11.1 Quente Pt.2

50 6 4
                                    

O som baixinho da chuva contra a janela acordou Ten cedo. Ele se retorceu na cama grande do dormitório, esticando suas articulações no edredom cinza escuro e resmungando baixinho pela luz do dia incomodando seus olhos sensíveis.

— Au — Johnny murmurou debaixo da coberta, afastando-a do rosto, onde Ten a tinha jogado enquanto se espreguiçava. Johnny sorriu para ele e limpou o sono dos olhos. — Bom dia.

A chuva aumentou do lado de fora e os passos e as vozes no corredor ficaram frenéticos dos alunos indo e vindo para buscar guarda-chuvas.

Talvez fosse a falta da bebida e do cigarro, ou o clima, ou a dor de cabeça assim que se levantou, mas Ten não o respondeu enquanto colocava uma cueca limpa e ia para o frigorífico no canto, perto da sua escrivaninha bagunçada.

Ele encarou o refrigerante e as besteiras gordurosas de Tern e fechou a porta para ler o post it amarelo colado pela irmã. Ela tinha bebido todo seu estoque de café em lata. Perfeito.

Ten arrancou o papel e o amassou, sem dar atenção para Johnny se vestindo e indo para o banheiro. Pelo menos ele tinha um maço de cigarro perdido dentro da calça que usara em algum daqueles dias e deixara sobre a cadeira da escrivaninha.

Seus pés descalços foram silenciosos em direção a janela e ele a abriu um pouco, encarando o campus naquela manhã nublada e chuvosa enquanto acendia seu cigarro. Ten sentou na beirada dela e tragou, empurrando a fumaça para o lado de fora.

— Você tem aula agora cedo? — Johnny perguntou, se aproximando dele e sentando do outro lado. Ele só tinha vestido a calça que usara na noite anterior e os fios loiros estavam penteados para trás. Suas tatuagens a mostra como as de Ten.

— Não. Eu estou terminando meu TCC.

— Ah, curso de direito, não é? — Johnny sorriu para ele e Ten franziu a testa, soprando a fumaça na direção dele. — Às vezes esqueço que esse é seu último ano.

Ten era bom em ler algumas pessoas e segundo sua intuição, Johnny estava mentindo. Mas ele não conseguia imaginar como aquilo seria importante, então apenas virou o rosto para a chuva. Parecia que Johnny só queria puxar qualquer conversa.

— O que você pretende fazer depois? — Johnny perguntou.

Ten suspirou e o encarou com uma sobrancelha levantada.

— Voltar para a Tailândia. Meu pai tem um escritório de advocacia lá.

Johnny levantou e sentou no chão ao lado da janela, apoiando o braço sobre os joelhos e a cabeça sobre ele. Ele o olhou de lado, admirando a imagem contra luz de Ten seminu, fumando. A fumaça condensada ao redor dele sendo levada aos poucos pela corrente de ar da janela e a chuva caindo em gotas grossas do lado de fora, o cheiro de umidade no ar.

— Toda sua família trabalha com isso?

— Praticamente. Minha mãe é juíza e meu padrasto promotor.

— E Tern?

— Esse não é o lance dela.

— Mas é o seu?

Ten virou o rosto e o encarou por um longo momento enquanto Johnny esticou a mão livre e acariciou sua perna nua.

— Tern nasceu para as artes. Eu ia a festas e ela ficava em casa com seus quadros e tintas. Tinha aulas particulares toda semana.

— O que aconteceu?

Ten arrastou a bituca do cigarro na janela antes de abandoná-la e sentar-se ao lado dele debaixo do vidro por onde a luz do dia lançava sua claridade sobre o quarto.

Ruthless » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora