Adorável

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Essa foi a noite mais tranquila da minha vida.

Acho que, mesmo com toda a insegurança do futuro e sobre oque pode acontecer com meus amigos, consegui relaxar, pelo menos uma vez.

O sentimento de calmaria é um dos melhores que uma pessoa com falta de serotonina pode sentir.

. . .

Sinto meu corpo despertar.

Não estou acostumado a dormir na casa de desconhecidos, mas não posso negar que foi uma noite um tanto quanto boa.

Ao abrir meus olhos percebo que estou sozinho. Logo me sento na cama sentindo meu corpo levemente dolorido e uma confusão em minha cabeça. Me levanto e percebo que não estou mais em "estado híbrido" por assim dizer, mas de qualquer forma, já é um alívio para mim, mesmo que, não preciso mais esconder quem sou do Roier.

Ah... Roier. Acho que só agora notei a merda que fiz, claro, não tinha opções e se eu tivesse mais opções, não tive inteligência suficiente no momento para pensar. Bom, de qualquer forma, eu já contei e não tem como voltar atrás. Agora é só ter a esperança de que ele não vai me trair ou que ele vai ser sequestrado.

Abro a porta do quarto e vejo que Roier está na cozinha, provavelmente fazendo algo pra o café.

- Roier? - vou até a cozinha onde o vejo fazendo ovo mexido e torradas.

Roier se vira após ouvir minha voz e sorri amarelo, parece bem.

- Gatinho! - exclama animado. - Está se sentindo bem?

- Eu to com um pouco de dor mas nada demais. - me sento o vendo arrumar as coisas encima da mesa.

- Depois posso te dar um remédio se quiser, mas antes, é bom comer.

Roier se senta ao meu lado animado e começamos a comer enquanto conversamos sobre filmes e jogos.

Podemos não ter o mesmo gosto para a maioria das coisas, mas nossa conversa flui tão bem que chega ser hipnotizante.

- Uma curiosidade sobre mim, eu sou viciado em café, toda hora e em todo momento eu estou tomando café. - vejo Roier fazendo uma careta engraçada, que me faz sorrir.

- Como consegue gostar de café?! É amargo e quente, e normalmente essa junção não combina muito, e no café consegue ser pior ainda. - calafrios sobem por sua espinha apenas por lembrar da vez que Jaiden o fez experimentar café pela primeira vez. Foi horrível.

- Guapito é impossível você achar café tão ruim assim.

- Vou te decepcionar, mas é possível sim.

Inacreditável. Minha nova missão de vida agora é convencer Roier que café é bom sim. E ai de quem discordar.

Terminamos de comer e continuamos conversando enquanto arrumava a cozinha, e por causa do horário que fomos dormir acordamos um pouco tarde, então nosso café da manhã foi nosso almoço praticamente.

Decidimos ver algo já que não tinha nada para fazer, e foi escolhido uma série de enigma que parecia ser interessante, e mesmo Roier não entendendo, ele ainda fazia comentários engraçados e parecia estar gostando.
Após um tempo cansamos de ver a série e estávamos procurando algo para fazer.

- Tive uma ideia. - Roier me olha com os olhos brilhando. - Que tal um sorvete? Queria sair um pouco, e se der podemos passar pra ver o pôr do sol na praia. O que acha?

- Tem tempo que não vou à praia, eu ia gostar.

Antes de irmos, Roier pegou sua câmera, uma polaroid para ser mais especifico, e me disse que sempre gostou de tirar fotos das coisas que acha bonito, e que se ele não tivesse feito faculdade de psicologia teria feito de fotografia.

Chegamos na sorveteria e eu peço um sorvete de baunilha e ele um de chocolate, paramos para comer no local e eu percebo o quão legal pode ser estar perto dele, acho que nunca ri tanto em um dia só.

Após algum tempo de conversar presumo que certamente ele foi uma peste quando criança pelo que ele me contou. Claro, percebo que enquanto ele me conta histórias da sua infância a variar lacunas e falas incompletas. Ele está escondendo oque realmente acontecia.
Não vou forçar ele a me contar nada, mas dói como sua expressão muda quando fala de seu pais.

Um dia, talvez, ele se sinta confortável o suficiente para me dizer sobre seu passado. E um dia, talvez, eu tenha coragem de contar para ele oque eu passei também.

Após risadas e um bom sorvete vamos até a praia. Nos sentamos na areia vendo o céu aos poucos ficar com um tom alaranjado.

Sempre que vejo o pôr do sol sinto um misto de emoções que às vezes parecem impossíveis de existir. Fico sem ar ao ver o fenômeno. Meus olhos brilham, um sorriso singelo me aparece, e apenas consigo sentir a paz e as chamas juntas em perfeita harmonia. Todos os detalhes são incríveis.

Acho que toda vez que vejo o pôr do sol penso em como tantos detalhes e coisas importantes deixamos passar apenas com um piscar de olhos. Toda a simplicidade e elegância que as coisas carregam. É impressionante.

Eu invejo o sol. Invejo como consegue ir tão belo quanto chegou. Gostaria de ir embora e voltar mais forte que antes, é algo que genuinamente desejo de nosso querido astro rei. Sua beleza e força.

Sei que não sou tão grandioso como o sol ou até mesmo a lua, mas sei que sou apenas uma simples estrela, daquelas que quase não são visíveis a olho nu. Sei que nunca poderei ser tão incrível e grandioso como o sol. Sou apenas de segundo plano.

Click.

Me viro e vejo Roier sorrindo com a câmera apontada para mim. Adorável.

- Tirou uma foto minha? - pergunto sorrindo enquanto o vejo analisando a foto que tirou.

- Roier mexe a cabeça em concordância enquanto sorria olhando aos poucos a foto se revelar. - Ficou perfeita.

- Posso ver?

Ele me entrega a foto me observando e assim que a olho, vejo que eu estava em um belo contraste com o pôr do sol. Com uma linda paleta de cores atrás de mim. Meu cabelo estava um pouco bagunçado por causa do vento e meus olhos brilhando como se fosse chorar, com o sol reluzindo em minhas orbes. Estava sorrindo, um sorriso genuíno, que transmitia calma.

Me sinto esquisito.

- Achei que tirasse foto apenas de coisas bonitas. - digo direto o devolvendo a foto.

- Mas você é bonito. Não tiraria foto de algo qualquer.

. . .

Naquele dia, voltei para casa chorando.

Não sei lidar com isso, não sei lidar comigo.

Não me acho capaz, não me acho suficiente, nem ao menos me acho bonito, e a ideia de existir pessoas que me acham bonito ou inteligente é algo que não sei lidar.

Acho que se eu soubesse reconhecer esse lado genioso que as pessoas dizem que eu tenho, talvez, não seria tão difícil lidar com elogios e coisas do tipo.

Não me acho merecedor do amor, e tenho sorte de ter amigos incríveis que pelo menos parecem se importar comigo. Mas mesmo com todas as palavras, todo o incentivo, todos os elogio, eu ainda não me sinto capaz e nem ao menos suficiente.

Apenas estou fazendo o mínimo, por que as pessoas falam que sou incrível?

Queria conseguir ver esse potencial que as pessoas dizem que tenho.

I HOPE YOU ENJOY THE ISLAND

Perdão a demora para postar novos capítulos. Não tenho muito tempo e apenas escrevo como hobby.
Também estou passando por uma fase complicada mas não vou deixar de atualizar a fic por isso.
Se tiver qualquer opinião sobre oque posso melhorar por favor fale.

Gato Estranho - Guapoduo Onde histórias criam vida. Descubra agora