Congelei.
Tinha consciência dos mais de 100 pares de olhos focados em mim.
Também sabia dos comentários que começavam a se espalhar pelo salão. As risadas abafadas e os questionamentos de "quem é ela?".
Sabia de tudo isso.
Só não sabia, é claro, onde estava Joe.
Dizer que havia perdido a sensibilidade das minhas pernas seria um eufemismo. Meu nervosismo era tanto, que nem mesmo me lembrava como usá-las.
Por isso, continuei parada no centro do salão. O foco de luz exibindo meu rosto assustado para quem quisesse ver e, ao mesmo tempo, me impedindo de enxergar com clareza a multidão que já começava a rir bem alto.
Estava pronta para gritar ordens ao meu cérebro para sair dali quando senti um toque em meu braço.
Não sei se o choque havia roubado meus reflexos, ou o mundo realmente começou a girar em câmera lenta... Mas, ao me virar e encontrar Zach, com uma mão estendida para mim, senti como se o mundo tivesse, por alguns segundos, paralisado.
Não ouvi mais as risadas ou percebi os olhares de zombaria da plateia.
Vi simplesmente Zach e seus olhos verdes, presos em meu rosto, mais uma vez.
- Dança comigo. - Sem pedir permissão, Zach posicionou uma mão em minha cintura e colocou meus dedos em seus ombros. - Se concentra na música, esquece tudo ao seu redor e deixa eu te guiar, ok?
Assenti, ainda sem conseguir falar. Os cabelos loiros pareciam reluzir ainda mais com a luz dos refletores, então me concentrei neles para não cair.
Zach começou a rodar comigo pelo salão. Sentia seu toque firme em minha cintura, enquanto uma mão segurava a minha, me indicando para onde ir.
Em algum momento, percebi que deveria olhar para os meus pés e evitar cair, então fitei nossos pares de pernas que circulavam pela pista.
- Olha pra mim, Alice. - Zach pediu, em meu ouvido. - Temos que parecer apaixonados, lembra?
Estremeci com o pedido, mas obedeci. Era preciso impressionar a audiência, ou não conseguiria chegar a San Francisco: meus pais me encontrariam antes.
No entanto, os olhos de Zach me desconcertavam. Pareciam carregados de significados, que eu, definitivamente, não sabia interpretar.
Me concentrei na cor da sua íris. Com as fortes luzes dos refletores sobre mim, não conseguia enxergar perfeitamente, mas sabia que o verde dos seus olhos lembrava muito a cor do mar.
Zach também me fitava. Ele parecia gostar de fazer aquilo, como se fosse fácil olhar pra mim. Ele não ficava desconcertado como eu com a proximidade dos nossos corpos, mas mantinha uma distância respeitosa.
A mão na minha cintura, no entanto, era difícil de ignorar.
Deixei que ele me guiasse. Conhecia o garoto há poucas horas, mas me impressionei quando a sua postura, sempre dura, revelou um ótimo dançarino. Os passos de Zach eram suaves, e ele parecia saber exatamente o que fazer.
Senti, por fim, meu corpo relaxando e comecei a me entregar aos movimentos. No auge da música, Zach me girou duas vezes, para então me prender entre seus braços novamente.
Nós dois sorrimos.
Não conseguia ouvir a multidão em meio a concentração para acertar os passos, mas imaginei como a cena havia se desenhado para eles: um casal apaixonado, surpreendendo a todos com uma performance romântica em meio a uma festa repleta de álcool e entorpecentes.
- Você acha que estamos convencendo eles? - Sussurrei, percebendo que a música estava chegando ao fim.
Por trás da máscara, percebi o maxilar de Zach se contrair novamente. Ele sustentava um sorriso forçado, mas podia perceber a tensão em seus ombros.
- Para ser sincero... Não o bastante.
- O que vamos fazer? - Mantive também um sorriso, mas sabia que meus olhos deviam estar gritando por socorro. - Se nós perdermos, nunca vão me deixar chegar a San Francisco.
- Eu tenho um plano, mas você vai precisar confiar em mim.
Confiar. Esse pedido havia sido feito a mim por três pessoas na última hora.
Primeiro Francesca, depois Joe e agora, Zach.
Nas duas primeiras vezes, não confiava o bastante. Francesca era divertida e com um bom coração, mas sua propensão a cometer loucuras havia me levado até aquele momento: dançando uma valsa em meio a grupos criminosos de Hollywood.
O sorriso de Joe me trazia paz mesmo em meio à situação mais insana mas, não o suficiente para me sentir segura.
Não fazia nem 24 horas que eu conhecia Zach. E nesse curto espaço de tempo, percebi que o garoto me intrigava na mesma medida em que tinha a capacidade de me irritar.
Zach era calado, arrogante e até um pouco frio.
Bem diferente do que eu costumava buscar em um amigo. Gostava de pessoas leves, divertidas e engraçadas, como Joe.
Mas, enquanto Zach me girava pela última vez, notei a preocupação em seu rosto. Seu olhar vasculhando o salão, como se estivesse preparando um plano.
Eu confiava nele. Não sabia como, e nem porque, mas confiava nele.
Não tive tempo de dizer isso a Zach.
No mesmo instante, a música chegou ao fim.
- Alice, precisamos correr.
E eu corri.
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RomantikENEMIES TO LOVERS | TRIÂNGULO AMOROSO Em 1975, 'era de ouro' da Califórnia, Alice Rose Collins decide fugir dos pais conservadores para realizar o seu sonho de se tornar uma artista. Ela esperava encontrar desafios ao escapar de casa mas, definitiv...