu rosto com o cobertor e espalmei as mãos sobre os ouvidos, tentando limitar os gritos incessantes dos meus pais.

Eles falavam muito alto, discutiam sobre alguma coisa que eu não conseguia entender. A voz do meu pai se sobressaiu, me fazendo forçar os olhos.

Queria pedir para que parassem, mas tinha medo da reação de mamãe. Ela odiava quando eu interferia, dizia que jamais deveria me envolver em conversas de adultos.

-Você não pode fazer isso com o seu próprio filho, Elena. É baixo, até mesmo para você! - gritou papai.

- Não posso ficar aqui. Vocês estão atrasando minha vida! - revidou a mamãe.

Me encolhi diante das palavras ríspidas cuspidas por ela. Mamãe costumava reclamar disso para mim, então eu fazia algum desenho para tentar compensála, como um presente, um agradecimento por ser uma mamãe maravilhosa.

- Caden só tem oito anos. Precisa da mãe ao lado dele - retumbou a voz de papai, através da porta fechada do meu quarto.

Destapei o meu rosto e encarei as estrelas que brilhavam no teto, comprimindo os lábios em um suspiro. A claridade da luz do poste refletia através da janela, iluminando uma parte do meu quarto. Eu gostava disso, afastava os monstros.

- E eu preciso viver! - rebateu, e pude notar a dor em seu tom. - Não há um único dia que eu não me arrependa de... - calou-se, como se não pudesse continuar.

- De ter se tornado mãe? De Caden, o seu próprio filho? - continuou papai, cheio de nojo e ódio em sua voz.

Lágrimas molharam os meus olhos.

Queria que mamãe fosse feliz comigo, tentava ao máximo compensá-la, então por que ela nunca parecia gostar da minha presença?

As coisas pioraram depois que fiquei doente, no mês passado. Mamãe precisou ficar em casa comigo, pois não tinha ninguém com quem pudesse me deixar e não poderia ir para a escola queimando de febre. E, por conta disso, perdeu uma oportunidade de emprego que desejava muito.

- Sim, James, é exatamente isso. - confirmou, resoluta. - Não nasci para ser mãe. Ter tido Caden foi um erro, o maior atraso da minha vida. Não posso continuar nesta casa, preciso me livrar de vocês para que eu possa me realizar profissionalmente.

As lágrimas rolaram pelos cantos dos meus olhos, molhando o meu travesseiro. Eu só queria crescer logo, assim não seria um incômodo para mamãe. Se já fosse grande, ela não teria motivo para se preocupar comigo.

Ouvi um suspiro pesado.

- Então suma da minha frente, Elena. Se olhar para o seu próprio filho lhe causa tanta repulsa, é melhor que vá embora e nos deixe em paz acusou, cheio de escárnio. Meu filho não merece crescer com toda a sua amargura e desprezo por ele.

Um soluço baixo fez o meu peito tremer. Mamãe não gostava de mim. Ela me odiava, mesmo que eu tentasse fazer de tudo para agradá-la. Nada para ela era suficiente.

Virei de barriga para baixo e colei o rosto no travesseiro, abafando o choro para que não pudessem me ouvir.

Doía tanto. A dor era tão insuportável que parecia que eu estava doente outra vez.

Por que mamãe não podia ser como a mãe de Aiden, carinhosa e amável? Ou como a mãe de qualquer outro dos meus amiguinhos. Ela não ia às minhas apresentações, nem se importava com os trabalhos que eu fazia para ela. Na maioria das vezes, mal olhava para mim, e quando o fazia, era sempre rispida.

O Professor Arrogante - Bianca Pohndorf [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora