Você Pertence A Mim

Capítulo 2 - A Mensagem

CAPÍTULO 2 – A Mensagem
POV EMMA
*PRESENTE*

People always trying to take a bite out of my mind
If you need a fight, maybe we could start
I feel I might just be coming undone
Tell me why you can't be found?
It's so unreasonable, I know you
Love is a difficult life
(Found – Tems feat Brent Faiyaz)

Sentada na varanda do meu apartamento dou uma longa tragada no cigarro olho para o céu escuro e vejo as estrelas. Tinha sido um dia difícil, de uma semana difícil, de um mês de merda tentando conciliar trabalho com o mestrado estava me cobrando muito caro. Estava virando noites finalizando projetos, revisando artigos para publicação, acordando logo cedo para ir para audiências, reuniões com clientes, revisar peças.

Tudo para manter a mente ocupada bem longe dele e de mais dor de cabeça do que preciso no momento. Largar a terapia não parece ter sido uma decisão esperta, mas aparentemente tomar decisões espertas não tem sido meu forte. Solto a fumaça pelo nariz em um longo suspiro e sinto a nicotina começando a fazer seu efeito no meu corpo.

Desde aquela noite no jantar de ensaio de James e Mel parece que liguei o botão de autodestruição depois de tantos anos.

Melanie não fala comigo ou respondia as minhas mensagens desde que cancelei minha ida a seu casamento no mês passado e sinceramente não a julgo, eu seria sua madrinha e fui uma grandíssima filha da puta com a minha melhor amiga e James. Bem, James sempre com seu espirito conciliador do grupo me manda notícias de Mel e pergunta como estou, acho que entre todos ele consegue ler melhor o caos que tenho sido esses últimos dois meses.

Uma mudança repentina, ligações recusadas, quebra o coração da minha melhor amiga cancelando as vésperas de um dos dias mais especiais da sua vida. Eu fui tão egoísta com umas das pessoas que mais amo nesse mundo e isso me machucava bastante. Mas essa era apenas mais um item para a lista de escolhas ruins da Emma.

Dou maus uma traga no cigarro quase no fim e suspiro, essa era a minha vida agora. Levanto a mão em direção da taça em cima da mesa. Nesse momento a tela do celular se ilumina com uma nova mensagem chama minha atenção, leio:

[00/0 19:52] Número Desconhecido:

Estou na cidade, Emma.

Você não pode me ignora para sempre

Às 22h, chego na sua casa.

Imediatamente apago o cigarro no cinzeiro na mesa ao lado, pego o celular e sinto minha boca fica seca, viro a taça de uma só vez bebendo o que restou do liquido escuro, é isso, ele está a caminho e nem o diabo em pessoa é capaz de deter a obstinação dele, eu sabia que ele iria vim em uma dessas noites e apareceria de surpresa em minha porta.

Estou hiperventilando depois dessa mensagem.

Não tinha como nega que tudo explodiu na minha cara depois daquele jantar, ali foi cruzada uma linha e não tinha mais como voltar atrás. Por um milagre Tânia sua adorável esposa não estava gruda em seu encalço como um cão de guarda. Ela me odeia, e eu não a julgo por isso.

Tânia e Melanie possuem uma desavença de uma década, desde o período do high school, no qual ambas estudaram juntas na pequena cidade de South River. Mel sempre a cumprimenta com rosnado baixo que disfarça com um risinho de canto e direciona um olhar mortal.

James sempre parece a ponto de ter uma sincope com o comportamento passivo agressivo da noiva, dada a sua personalidade conciliadora sempre fica estremecida em situações de confronto. Em resumo, a relação das duas não poderia ser pior e parece que Henry a escolheu a esposa a dedo, no caso um puta dedo podre para irritar a mim e Mel.

Olho novamente para a mensagem e fico de pé segurando a taça vazia, ando de um lado para outro entre algumas caixas que ainda restam aberta pela sala do apartamento. No fundo eu esperei que ele me procurasse, certo?

Mas agora só sinto esse nó em meu estomago. O que eu faço?

"Cuidado com o que você deseja", ouço a voz da minha própria consciência zombando da minha miséria.

Eu sentia a falta dele, sentia falta das ligações clandestinas no meio da noite em que ouvia sua voz cansada depois de um longo turno. Nós nunca ficamos tanto tempo sem nos ver, seja entre almoços e jantares de amigos, seja ele inventando alguma desculpa ridícula para fazer alguma diligência do prédio da procuradoria em que trabalhava.

A mudança de cidade colocou fim nos nossos flertes e troca de olhares sutis, não tinhas mais as velhas conversas ao pé do ouvido no canto mais afastado do bar, os olhares que trocávamos que me desconsertava por inteira e a sua rotineira pergunta do porquê nós não dávamos mais certo.

Eu nunca acreditei nesse papo de "nem sempre o amor é suficiente", achava que só pessoas covardes demais desistiam assim tão fácil de um amor, que quando ambos querem fazem acontecer.

Mas eu me tornei esse clichê, eu o amava e eu sentia que ele me amava, mas entre nós só existia esse espaço de dor. Por mais que quiséssemos estar juntos, a única coisa que fazíamos era machuca um ao outro. Me rasgava a carne pensar que de algum modo no fim das contas o seu final feliz era com a sua esposa e não comigo.

Apesar do prazer masoquista entre a dor de não estar com ele, amá-lo também era doloroso demais, custava partes de mim que sabia que não poderia mais abrir mão. Trabalhei tanto na terapia em longas sessões querendo entender o que estava de errado comigo, o que de tanto distorcido existia em mim que jogava nesse lugar de desamor e rejeição, eu só me fechei e fiquei resignada que eu teria um fim, mas esse não seria feliz ao lado do homem que eu amo.

Ouço a campainha tocar

Eu estremeço. Caminho apressada rumo a porta, acabo batendo meu dedinho em uma das caixas, sigo marcando até o espelho no hall de entrada ajeito o cabelo bagunçado e faço um rápido coque. A campainha toca mais uma vez e eu sei que está impaciente do outro lado.

Agora é a hora do show então respiro fundo e abro a porta.

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