Ramiro aceitou as cervejas que Kelvin trouxera para si e para Nando, no intervalo do show do cantor. O bar estava muito movimentado aquela noite e o garçom não conseguia parar por mais de cinco minutos. Como já estava se tornando amigo de todos ali, o peão não sentia mais necessidade de ficar isolado enquanto aguardava para ter alguns minutos a sós com Kelvin. Frequentemente sentava-se com Nando ou Luana e jogava conversa fora.
Tomou um gole da bebida gelada e desejou que fosse uma dose de rum ou de cachaça, de que gostava mais que de cerveja. Mas sabia que levaria Doninha Agatha de volta para a pousada no fim da noite, então não era bom arriscar com nada mais forte.
Nando acabava de colocar a garrafa dele de volta na mesa quando Kelvin passou pela mesa novamente a caminho do balcão. Não parou para conversar, mas piscou para Ramiro, sorrindo. O peão o seguiu com o olhar até ouvir uma risada curta de Nando. Voltou-se para o cantor, que o encarava sorrindo, mas sem malícia.
— Tá rindo de que, Nando?
— Acho bonito você e o Kelvin. — respondeu, dando de ombros.
Ramiro o olhou, desconfiado. — Eu e o Kevinho o que?
— A relação de vocês. Às vezes fica um olhando pro outro com cara de besta, mas eu acho bonito. — concluiu, relaxando contra o assento, não parecendo que iria se importar muito com a já conhecida reação do peão.
— Quem que ocê tá chamando de besta, Nando? E outra: eu não tenho nada com o Kevinho não que eu sou macho!
Seu primeiro instinto fora levantar e sair pisando duro, mas resistiu. Tinha que cuidar de Agatha e, se fosse sincero consigo mesmo, não queria brigar com Nando. Especialmente para defender uma macheza que vinha machucando-o cada vez mais.
As conversas que tivera com Luana e Zeza não saíam de sua mente. Via valor nas palavras deles. Acreditava que Luana era corajosa e, por sua própria definição, macho. Bom, "macha", no caso dela. Ainda estava aprendendo essa parte. E Zeza... Ramiro sabia que ele nunca fora casado, mas lembrava-se vagamente de vê-lo desfilando com namoradas para cima e para cima baixo quando era mais novo. José Castilho tinha sido muito namorador e tivera a fama de seduzir mulheres casadas na juventude. Pela definição de Ramiro, ele era macho. Pela própria, também era. Mas era só essa que Zeza aceitava como certa. Ele era macho não por ser homem e gostar de mulher, mas por aceitar e demonstrar como era de verdade, um hetero sensível.
Nando soltou uma risada debochada pelo nariz.
— E o que que é ser macho pra você, Ramiro? Além de não gostar de outro macho. — o cantor imitou a voz e a expressão emburrada do peão.
Ramiro ignorou a alfinetada e pensou um pouco antes de responder.
— Macho não tem medo de nada. Num foge de briga, honra seus compromissos... — tentou lembrar-se de mais alguma coisa que sempre ao crescer — Ah, não chora e, claro, só gosta de mulher.
Encarou Nando, orgulhoso. Mas Nando não parecia muito impressionado. Parecia desapontado, na verdade, como se esperasse mais da definição de Ramiro.
— Bom, então eu não sou macho, não. — deu de ombros, rindo um pouco. — Eu gosto de mulher e honro meus compromissos. Na medida do possível, às vezes atrasa. Mas eu choro até em comercial de manteiga. — admitiu, ainda rindo. — Medo eu tenho dois: cobra e palhaço. Morro de pavor desde criança. Briga eu nem me meto, se eu puder evitar. Às vezes, tem que dar uns socos por aqui quando alguém passa dos limites com as meninas, mas fora isso? Eu sou da paz. — Tomou outro gole de cerveja e sorriu novamente — Então, pela sua lista, eu não sou macho não.
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"Macho"
ChickLit5 vezes que Ramiro ouviu diferentes definições da palavra "macho", contadas por diferentes pessoas. E a vez a que ele criou a sua própria definição.