Zero O'Clock

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Preciso de uns segundos para me situar onde estou. Percebo uma claridade no cômodo, mas não sei se é pelo sol, ou pelo jogo de cama ser tão branco. Estou confusa, não sei como cheguei aqui. Olho em volto e percebo que é um lindo quarto, a cama tem cortinas em suas laterais, com detalhes bordados, os móveis em madeira clara, e a decoração eu não teria feito melhor, tudo do jeito que eu acho incrível. O colchão parece que esta me abraçando, mas eu preciso ver o que tem la fora.

É tudo uma bagunça em minha mente, estou com a mão na maçaneta da porta já, e quando abro, não posso acreditar o quanto tudo aqui é azul. Vou caminhando para o mar, estranhamente começo ouvir um som de celular tocando, cada vez mais alto, mais alto, mais alto e familiar. Agora tudo volta ao normal. Acordo realmente na minha cama, no meu apartamento, no quarto andar, do outro lado de Manhattan, no Queens.

Sn – mas claro que seria um sonho ne – falo como um sussurro para mim mesma.

Quando é que eu estaria linda e rica acordando nas Maldivas? Quem manda eu ficar vendo essas merdas que postam no Instagram antes de dormir? Meu cérebro acha que eu tenho grana para isso. Bora Sn, acorda para a vida, porque você não tem dinheiro do aluguel, quem dirá Maldivas.

Levanto, caminho até o banheiro, me olho no espelho e estou acabada. Tenho passado meus dias, depois da formatura, ou na rua, ou na frente do computador velho que acabou de voltar do conserto pela milésima vez, procurando um emprego. Estou começando a ficar desesperada. Meu tempo está acabando.

Sinto um cheiro forte vindo da cozinha, não pode ser, meu olfato deve estar me enganando.

Sn – bacon? Não acredito nisso, você realmente roubou um banco? – Pergunto para minha amiga que divide o apartamento comigo.

Kate – na verdade o vizinho jogou no lixo e eu peguei – falou e me mostrou a língua.

Sn – hahaha que engraçada você – fiquei esperando ela explicar, na situação que estamos, bacon seria algo que eu sonharia na próxima noite.

Kate – senta para comer Sn e agradece.

Eu fiquei a encarando, não sou o tipo de pessoa que apenas deixa pra la e ela sabia muito bem disso.

Kate – você é realmente um pé no saco, eu vendi umas coisas minhas.

Sn – Kate!!!

Kate – não faz essa cara, foram coisas que eu não estava usando mais.

Realmente eu preciso de um emprego urgente.

Kate – quais os planos para hoje?

Sn – consegui um freela, tradutora de algum coreano que não me lembro – seja o que for que a Kate vendeu dessa vez, valeu a pena, esse bacon esta delicioso demais, ou faz tanto tempo que não como, que não me lembrava como era o sabor. Quando volto a atenção para ela, sinto um sorriso em seu rosto.

Kate – quem diria hein?!

Eu reviro os olhos porque já sei do que ela esta falando.

Sn – cala a boca ta bom? Alguma coisa aquele ásia tinha que deixar de bom, depois de acabar com meu psicológico.

Já entenderam ne?! Me envolvi com um coreano na época da faculdade. Era lindo, gostoso, tatuado, e eu me perdi em seu peitoral. Só de lembrar meu rosto começa a queimar. Um grande fdp, isso sim.

Kate – hey hey hey – ela balançou as mãos na frente do meu rosto – não viaja para aqueles músculos, volta aqui mocinha.

Sn – mas eram lindos músculos – rimos como se por um momento nossos problemas não existissem.

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