Poesia da favela

"Esse Moleque, Bomba

Sabe aquele moleque, que na escola ninguém gosta?
Conheci há tempos atrás
Trombei um na minha trajetória

Menino talibã mesmo
Envolvido em várias fitas
Até as tias tinham medo dele
Do tipo terrorista

Pulava muro, roubava a escola
Explodia bomba
Me mandou tomar no cú várias vezes
Até perdi as contas

E ele não era "paga pau"
Até o pátio ele roubava
Já fez muito GCM passar mal

De todos, já tinha ouvido a sentença:
"A policia ainda te mata"
E ele ria, parecia que não tinha medo de cadeia

Alucinado, sempre tenso, não abria margem à conversa
Conheci desde de pequeno
Moleque que nunca soube o que era a tal da vida correta

O tempo passava, ele crescia, o sistema engoliu
Se fosse pra eu chutar...
Arisco dizer que até na cara da morte, ele ainda riu

E os aplausos vieram
Falaram muito, fez-se o grande circo
Sorrisos descontraídos
Parece que todos esqueceram que ele ainda era menino

A justiça da rua de novo se fez.
Mas não foi juiz nenhum que novamente decidiu desta vez

Troca de tiros, revide?..
Fato é que morreu freguês
Quem me contou a história
Diz que não estava lá, então não sei.

O que eu sei é que enquanto muitos dormem mais aliviados
Vejo o circo fechando...
Cada vez mais pro nosso lado

Afinal ele foi mais um dos 5, 6 que já mataram por aqui
Prisão por flagrante ou chacina?
Está difícil discernir.

Em ano que status é selfie com a polícia
Pergunto-me até onde eles iriam...
Pra ser sempre a foto do dia

Não consigo achar bonito
Jovem morrendo de tiro
Tenho consciência que de algo passou batido
Nunca olhei nos olhos aquele menino

Não consigo achar bonito
Jovem morrendo de tiro
O que foi roubado, nem o que roubou
Eu estou falando é de criança e de adolescente
Tem coisa errada...abre essa cabeça, por favor.

Constituição, político deve pegar e limpar a bunda
Enquanto pobre paga nas ruas resquíscios da ainda "Viva Ditadura"

Crime praticou, eu sei
Mas o que todo mundo defende, não é o cumprimento da lei?

Pena de morte só existe pra pobre
Enquanto políticos assinam mais emendas inúteis, pode?

Mas aquele menino...sabe?! Que eu estava contando
Então...eu durmo sabendo que dificilmente alguém já havia perguntado: "Ei, moleque qual era o seu sonho?!"