Capítulo 8 - Algo Em Você

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Capítulo dedicado especialmente para  SteCoimbra e TaniaFlor98, obrigada vocês duas pelos comentários e curtidas em cada novo capitulo vocês não sabem como isso me ajuda e me incentiva a continuar contando essa história. As leitoras fantasmas agradeço igualmente pelos votos, vamos lá.

xoxo

Capítulo 8 - Algo Em Você 
P

OV MELANIE
6 anos atrás


"Você não se parece em nada com sua mãe,
Você se parece em tudo com sua mãe."
SHARAN, Warsan.

- Em que momento você descobriu que era uma pessoa? Em que momento da sua vida você se percebeu enquanto sujeito autônomo? Quem você é? Essas parecem ser perguntas simples, mas difícil nos fazemos. Somos o resultado das escolhas de nossos pais? Somos uma sucessão de acontecimentos e ações externas? O que nos molda e forma? Por quê pessoas criadas em lares estáveis e saudáveis podem torna-se adultos cruéis e desprovidos de qualquer amor? E por quê algumas crianças crianças em lares dilacerados e cercados de violência podem ser gentis e pacíficas?

- Não há resposta pronta ou quem sabe uma teoria que defina o motivo pelo qual as pessoas são o que são. Seres humanos são além de erros e acertos de seus genitores, por mais que possam carregar por uma vida as marcas e dores. Somos aquilo que podemos ser, com as escolhas possíveis para aquele momento.

- Há uma sabedoria indiana que sempre levo comigo em que diz: não existe o "e se", você fez exatamente o que deveria ter feito, no tempo que fez e no modo como fez. Não existe talvez ou será se, você percebe como a mente humana gosta de vagar por caminhos incertos? Veja como você chegou aqui alguns meses atrás se martirizando e cheia de culpa pelos erros de outros, de seu pai, de sua mãe biológica, de sua mãe adotiva? Não há respostas prontas, não aqui, Melanie.

- Você busca nessas consultas a sabedoria, uma orientação e que eu aponte e diga "vá por ali, seguido esse caminho não haverá dor", mas você sabe que isso é uma mentira. Que não há como viver sem se arriscar, não há como proteger a si mesma de tudo, você bem sabe disso, minha querida.

Sinto a maciez do sofá em que estou sentada, viro meu rosto para o lado esquerdo e vejo as folhas balançando sobre as árvores, é um dia especialmente quente na cidade, mas há uma brisa que trás o alívio ao calor escaldante.

Por mais ensolarado que fosse o dia, sentia aqui dentro do meu peito uma tempestade. Um nó na garganta que não passava, já havia passado algumas semanas após o desastroso almoço em família. Todos tinhas voltados para suas casas em diferentes cidades, mas as palavras ditas essas permaneceram comigo, criando raízes em meu peito, sendo repetidas em minha mente como uma canção que gruda como chiclete.

Ali em minha frente Ângela ou Dr. Ângela uma mulher negra de pouco mais de seus 50 anos, com olhar gentil, voz firme, cabelos crespos formando um lindo black power, sempre calma e compenetrada, atuava como psicanalista junguiana, foi uma indicação de uma colega de trabalho e a poucos meses iniciamos uma jornada juntas, ela me confrontava com verdades simples e duras demais para assimilar, mas eu precisava daquilo, me sentia mais leve em alguns dias, arrasada em outros, mas fazia parte. 

O que me trouxe aqui foram as crises de ansiedade, uma sensação visceral de que precisava ser salva de mim mesma, dessa angústia, dessa dor. Eu sabia que um dia teria que abrir aquela porta, mas nunca é fácil lidar com as antigas mágoas, com as ausências, com os silenciosos violentos de meu pai e as palavras duras de minha mãe e irmãs.

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