Capítulo 1

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Rodrigo havia ido encontrar Luana como fazia todas as noites, mas antes que adentrasse no bar, ele vê Ramiro encostado em sua camionete, com uma cara nada feliz, ao ver do moreno o mais velho parecia aflito com alguma coisa.

— Ramiro ta tudo bem? Você não ta com uma cara muito boa...

— Ta sim dotô Rodrigo... Eu só num sei si é certo eu entra no bar hoje.

— Mas aconteceu alguma coisa que te impeça de entrar? Se você quiser conversar eu tô aqui. A Luana não vai ficar brava se eu não entrar agora.

— O dotô eu posso faze uma pergunta pro sinhô? Num quero ofende não.

— Claro Ramiro, pode perguntar o que quiser.

— Como é que é que o sinhô cunsiguiu namora com a Luana? Não me entende mal dotô, é qui eu num entra na minha cabeça como é que o sinhô cunsegui ignora o povo falano as coisa d'ocês.

— Ah Ramiro, acho que eu nunca me importei com o que os outros falam, e a Luana... Bom, a Luana é a melhor pessoa que eu já conheci! Ela é o amor da minha vida. Eu nunca me impediria de viver esse amor, de sentir esse amor que eu sinto por ela.

— Má dotô, nessa cidadi só tem genti falano da vida dozotro! O sinhô já deve de te ovido arguma coisa ruim sobre ocêis dois ta junto. Eu gosto da Luana má ela num é um homi vistido di muié? Essi povo fofoquero deve de te falado qui o sinhô num é macho.

— Ramiro, primeiro deixa eu te esclarecer uma coisa, a Luana é mulher sim, dessa vez eu vou relevar porque eu sei que isso é muito complicado pra você, mas eu não quero que você repita isso nunca mais! E principalmente não se atreva a falar isso pra ela, isso iria deixar ela triste e Deus sabe o que eu faria se você fizesse minha namorada chorar. Ela se entende como mulher, ela se sente uma mulher, ela é uma mulher. Se o povo dessa cidade não consegue entender isso, o problema é deles, desde que não a desrespeite. E também, porque eu teria que provar pra esse povo se eu sou macho ou não? A única pessoa que realmente se importaria com a minha "macheza" é a Luana, e ela sabe que eu sou macho, então porque eu iria me preocupar com os demais?

— O sinhô me discurpa dotô eu num falei por mal não. É qui eu sempri aprendi assim, má eu vô aprende pra modo de nunca mais erra, eu prometo pro sinhô.

— Mas Ramiro, eu acho que eu to começando a entender o porque você tava com aquela cara quando eu cheguei. Você sente algo por alguém que na sua cabeça não deveria sentir?

— Ô dotô Rodrigo o sinhô mi respeita qui eu sô macho! EU SÔ MACHO!

— Ramiro, calma! Eu sei que você é macho, e se realmente for isso, gostar de outra pessoa nunca iria te fazer menos macho. Agora me conta, você gosta do Kelvin né?

— Claro qui gosto dotô, ele é meu único amigo nessa vida todinha. Como qui eu não havera de gosta dele?

— Não Ramiro, não desse jeito, que você tem o sentimento de amizade por ele eu sei, to falando de gostar igual eu gosto da Luana.

— Mato grosso do céu! Dotô homi num podi gosta de otro homi!

— Eu não acabei de falar pra você que não existe essa história de que não se pode gostar de quem se gosta? Ramiro me diz como você enxerga o Kelvin? Seja sincero.

— A dotô, ele tem uma esperteza bunita sabe?

— Uhum, que mais Ramiro? Você acha ele bonito? E não se preocupe, eu não vou te julgar, to aqui pra te ouvir e quem sabe te ajudar.

— Ah ele pareci um anjin dotô, ele é uma furmuzura! Ele tem uns olho tão bunito, cum aquele negocio preto qui ele passa no zói fica ainda mais bunito. E o cabelo dele intão? É tão macio, pareci inté que ocê ta passano a mão numa pétala di frô di tão macio. E o sorrisin dele... Ah dotô aquele sorriso é a coisa mais bunita desse mundo todin! Tem aqueles buraquinho que aparece na buchecha dele qui deixa ele pareceno inté criança filiz, da até vontadi di faze ele sorri o tempo todo só pra modo di vê aqueles buraquin. E eu num posso dexa di fala di como ele olha pra mim, ele mi vê como genti, ele num inxerga o jumento qui o patrão diz qui eu sô, ele inxerga o Ramiro, o Ramiro dele, qui é como ele mi chama, e isso mi deixa tão filiz dotô, eu gosto di se o Ramiro do Kévin.

— Uau! Nossa Ramiro, você me deixou sem palavras! Posso dar minha opinião sincera? Você deveria aceitar esse sentimento, o amor não é e nem nunca foi um erro! Amar o Kelvin não vai te fazer menos macho, e se alguém por acaso falar alguma coisa você sempre pode processar, até porque homofobia é crime no Brasil desde 2019.

— Má dotô o patrão mi manda imbora si ele souber qui eu to cum otro homi! Eu num posso fica sem imprego dotô, tenho qui manda dinheiro pra minha mãezinha, e tamém a pobrizinha da minha mãezinha nunca qui ia di aceita um fío qui num é macho! Eu quiria ama o Kévin, má eu num posso... Então eu só gosto. Si o patrão mi manda imbora como qui eu vô cuida da minha mãezinha dotô? Eu num posso faze isso não, memo qui eu sinta o peito dueno toda veiz qui eu falo isso, memo qui aqui drento eu saiba qui eu sinto amô por ele, eu num posso dotô! É por isso qui eu tô aqui fora, eu sei qui eu num posso faze isso cum o Kévin, ele merece di se filiz! Má dói tanto pensa nele cum outro, eu preciso tira esse amô daqui di drento, memo qui isso mi faça sofrê, memo qui isso eu morre por drento. O Kévin é um anjin, i ele tem qui te alguém qui possa ama ele, e eu só posso faze mal, nem conta pr'ele qui eu amô ele eu num posso dotô.

— Ramiro, assim como eu disse que se alguém falar alguma coisa você poderia processar, o mesmo serve pro Doutor Antônio, se ele ameaçar te demitir ou até mesmo te demitir, ele pode ter que te pagar uma indenização bem gorda, diga-se de passagem, e responder o processo contra homofobia também. Então se o seu medo principal é ficar sem trabalho, isso eu já te adianto que não vai acontecer, e quanto a sua mãe, acredito que mesmo com toda essa problemática do preconceito enraizado, ela nunca iria te virar as costas, o mais adequado seria abordar o assunto de um jeito mais tranquilo pra não assustar ela, se um dia acontecer de você e o Kelvin ficarem juntos e você quiser ajuda pra conversar com ela, eu e a Luana podemos ajudar vocês, mas eu tenho certeza Ramiro, sua mãe nunca ficaria contra vocês dois, porque nenhuma mãe pode ir contra a felicidade do filho, seja como for, e se o Kelvin é a sua felicidade, então ela vai te dar o apoio que você precisa, tenho certeza.

— Ô dotô o sinhô disse uma purção di palavra qui eu num intendi, caso qui eu sô um jumento i num intendo as coisa, qui diacho é aborda? O sinhô ta quereno qui minha mãezinha faça um bordado pr'ocê? Acho qui ela num borda não, i o qui isso tem cum a nossa proza?

— Não é bordado não Ramiro, abordar é chegar no assunto, é o que eu fiz agora com você, eu abordei o assunto do Kelvin com você, consegue entender agora?

— Ah entendi, má dotô, o sinhô acha qui o Kévin vai quere fica cum jumento qui nem eu? Memo qui tudo isso qui o sinhô falo seje verdade, eu num sei si o Kévin iria quere fica cumigo, a gente ta proziano aqui má eu num sei si ele gosta di mim assim, i si ele num mi ama tamem?

— Ramiro, apesar de acreditar piamente que ele também te ama você pode perguntar pra ele, você pode falar pra ele...

— Má dotô si ele num mi quisé eu vo passa a maior vergonha desse mundo todin!

— Ramiro, você ama o Kelvin? Você ta disposto a tentar se ele te aceitar? Você realmente entendeu tudo que eu te disse?

— Eu amo o Kévin dotô, si ele mi quisé eu quero ele sim! O sinhô fala uma purção di palavra difícil má eu intendi sim, o amor qui eu sinto pelo Kévin é bunito por dimais pra gente num vivê ele! Si o sinhô qui é dotô, qui é inteligente disse qui num ta errado, qui memo si o patrão discubri ele num podi mi manda imbora eu acridito!

— Então Ramiro, olha pra trás, você pode perguntar isso tudo pro nosso querido Kelvin que eu ouso dizer que ouviu toda a nossa conversa, já que tem um bom tempo que eu vi ele ali atrás das árvores.

— Mé qui é dotô? O Kévin tava ouvino tudo? MATO GROSSO DO CÉU!

O Amor Venceu (kelmiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora