Capítulo IV: Um caminho em azul

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Kazuki se levantava aos poucos. Ainda sonolento, caminhou após pegar sua espada, para a fogueira que já estava completamente apagada, onde só restavam cinzas. Era possível sentir dor por todo o corpo, quase como se tivesse deitado sobre uma rocha. Ele se sentia, certamente, desconfortável.

Pelo incrível que pareça, ele não sentia mais fome alguma, embora fosse bem comum acordar com fome. Ele sentia indisposto, mas algo em sua cabeça queria que ele continuasse a subir a montanha, seguindo a correnteza do rio, desafiando a vontade de seu corpo. Assim foi feito. Ele não levava nada consigo além da espada, afinal não havia nada além dela para carregar, e ainda que tivesse, não seria possível carregar.

As rochas na beira do rio, o fazia cansar, não era nada fácil subir e descer das rochas a quase todo momento para conseguir ir mais a fundo naquele lugar. Por um momento, Kazuki, começou a se questionar acerca do porquê de ele não ver nenhum animal na luz do dia, pelo menos nenhum além daquele que ele havia encontrado dentro do arbusto no outro dia. De fato, era bem estranho, porém ele se contentava com o fato de ainda estar vivo, havendo animais durante o dia ou não.

Sua caminhada certamente foi árdua. Algumas vezes parou para beber um pouco da água do rio, logo na curva que fazia em direção a fundo na floresta, a qual parecia mais viva e verde, também era possível ouvir passarinhos a cantar, coisa que não se ouvia mais abaixo na montanha.

Kazuki ainda prosseguia floresta a dentro, ainda tinha um certo receio, pois agora via, não somente, os passarinhos, mas sim algumas lebres, esquilos e até mesmo um veado que comia por ali, porém, esses animais, não tinham traços tão iguais aos quais ele poderia observar do lugar de que vinha, afinal os animais, embora parecessem com os veados, lebres e esquilos os quais ele se lembrava, tinham traços diferentes dos que ele estava acostumado a ver, como por exemplo, o fato das lebres terem um pequeno par de chifres na testa; os esquilos serem azuis e terem caudas que pareciam de certa forma rígidas, embora fossem flexíveis como o de costume; além de ser possível observar que o veado tinha diversos olhos no rosto e uma pelagem densas que brilhavam de forma a irritar os olhos quando o sol refletia em seus pelos densos e belos. Kazuki protegia os olhos sempre que passava perto de um veado ou um cervo, além de manter uma certa distância de segurança para evitar que algo acontecesse, afinal aqueles animais eram certamente desconhecidos para ele, embora parecessem muito com os de onde havia vindo, ainda assim ele permanecia cauteloso já que não sabia do que aqueles animais seriam capazes. Kazuki aceitou a sua ignorância e seguiu adiante entre os arbustos e árvores.

Ainda que Kazuki tivesse se sentido saciado há algum tempo, agora já não conseguia mais se manter de pé direito. Sua visão estava começando a embaçar, como da vez em que havia lutado contra aquela criatura com garras e barriga mole que encontrou num arbusto. Ele não sabia se o que estava sentindo era efeito da caminhada quase que incessante que resolver travar desde a manhã até o entardecer e o quase pôr-do-sol, ou era desnutrição por falta de comida constante nos outros dias que antecederam o de ontem. Ele se sentia muito fraco e quase não conseguia mais se manter de pé. Ele cambaleou, cambaleou e quase não enxergava mais nada, então se apoiou nas árvores e continuou caminhando adentro da floresta com sua espada na mão, que já fraquejava e dava sinais de larga-la a qualquer momento.

Kazuki já não enxergava mais nada à sua frente, apenas conseguia escutar as corujas e pássaros cantando um louvor à sua morte que parecia inevitável. Kazuki não pensava em desistir, mas seu corpo não tinha mais forças para continuar, então ele sentiu suas pernas adormecerem e fraquejarem, o levando de joelhos ao chão. Ele não tinha mais forças, não o suficiente para se mover, e o resto mínimo que ainda havia em seu corpo, se esvaía rapidamente, ao ponto de seu corpo quase não aguentar mais ficar de joelhos e querer tombar. Mais uma vez, Haru, se preparava para o seu fim iminente.

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