Capítulo III: Odeio esse lugar!

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Qualquer um sentiria medo daquela criatura. Era algo que nunca havia visto antes, o que somente confirmava, ao menos para ele, que ele não estava no Japão, muito menos em qualquer outro lugar da terra.

A postura do animal era ofensiva, dava para sentir uma aura pesada emanando daquilo. Por mais que tentasse comparar essa criatura a alguma coisa, sempre que via algo que lembrava um animal, sempre havia algo diferente que, com toda certeza, se atribuiria a outro animal.

Ele tinha uma enorme mandíbula que fazia aparecer os ossos, quase como se tivesse sido arrancada toda carne e pele da sua mandíbula. Por mais que fosse bípede, sempre que armava um bote, ficava sobre 4 membros, isso provavelmente se devia ao fato de ter as pernas com uma musculatura completamente superior à de qualquer animal que Kazuki conhecesse. De fato, tudo estava ficando cada vez mais estranho.

Aquela coisa não tinha pelo nenhum, apenas uma pele escura que quase se confundia com o escuro da noite. Ao contrário do que Kazuki pensava ao ver tamanha mandíbula, aquele animal não tinha garras, pelo contrário, em suas patas era possível encontrar cascos, parecidos com os de um cavalo. Era uma visão completamente bizarra, parecia que tudo aquilo fazia parte de um experimento maluco de um cientista completamente maníaco.

Realmente, aquela aparência era de colocar medo em qualquer um, ainda mais se estivesse despreparado assim como da primeira vez que Kazuki se deparou com uma criatura bizarra. Porém, dessa vez, Kazuki estava preparado, afinal ele agora tinha como se defender de maneira um pouco menos difícil. Sua espada estava consigo, não havia mais nada a temer.

Por mais que sentisse medo daquilo, ao olhar para a sua espada, ele se sentia menos tenso e mais confiante. Ter a sensação de que você consegue lutar numa situação dessas é bem mais tranquilizador.

Embora normalmente fosse repudiar esse pensamento em suas condições normais, Kazuki não parava de imaginar que aquele animal, provavelmente, teria que morrer para que ele pudesse sobreviver e se alimentar dele. Ele não tinha repulsa pelo ato de matar para sobreviver, a verdade era que ele tinha repulsa por ter que comer aquele animal feio o qual nem ao menos sabia como preparar e muito mesmo se era comestível. Mas ele já não tinha mais nada a perder.

Kazuki se preparou para o bote da criatura. Porém, dessa vez, ele não parecia sozinho, era como se sua espada estivesse sendo gradualmente coberta por uma luz verde translúcida que parecia vir de algum lugar no céu. Ele não sabia o que era aquilo, mas não tinha muito tempo para pensar.

Aquela criatura preparou o salto com suas patas traseiras tão musculosas que pareciam as patas dianteiras de um puma. Ela pulou com uma velocidade enorme, quase como o salto de um guepardo, veloz como nada antes havia visto. Aquela criatura parecia sedenta por carne e logo abriu a mandíbula para abocanhar a cabeça de Kazuki que, por reflexo, tentou golpear a cabeça do animal com a espada, bem entre os dentes. Era possível ouvir um barulho de metal logo que a lâmina e os ossos da mandíbula do bicho se cruzaram. Kazuki com muito esforço estava conseguindo manter a criatura longe de sua cabeça, embora tenha caído com ela encima de si. O animal sacudia a lâmina, tentando a estilhaçar. Era possível ver que a lâmina estava trincando como vidro, o que parecia impossível para Kazuki. A espada ainda brilhava, mas agora estava mais fraca que antes, quase desaparecendo. Kazuki via a morte em sua frente enquanto suas forças esvaiam de seu corpo como uma corrente de água que deságua ao nada.

Ele estava no limite de suas forças.

Ele estava para morrer.

Ele sabia disso.

Ainda que sua esperança estivesse sumindo junto com suas forças, ele sabia, no fundo ele sabia, que precisava lutar.

Sua espada estava para se partir e a luz que emanava dela estava desaparecendo cada vez mais, a fazendo voltar a cor do aço; sua cor original.

Não havia nada que pudesse fazer.

Ou talvez houvesse.

Kazuki se viu mais uma vez numa situação de quase morte, mas ele se lembrou que ele não queria morrer daquele jeito, literalmente ele não queria morrer naquele lugar, por mais que suas forças quisessem o afundar naquela terra escura abaixo de si. Após relaxar seus músculos, concentrou tudo o que tinha em seus braços e empurrou a criatura para longe, a fazendo cair próximo a fogueira que estalava, porém, agora, parecia estar para se apagar, deixando lugar cada vez mais escuro e a criatura consequentemente, deixando Kazuki ainda mais em desvantagem. A criatura quebrou a lâmina com sua poderosa mordida, a fazendo se estilhaçar como um vaso de porcelana ao atingir o chão.

Logo Kazuki se levantou, com certeza ele não tinha a menor chance contra aquilo. Era uma morte certa. A criatura preparou o seu bote. Logo que Kazuki ouviu a pata se desprender do chão, rolou para a direita, desviando, logo após correu em direção a espada, ou pelo menos o que restava dela, e a empunhou com suas mãos. Ao observar a espada, podia ver que ainda restava uma parte da lâmina, o que era um alívio, já que ele não teria como lutar com aquele animal com as mãos nuas.

Mais uma vez o resto da espada começou a brilhar, dessa vez muito mais forte do que antes, tão forte que parecia ser maior que a luz da fogueira, iluminando até mesmo as folhas das árvores que estavam ao redor, mostrando seus galhos e frutas que haviam em algumas árvores.

Aquela luz que cobria a espada, parecia emanar diretamente de seus braços que brilhavam mais forte ainda. A criatura agora parecia espantada, parecia que ela nunca tinha visto algo assim antes, ela parecia acuada, mas ao mesmo tempo não conseguia fugir, quase como se estivesse paralisada. Kazuki viu sua oportunidade e atacou a criatura comum golpe que a dividiu ao meio, um corte limpo que parecia impossível de se fazer.

Nem parecia que havia concretizado tal feito, o animal estava abatido e a luz que emanava de seus braços e da espada, se apagaram como se nunca tivessem existido antes. A única coisa que sobrava no seu corpo era uma exaustão que ultrapassava qualquer outra que já havia sentido antes na sua vida. Porém Kazuki não sabia o porquê daquilo, e por agora não queria saber, ele apenas conseguia agradecer em sua mente por ter sobrevivido.

Ainda que suas forças estivessem quase que esgotadas, ele sabia que teria que preparar aquele animal ou seu estômago devoraria cada grama da gordura armazenada em seu corpo para mantê-lo vivo nas próximas horas. Não seria nada agradável, então, Kazuki se pôs a preparar aquela carcaça, pelo menos algumas partes dela, já que o animal era enorme, o que dificultaria bastante para ele conseguir o preparar inteiro ou até mesmo cortá-lo, o que era estranho visto que a espada que antes cortava com tamanha facilidade, agora parecia quase que uma lâmina cega.

Kazuki preparou uma parte da carcaça e levou o resto para dentro da mata para evitar que outros animais o atacassem para roubar a carcaça do animal. Após comer, Kazuki se deitou mais uma vez no chão e se pôs a dormir. Agora as corujas haviam parado de cantar.

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