Através..

Cap. II - Suzan.

Desde que Steven me entregou aquele papel com o número da nossa tia, eu não paro de encara-lo.

A só convivi com minha tia até os meus quatro anos de idade.
Me lembro de pouquíssimas coisas relacionadas à ela..

Uma delas é ela cantando para eu dormir, quando eu ainda cabia nos braços dela.
Ela canta, ou pelo menos cantava, muito bem. E eu amava escuta-la.
Foi por dela que eu puxei o amor por cantar, dançar e atuar.
Meu pai odiava isso, pois ele não queria que eu "perdesse tempo" com essas coisas.

Ela e minha mãe nunca se deram tão bem..
Elas são irmãs, filhas da mesma mãe e de pais diferentes.
Mais, específicamente, minha tia é fruto de uma aventura da minha avó.

Minha tia sempre ficava comigo e o Steven durante as brigas de Alexis e Blake, que eram constantes.
Nós éramos bem pequenos, e minha tia era bem nova ainda.

Uma dia ela não aguentou os desaforos da minha mãe, elas brigaram, minha tia foi embora e eu nunca mais a vi.

Ela foi minha primeira perda.
Eu tinha apenas quatro anos.

E desde então, se tornou recorrente pessoas que estavam ou entraram na minha vida, saírem dela repentinamente.

No dia que me despedir dela, não sabia que era uma despedida.
Ela cantou pra eu dormir, e quando eu acordei, ela já não estava mais lá.

Eu não sei a razão pela qual ela foi embora, mas sei que não foi um desejo. Pelo menos não dela.

Agora, eu tenho a oportunidade de falar com ela, literalmente em minhas mãos..
Steven disse que ela espera pela minha ligação, ele já adiantou algumas coisas.
Mesmo que seja pra dizer que eu decidi não ir pra Califórnia.

Não sei se fico feliz ou com raiva, dele estar tramando algo pelas minha costas com a Suzan.

Crio coragem e digito os números em meu telefone, espero chamar.
Ancio por uma resposta.

- Olá, quem fala? - pelo sotaque diferenciado, percebo que não é quem eu esperava. Será que liguei errado?

- É.. eu gostaria de falar com Suzan Morel.. ela está? - digo, ainda receosa.

- Só um minuto. - escuto a moça atrás da linha, chamar pelo nome de minha tia. - Alô? Quem fala?

Paraliso ao escutar a voz dela.
Ainda é a mesma..

Tenho dizer alguma coisa, mas, não consigo. Não sei o que dizer.

- Meu Deus.. Fallon?.. Fala alguma coisa. Eu sei que você tá aí..

- Oi.. tia?

- Ah, Fallon.. - pelo seu tom de voz, ela parece emocionada.

- Como sabia que era eu? - me bate uma pequena curiosidade.

- Eu estou esperando a sua ligação a um tempo. Não obtive uma resposta, mas, escutei sua respiração.. sabia que era você.

[•••]

Foi uma ótima conversa.

No começo eu estava meio desorientada, mas depois um uns minutos, ela me fez sentir confortável.

Contei a ela tudo sobre.. tudo que ela perguntou sobre.
Foi uma conversa longa.

Ela disse que a cada ligação que recebia, esperava que fosse eu.
Ela pediu desculpas por ter ido embora, quando toquei no assunto.
Disse que não era vontade dela, e que foi uma das coisas mais difíceis a se fazer.

Ela me escutou.
Eu a escutei.

Acho que foi uma conversa de 2 horas mais ou menos.

Senti que ela realmente se importava em ouvir cada palavra minha.
Contei a ela tudo que desejava contar a alguém a tempos..

Foi como se, mesmo depois de tantos anos, nada tivesse mudado.

Ela me fez rir em alguns momentos, o que não acontece a um bom tempo.

Foi bem importante.

Ás vezes, as coisas que mais precisamos acontecem sem aviso prévio.