Afogando

243 47 385
                                    


Alguns meses atrás, em um lugar não tão distante...


A dor de uma levar uma martelada em sua cabeça provavelmente era muito parecida com o que Love sentia naquele momento, e o brilho do sol em sua direção era tão incomodo que a mesma decidiu manter suas pálpebras fechadas por mais alguns minutos, tudo isso era por conta  exclusivamente dela e da bebedeira da noite anterior mas não havia culpa dentro  da loira na verdade ela já conhecia bem essa sensação o álcool tinha se tornado seu melhor amigo nos últimos meses na verdade provavelmente o último com quem ela tinha tido contato também, afinal após ser deixada por Miguel sua vida não tinha sentido, todas as cores foram embora junto com ele, as risadas, o empenho, a vontade de levantar e se arrumar, os dias de compras com os amigos tudo isso parecia extremamente distante mas ela sabia que um dia Miguel iria retornar, era apenas uma questão de tempo até ele perceber que tinha cometido um erro com ela e consigo mesmo e então eles voltariam a ser o casal que eram no inicio, apaixonados, inspirados, e famintos um pelo outro.

A fome foi o que fez a mesma levantar da cama, encarar o sol, os sons e tudo que podia aguardar ela no andar abaixo, mas a única coisa no seu caminho eram garrafas de vinho, vodca ou cerveja, em algum ponto o gosto de bebida barata deixa de ser reconhecível e qualquer coisa é o suficiente para ela resolver se afundar em bebida,  afogando tudo que ela costumava querer esquecer como o fato de Miguel estar namorando outra pessoa e ela ficar cada vez mais solitária.

Nesses momentos sua maior companhia era a emoção das memórias da última caçada, Love se lembrava de quando esteve no meio de um grande servidor de sistemas, lembrava de Bruno agachado junto com o resto da equipe enquanto a loira patrulhava para garantir que ninguém descobriria que eles estavam ali, enquanto patrulhava a percepção entre a realidade e o passado se transformava mais frágil caminhando com uma arma na mão se lembrava dos momentos em que fora em missão a serviço do exercito dos estados unidos, Love fez algumas missões e uma que foi o motivo de sua aposentadoria daquela vida, mas parte do corpo e mente dela ainda pareciam estar no meio da guerra, e realmente estavam, mas dessa vez contra coisas que se ela falasse sobre a chamariam de louca.

Mas Love tinha outros que assim como ela sabiam que os seres sobrenaturais existiam e estavam muito mais presentes do que os filmes e livros poderiam retratar e naquela memória eles estavam dentro de uma base secreta invadindo servidores para conseguir as plantas de locais que pertenciam a outras criaturas sobrenaturais que no fim os levariam a matar uma vampira, o corpo da loira já parecia ficar mais ativo ao lembrar dos tiros que mataram a sangue suga e seus servos. 

Mas infelizmente a realidade tende a ser decepcionante quando não se tem o que fazer no dia a dia mundano, além de seguir e conversar com outros que mantinham contato com Miguel, Love não podia se aproximar muito, mas jamais perderia o rastro de seu amado, tinha que saber tudo sobre ele, tinha que estar pronta para cada detalhe e cada ameaça e para o momento que o novo relacionamento fadado ao fracasso dele iria acabar, mas até lá Love sentia uma necessidade urgente de emoção.

Foi quando Love ouviu um toque de campainha, o que era incomum pois a mesma não esperava ninguém, ela então rapidamente arrumou seu cabelo, guardou as duas garrafas em sua sala e cozinha, e dirigiu-se a porta, quando abriu Love viu um homem de pele branca, ele não era alto possuía provavelmente um metro e setenta e alguma coisa, mas era mais alto que Love, ele usava um terno preto acinturado que se modelava no corpo dele fazendo ele ter uma postura quase impecável e destacar o corpo, uma camiseta branca com gola na altura do pescoço, longos cabelos pretos e olhos castanhos que pareciam estar bem focados em Love, graças a sua família sabia bem reconhecer um homem que vinha tratar de negócios o que era bem frustrante, a garota imaginava que ele estava lá como mais um advogado da família oferecendo mais dinheiro, um trabalho monótono  para que a mesma voltasse a morar com sua família que era isso que imaginava que aquele homem fazia ali embora algo em sua mente parecia divagar ao vê-lo. 

-Posso entrar? - Perguntou o homem em um tom sério  - Acredito possuir assuntos que sejam de seu interesse senhorita Williams.

-Entre - Love então abriu a porta dando passagem para o homem esperando ele começar o discurso clássico sobre a importância da família mas ele apenas entrou e foi em direção a mesa colocando a maleta dele sobre a mesa.

Love achava estranha a forma de ele se portar, ele parecia mais analítico que os outros, mais observador,  e definitivamente muito mais silencioso, de certa forma Love se sentia levemente intimidada, teriam seus pais partido para uma abordagem mais agressiva? Contrataram um advogado melhor dessa vez?

-Olha, vou dizer logo assim você não perde seu tempo e eu não perco o meu tudo bem? - Disse ela - Se isso for sobre eu voltar para casa dos meus pais, ou arrumar um novo marido, ou desistir do Miguel isso não vai dar certo eu estou muito bem aqui.

-Não se preocupe, não estou aqui por isso, estou aqui por conta disso - Disse ele.

E então Love se aproximou da mesa, várias fotos dela espalhada, várias fotos de seus parceiros na sua missão anterior com armas, com bazucas, com explosivos e carros lutando contra a vampira, fotos que provariam que seres das noite existem mas também provariam que Love é uma assassina que cometeu crimes de guerra, o que a poderia levar a prisão junto de seus companheiros caçadores, aquilo não era um bom sinal.

-Quem é você? E o que você quer? - Questionou ela.

-Eu sou alguém que costuma contratar pessoas como você e seu grupo, eu trabalho com pessoas que tem interesses nos serviços de vocês, acredito que futuramente será preciso que vocês cacem algo para nós e possuo provas para mostrar que sei o que você realmente é.

-Então você é um caçador também?  Você por um acaso não teria envolvimentos com vampiros ou não é contratado por eles não é? Seria muito ruim para você se eu descobrisse que sim, já matei uma boa quantidade de vampiros - Disse ela com um leve tom de ameaça ao perceber que estava em uma posição desconfortável onde ele parecia ter muito mais poder sobre ela e sobre a situação atual.

-O único envolvimento que eu costumo ter com vampiros é a carne que sobra dos corpos  mortos deles embaixo das minhas unhas  - Disse ele dando um sorriso levemente debochado de canto.

Era claro para Love que ele era confiante e provavelmente mais poderoso do que iria dizer para ela naquele momento, mas ela não se importava tanto, era na verdade bom saber que em breve poderia ter um novo contrato, era como se ele desse novamente a possibilidade de reacender a chama da caçada dentro dela, o que fez ela sorrir para ele.

-Ótimo então, meu número é esse, quando precisar, embora eu acredite que você já tenha ele, e posso saber o seu nome? - Disse Love entregando um pedaço de papel com o número dela anotado.

-Meu nome é Marco, Marco Bianchi, e sim, eu já tenho seu número, entrarei em contato assim que necessário, tenha um bom dia - Disse ele após arrumar a mala e se dirigir a porta.

-Para você também - Disse a garota sem saber que aquele homem em poucos meses se tornaria seu inimigo e seu maior desafio.



Noites de CaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora