"E foi isso que rolou, Bia", escutou a voz do outro lado do telefone dizer em um suspiro, a voz tinha um tom levemente decepcionado e desanimado, e Bahia conseguia até mesmo tatear a frustração que escorria do amigo mesmo estando há milhas de distância. Era um completo contraste com o que o jovem era no começo daquela manhã e início da tarde, o esperançoso deu lugar ao insosso.
A mulher negra não segurou o bufar e o revirar de olhos, já sentindo a pele queimar em uma raiva que Sergipe não sentia, uma indignação que não lhe cabia e mais parecia que foi Pernambuco a aprontar — pobre Buco, que nem estava envolvido e sentiu a orelha esquerda queimar. Não conseguia acreditar que o Rio Grande do Norte havia proposto aquilo simples assim, como se nada fosse para o loiro. Que homens eram tapados, tinha ciência, mas isso? Isso era extrapolar todos os limites.
— Me diz que tu disse não — esbravejou, zangada, tão zangada que acabou por largar o garfo na mesa e perdeu todo o apetite. Franziu o cenho, o silêncio de Sergipe se tornando inesperado, coisa que deixou a baiana arrepiada de forma negativa. — Menino! Você negou, não negou?!
O galego permaneceu calado, somente a respiração rápida sendo audível. A cada segundo que passava sem resposta, a mulher ficava mais nervosa. Nera 'pussível' que aquele pirralho tinha aceitado uma coisa dessas, ele tinha titica de galinha na cabeça? Bahia bem sabia que tomar muito sol não faria bem e torraria todos os poucos neurônios que restavam em algum momento.
"A-Ah...", riu nervoso e gaguejante, dali a nordestina bem sabia que só viria merda. "Eu aceitei, Bia... Ele parecia tão desesperado por uma ajuda! Não consegui negar!"
Se desesperou para explicar, bem sabendo da tremenda bronca que levaria da mais velha por agir de forma inconsequente. Bahia suspirou fundo, passando a mão no rosto e soltando uma risada irônica. Não conseguia acreditar nisso, simplesmente não conseguia! Puta que pariu, gente apaixonada fazia cagada mesmo.
— Sergipe, eu te amo, cê sabe disso, mas porra, cê sabe que isso é uma baita furada, não sabe?! Onde 'sas coisas dão certo, meu cheiro? Cê tá se metendo numa coisa que não vai conseguir sair, e se sair não será do mesmo jeito que entrou — alertou, seu coração de mãe apertado pela situação. Era claro que sua irritação não passava de preocupação para com o mais novo, afinal bem sabia que Sergipe por vezes podia ser verdadeiramente ingênuo, e algo assim facilmente seria escalado para uma situação nada agradável, sem retorno.
"Tá tudo bem! Eu sei onde tô me metendo, tá bom? Não precisa ficar preocupada assim não, juro a tu que vou ficar bem", fez garantias e, por trás delas, conseguiu esconder bem que o seu maior medo era exatamente aquele que Bahia tanto alertava.
— Olha bem, tô confiando em ti, mas no primeiro indício de que tá tudo virando uma bola de neve e que você vai sair machucado, eu chuto o pau dessa barraca, visse? — Deixou avisado, ouvindo um confirmar do praiano.
A conversa não durou muito mais que isso, ambos nervosos por suas próprias razões e motivos. Cada um tinha seus próprios pensamentos, Bahia sentindo que não acabaria bem, Sergipe meio esperançoso.
[...]
Não tão longe dali e ainda em território aracajuano, o potiguar se encontrava pensativo. Pensativo sobre o que tinha rolado, como chegou ali e o que tinha falado ao sergipano, afinal onde estava com a cabeça quando disse algo esbaforido daquele jeito?
"Meu santo Deus, preciso que você namore comigo urgentemente, galego."
A sua frase estúpida rolou por sua mente novamente, o moreno gemeu e revirou na cama, escondendo o rosto no travesseiro para abafar o grunhido que soltou. Caralho, como não conseguiu segurar a língua? Esbaforida, parecia ter vida própria.
"É óbvio, sua mente tava no loirinho. Na boca dele."
Sua mente o traiu, e podia jurar que ouvia risadas de seus divertidamente zoando com a sua cara pelo que aconteceu. Ah, céus, só em lembrar automaticamente ficava envergonhado, mas também aliviado por Sergipe ter aceitado no final das contas, pois jurava que seria negado e tudo iria por água abaixo, afogado ou fisgado por uma rede de pesca.
"— Tudo bem, eu aceito ser seu namorado, Potiguar.
Assim que escutou aquelas palavras, o brilho de imediato voltou para as orbes do dito cujo. Rio Grande do Norte se levantou de onde estava sentado, naquela cadeira branca da sorveteria praticamente vazia, e puxou o pobre sergipano para cima, abraçando-o com força. Um peso saiu de seus ombros e coração com a confirmação, o passo um completo e pronto para dar início ao passo dois de toda baboseira.
— Muito obrigado, cê é um anjo! Salvou minha pele, galego! — Usou o apelido sem perceber, ainda enfadado naquele abraço meio desajeitado. O maior não pôde deixar de notar o delicioso cheiro que provinha de Sergipe, fungando levemente antes de se afastar e olhar para o rosto bonito do rapaz.
Sergipe estava levemente vermelho, parcialmente desnorteado e ainda processando o que acabara de acontecer. De modo automático, apenas balançou a cabeça em confirmação, sequer notando a encarada que recebeu do moreno — se tivesse percebido, entraria em curto-circuito.
Sem graça, se afastou do potiguar e olhou para os lados. Tinha aceitado, mas não significava que a garganta não estava seca e travada, precisava mesmo dar um jeito de sair do ambiente, dizer adeus ao amigo e organizar os pensamentos, falar com Bahia e colocar um pouco de juízo que lhe faltava.
— A-Ah, podemos ver os detalhes mais tarde? — Voltou ao planeta Terra, perguntando ao dono da confusão e encarando ele depois de minutos. Instalou-se um breve silêncio, olhos cor de mel encarando lumes cor de âmbar, se perdendo para se encontrar mais uma vez para, outra vez, se perder.
— Claro que pode... — murmurou, piscando ao que encarava os lábios chamativos e engolia em seco com dificuldade. Balançou a cabeça, lembrando de onde estava e qual era a situação. — Digo, claro que pode! A gente pode acertar o resto mais tarde."
Bom, tecnicamente agora era o mais tarde, correto? Com pressa, Norte puxou o celular debaixo do travesseiro e rapidamente o ligou, não tardando em mandar mensagem para o dito surfista que nadava em seus pensamentos.
[16/09 21:05] Você: ei
[16/09 21:05] Você: pode falar agora?
Mandou as mensagens, não desgrudando os olhos da tela e nem piscando, vendo o momento em que os traços ficaram azuis e o "digitando" deu as caras. O estômago do moreno afundou em nervosismo, que potiguar não fazia ideia do porquê.
[16/09 21:06] Gipe: oi!
[16/09 21:06] Gipe: posso, é sobre hj?
[16/09 21:06] Gipe: tem alguma ideia?
Rio Grande leu a mensagem e pensou a respeito. Ele tinha alguma ideia? Não. Ele sabia o que fazer a partir dali? Também não. Tinha esquivado por completo dessa parte e focado unicamente em arranjar um namorado.
[16/09 21:08] Você: pra ser sincero
[16/09 21:08] Você: não
[16/09 21:08] Você: mas acho que a gnt pode decidir como começamos a "namorar"
Os tracinhos azuis novamente surgiram, indicando que as mensagens tinham sido visualizadas, entretanto passou-se dois, três, cinco, nove minutos e nada da resposta vir. Será que Sergipe tinha desistido da ideia? Se tocado que era uma merda e abandonado o barco que nem havia embarcado ainda? Estava prestes a mandar outra mensagem quando uma, que não era da pessoa que tanto queria e esperava, chegou.
[16/09 21:31] Brazuca: Uma boa noite a todos vocês! Passando para avisar para não esquecerem da nossa confraternização nesta sexta na casa da Alagoas.
— Fodeu.
[...]
Atualização completamente aleatória da madrugada somente porque eu tava com vontadeKKKKK.
Eu realmente espero que desfrutem do capítulo e gostem, tenho ele escrito há algum tempo e acabei decidindo por publicar hoje.
Mas é isso, até dia 05/11! Dessa vez de verdade.
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Só de Mentirinha
HumorCansado e desesperado para achar uma saída, Rio Grande do Norte não aguentava mais ser xavecado a todo momento e lidar com flertes torto a direito. A solução, dada por seu cunhado Paraná, foi a mais mais simples e fácil de todas: Passo um: arranjar...