Saudade

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Diogo 


Depois que a Paolla saiu da minha casa eu passei uns trinta minutos parado em frente a porta tentando assimilar o que ela disse. Tempo. Ela me pediu um tempo. Tá,isso não é um término. Não é o fim do nosso amor. Ela só quer um tempo pra - segundo ela - colocar a cabeça no lugar. Respiro fundo uma,duas e na terceira vez desisto de fingir plenitude e volto pro sofá pra chorar e beber,de novo. 

Eu quero esquecer o que falei pra ela porque sei que passei dos limites - não só dessa vez - e queria apagar todas essas discussões da nossa história pra que só tivesse os momentos bonitos e bons pra lembrar mas não dá,a merda já tá feita e eu sou o culpado por tudo. Olho pro maldito colar em cima do sofá e jogo ele contra a parede com raiva. Eu juro que se soubesse onde esse infeliz de Mário Garcia está iria até ele nesse exato momento esmurrar a cara dele. 

No fundo eu sei que ele só é um maluco que cismou com a Paolla e tá criando coisas na cabeça em relação a ela mas a forma como ele se expressa,como sabe coisas tão íntimas sobre ela e como parece ter acesso a objetos pessoais dela me deixa com uma pulga atrás da orelha. Como?Como ele poderia saber dessas coisas?Como ele teria pego esse colar,por exemplo?Quando?Eu não consigo encontrar nenhuma resposta plausível pra nenhuma dessas perguntas e é aí que a minha paranóia começa. 

Minha mente dá voltas e mais voltas,cria situações,me engana e me deixa mais inseguro do que eu já sou e é daí que eu acabo falando o que não devo pra minha namorada que sim,é a pessoa em quem eu mais deveria confiar nessa vida. Ela merece todos os votos de confiança que eu não consigo dar. Ela é vítima nessa história mas eu sempre acabo a colocando como culpada,eu sou um idiota mesmo. Me arrependo de tudo que disse,que fiz e de todas as vezes que magoei a mulher da minha vida. Será que agora é tarde pra se arrepender?Será que se eu fosse atrás dela nesse momento ela iria me ouvir?Não,com certeza ela iria bater a porta na minha cara,ou melhor,ela não ia nem abrir. 

Olho a hora no meu celular e já se passam das uma da manhã e eu continuo bebendo até não ver mais nada e dormir nessa situação deplorável. Acordo com a cabeça quase explodindo de dor e o corpo todo dolorido da posição em que dormi no sofá. Levanto um pouco tonto e ando até a cozinha pra beber um copo d'água devido a minha boca estar muito seca. Aproveito pra fazer um café bem forte e tomar um anti-inflamatório. Olho em volta da minha casa e ela é tão vazia e sem graça sem ela. O silêncio parece gritar que eu sou um idiota e enquanto espero a água do café ferver vou até a área externa ver as flores que ela havia plantado ali. 

São muitas e são lindas assim como ela. Noto que estão um pouco murchas e secas e resolvo regar todas elas sem pressa sentindo saudade de quando a Paolla está aqui e cuida pessoalmente delas como quem traz vida pra cada uma. Cheiro a maioria das flores que ela plantou mas é impressionante como nenhuma tem o cheiro dela,nenhuma é tão deliciosa como a minha flor de caña. Sinto falta dela e hoje só é o primeiro dia do tempo. Será que vai demorar?Será que ela vai querer me fazer sofrer por quanto tempo?Respiro fundo e volto pra cozinha pra terminar de fazer meu café e tomar de uma vez por todas. Meu celular vibra em cima da bancada e corro até ele na esperança que seja ela me dizendo que não consegue ficar longe de mim e que me perdoa. 

Abro um sorriso quando noto que sim,é ela. Abro a nossa conversa e clico no áudio que ela enviou ouvindo com atenção: 

"Diogo,bom dia. Fui deixar o Davi no colégio e pelo que me parece ele vai sair no horário normal,okay?Ele te espera lá". 

Tá,ela não falou o que eu queria ouvir mas ela cuidou do meu filho e isso significa que ela ainda quer algum contato comigo,não é?Tem que significar isso. Respondo o áudio dela agradecendo por ter feito esse favor em cuidar do Davi e levá-lo pro colégio aproveitando pra perguntar se ela está bem. Paolla demora a visualizar e isso me deixa nervoso e ansioso mas ela não responde nada e isso me frustra muito. Termino de tomar meu café e volto pro sofá me deitando de novo e olhando pras paredes sem ânimo nenhum. 

A Flor e o Furacão🌺🌪Onde histórias criam vida. Descubra agora