Cataclismo (parte 1)

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Uma história curta sobre grandes sentimentos que cabem em pequenas palavras.

Ela ainda esperava seu grande momento de virada. O momento em que tudo iria mudar, seu grande eureka. Talvez não fosse acontecer, mas Sarada estava convencida de que sim e preparava-se para isso. Não se preparava para as despedidas que esse momento traria, ou para o luto pela infância que seria assassinada quando assoprasse aquelas duas velinhas que sua mãe havia comprado com um mês de antecedência. Era a última dos seus amigos a completar dezoito anos e, apesar de errar constantemente, ela realmente queria estar certa sobre um fato: tudo ia mudar.

Era uma sensação engraçada de se ter—a grama em contato direto com a pele sensível das suas costas, os raios de sol batendo por entre as folhas da árvore acima de sua cabeça, o vento que insistia em levar os fios de seu cabelo para o rosto. Tudo isso se unia às risadas baixas dadas pela pessoa ao seu lado, enquanto ela tentava falar sobre um tópico importante—pelo menos era para ela.

— Sério, você não sentiu nada mudar? — Ela tentou pela última vez.

— Como alguém que vai fazer dezenove em alguns dias, nada mudou até agora sobre virar adulto. 'Tá', várias coisas mudaram, mas nada de anormal, — Boruto falou após rir descaradamente das expectativas da amiga.

— Acredito que todos os dias são dias de grandes descobertas.– Mitsuki contribuiu com o debate, erguendo uma mão para impedir o sol de fim de tarde de incomodar seus olhos. — Por exemplo, hoje você descobriu que não dá para falar nada sério com o Boruto.

— Essa grande descoberta eu já tinha feito anos atrás. — Foi a vez de Sarada rir.

Boruto fingiria incômodo, mas já estava tão acostumado com a constante brincadeira de seus amigos que nesse ponto até ele participava dos insultos.

— No fim do dia, idade é só uma forma de padronizar as pessoas para fins comparativos. Sabe, cientificamente falando. E todos os padrões são falhos. — Mitsuki acrescentou. — É só você pensar que o Boruto tem quase dezenove anos e continua com a capacidade mental equivalente a alguém de treze.

— De novo eu? — Boruto, então, sentou-se, e olhando para Sarada com seriedade. — Olha, não se estressa com isso, não vale a pena. Mesmo sem grande descoberta, não tem como você ser mais incrível do que já é. Além disso, se ainda assim quiser uma grande descoberta, saiba que a porta do meu quarto estará sempre aberta para você.

— Eca, eu te odeio. — Sarada revirou os olhos.

— Eu sei. — Boruto respondeu.

— Você é nojento.

— Questionável.

— Eu odeio vocês dois. — Mitsuki disse, porém, a veracidade de suas palavras era questionada pelo seu próprio sorriso.

O sol já havia encontrado o horizonte quando eles decidiram ir para a casa. Mitsuki seguiu um caminho diferente, o que deixou Boruto e Sarada sozinhos. Eles caminhavam lado a lado, o som dos seus passos sendo a única coisa que impedia o silêncio absoluto entre eles. Um silêncio confortável como um edredom cheirando a amaciante em uma noite fria.

— Não precisa ir comigo o caminho todo. Pode ir pra casa. — Sarada chutava uma pedra enquanto Boruto admirava os tons alaranjados do céu. O fato deles observarem as coisas de forma diferente os unia e os separava na mesma intensidade.

— É muito perto, não se preocupe.

E lá estava ele de novo. O silêncio. As coisas que não eram ditas pairava sobre eles durante aqueles minutos.

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⏰ Última atualização: Sep 24, 2023 ⏰

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