Espaço de Tempo

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Colocou a chave na fechadura e girou, em um clique a porta se abriu e ela soltou um suspiro. O dia cansativo de trabalho foi imediatamente recompensado quando seus ouvidos foram preenchidos pelo som das risadas gostosas e calmas. Seu marido, sentado no tapete, ainda vestia as roupas do trabalho, brincava despreocupadamente com as duas miniaturas que juntos colocaram no mundo. Quando a atenção foi voltada para si, a mulher abriu um largo sorriso e observou as crianças correrem ao seu encontro. Primeiro veio ele, os olhos cobertos pelos cachinhos escuros e um jeitinho desengonçado, deslizando em suas meias de super herói pelo piso de madeira da sala. A irmã disparou em seguida. Os mesmos cabelos escuros e cacheados tinham a franja presa em um lacinho gracioso. Chegou mais cautelosa e carregando consigo uma coelhinha rosa de pelúcia que sua mãe conhecia muito bem.
Se abaixou para receber em seus braços os filhos gêmeos, todos os problemas se esvairam da mente como um truque de mágica. Respondeu a todos os chamados e os ouviu contar aceleradamente sobre como foi legal na escola e que o papai os ensinou uma palavra nova em português, era algo que soava parecido com "boboca" na pronúncia infantil e francesa deles. Gargalhou mesmo sabendo que não deveria, era simplesmente impossível resistir. Se soltou do abraço para retirar os sapatos e adentrar finalmente ao lar, os irmãos voltaram a se entreter em uma disputa acirrada para decidir quem é melhor: o Homem aranha ou a princesa Merida. Assistiu seu marido se levantar e caminhar em passos tranquilos em sua direção, mais e mais próximo até que suas respirações estivessem entrelaçadas. Apoiou a cabeça em seu ombro e foi prontamente abraçada. Recebeu um beijo na testa e um selar em seus lábios, seguido de um sorriso e outro selar. Mais um sorriso e as crianças ainda brincavam de brigar.