Cap. III - dia 25. (tópico sensível)

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Alguns Dias Depois.

Já passa das 1:00 da manhã, e eu estou deitada na cama sem pretensão nenhuma de ir dormir.

Estou pensando.
Ultimamente, é o que eu mais faço. Pensar.. sobre tudo.

Hoje faz exatamente 2 anos e dois meses que minha mãe foi embora.
E como todos os dias 25, estou sentindo um angustia enorme. Uma dor.

Parece que volta tudo de novo..

Os gritos, o choro, a porta batendo, ela não voltando mais.

O que me deixou mais triste em toda essa situação, não é nem o fato dela ter ido embora.
É ela não ter se despedido de mim.
Ter me dado um motivo. Uma razão.

Eu jurei que ela ia voltar.
Mas aí.. passou um dia, dois, três, um mês, um ano.
Ela não voltou.

Desde então eu conto.
Conto os dias, desde que ela foi embora.
780 dias. Dois anos e dois meses.
E ainda não parei de contar, e não sei quando vou parar.

Sinto como se a qualquer momento ela fosse entrar por aquela porta se desculpando por ter me deixado.
Mas logo, lembro que ela é a Alexis..
E ela nunca adimitiria que estava errada.

E na verdade eu nem sei porque me sinto assim.. nossa relação nunca foi das melhores.
Ela mandava os empregados ler pra eu dormir, pois ela "não tinha tempo".
Mas ainda assim, ela é minha mãe.
E eu espero dela o mínimo que todo filho espera de uma mãe.

Lágrimas escorrem dos meus olhos, não que eu queira isso. Mas, não consigo evitar.

Sinto um nó no peito e na garganta.
Eu só queria gritar.
Mas choro em silêncio.

Preciso arrancar essa dor de mim.
Não quero mais sentir isso.
Essa insuficiência, esse auto desprezo..

Olho pro criado mudo ao lado da minha cama.
Tem uma tesoura em cima dele.

Sem pensar muito, apenas tiro o meu short de algodão preto, e pego a tesoura.

Olho pra ela em minha mão e lágrimas continuam saindo dos meus olhos incessantemente.

Não consigo pensar em nada além de como eu devo ser tão insignificante, pra minha própria mãe me deixar.
E pra ninguém ter se importado.

Quando vi, já estava fazendo pequenos e vários cortes em minha pele, na parte de trás da minha coxa.

Faço isso algumas vezes.

É recorrente, desde que ela foi embora e que o acidente aconteceu.

Faço isso quando completa um certo período de tempo que ela foi embora.
Pra ser mais específica, todo dia vinte e cinco.
Se tornou quase uma obrigação.

Sabe quando as pessoas ficam presas em algum lugar, e fazem tracinhos na parade ou no chão, contando os dias?

É como se fosse isso.

Eu estou presa na minha cabeça.
Quem me prendeu foi a mulher que me deu a luz.
As paredes, são a minha pele.

Braços, pernas, mão, pulso..
Estilete, lâmina, em especial tesouras.

Odeio isso.
Odeio essa situação.

Tento ser mais descreta possível..
Cortes pequenos e superficiais.

Mas, uma vez, eu estava com muita raiva, e acabei aprofundando muito.
Saiu tanto sangue..

Mas mesmo assim, ninguém nunca percebeu.
No fundo eu espero que alguém perceba, e me ajude.
Depois penso melhor e espero que continue assim.
Ninguém tem que saber.

Dói.
E não estou falando dos cortes em minha pele.

A dor física era o que menos me importava.
Eu só preciso sentir alguma coisa que não seja um completo vazio.

[...]

Raios de sol atravessam a cortina, anunciando que já é dia.
A luz caí sobre meu rosto e mal consigo abrir os olhos, estão bem inchados..
Acho que deixei uma parte da cortina aberta por isso o sol invadindo meu quarto.

Levanto e fecho a cortina.
Entro no banheiro, tiro a roupa, e vou para baixo do chuveiro.

As gotas frias caem sobre meu corpo com agressidade.

Sinto uma ardência na parte de trás da minha coxa e um pouco de sangue escorre pela minha perna.
Mas não me importo.

Saio do chuveiro e e abro o armário do banheiro.
Pego uma caixinha de primeiros socorros, tiro uma faixa de curativo, e amarro em torno da minha coxa.
Sinto arder.

Voto pro quarto e visto uma calça pra esconder o curativo.

Logo em seguida, troco os lençóis da minha cama.
Normalmente a empregada faria isso, mas, tem um pouco de sangue nela.
Não quero que ninguém veja isso.

[...]

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