O cativante canto dos pássaros junto da tranquilizante toada da queda d'água e a bela melodia ouvida ao longe, produzida pela harpa do anjo musicista que vivia na mais alta montanha na companhia de seus aprendizes, criando um contraste com a fragrância das mais diversas flores encontradas por toda a extensão do Jardim Celestial, ah!... Não havia melhor combinação existente para um anjo. O ambiente, o lar, perfeito criado pela Divindade.
O cupido novato de cabeleiras escarlates, diariamente após suas aulas, voava para uma das cachoeiras do Jardim Celestial e lá passava horas a fim de aproveitar seu tempo livre desfrutando do som harmonioso, lendo e relendo seus preciosos livros de contos de fadas. E a primorosa combinação de sons tornava extraordinariamente mágico a absorção das graciosas palavras descritas em linhas nas páginas amareladas com aroma de paraíso. Um tempo deveras valioso para o jovem anjo. Mas, bem, não existiam cachoeiras em Saiph, muito menos um anjo musicista. Contudo, felizmente, ainda era possível dispor do canto dos pássaros... e como era possível! Dia após dia, bem cedinho da manhã, uma família inteira de canários vinha à janela do cupido para acordá-lo com uma formosa canção. E por mais que Beomgyu apreciasse, seus pobres ouvidos ainda habituando-se ao novo ambiente sofriam um tantinho.
Tão barulhento...
Nos dias que se seguiram, Beomgyu e Yongbok enfim deram início às suas respectivas missões. A relação entre ambos, porém, mantinha-se tão fria quanto um gigantesco balde de gelo. Não se comunicavam e mal trocavam olhares. Jamais permaneciam por grande tempo no mesmo cômodo que o outro. Mas, ironicamente, a refeição da manhã era feita naquela mesma doceria, juntos, sem faltar um dia sequer. E em uma dessas ocasiões, ao que se empanturravam de tortinhas e geleias, foram arrastados para fora pela orelha por uma severa Ahn Hyojin, que acabaram por descobrir ser a proprietária do local.
"Se continuarem a comer tantos doces assim terão cáries, ou pior, diabetes. Vocês são jovens demais para isso, precisam se alimentar de forma correta." ㅡ A mulher dizia como quem dá bronca em uma criança.
Naquele dia e nos posteriores, os cupidos depararam-se com numerosas iguarias da Terra que nem sequer sonharam poder existir. Os pratos salgados e mesmo os picantes eram realmente de dar água na boca, e agradeceram de joelhos à Divindade pela sabedoria e criatividade cedida ao ser humano. E dentre tudo o que puderam experimentar, o que de fato mais apreciaram foi o que nomearam de "disco quente que estica" ㅡ ou simplesmente "pizza" para os nativos da Terra. E obviamente que o "disco doce", como optaram por chamar devido à complexa pronúncia do nome correto que enrolava suas línguas, tornou-se o favorito de ambos.
Anjos ou formigas, nem mesmo a própria Divindade saberia dizer.
E pobre de Ahn Hyojin que pelejava a todo custo fazê-los comer de forma saudável.
Beomgyu e Yongbok se separavam após a refeição da manhã, se encontrando novamente apenas ao fim do dia, quando retornavam ao lar temporário e, da mesma forma, faziam juntos a refeição da noite, imersos em uma atmosfera silenciosa. Nesse intervalo precisamente, cada qual ocupando-se em cumprir suas próprias missões, foi inevitável para Beomgyu reconhecer que os humanos, de fato, raramente notavam sua presença, fazendo somente ao falar diretamente com eles ou sendo barulhento demais para ser ignorado. Fora essas exceções, era quase um completo invisível.
A concepção de ser nada mais que um mero expectador no cotidiano daquela pacata cidade, privando-o de formar vínculos, fazia despertar um lampejo de melancolia no interior do cupido curioso. Ariel, ainda que sem a voz, ao menos era notada e admirada por todos ao redor graças à sua aura cativante. Quanto ao cupido, bem... ele não compartilhava da mesma sorte.
Nos primeiros dias de missão, Beomgyu não fez mais que seguir seus alvos, visando estar seguro de não cometer um grande erro. Não que duvidasse que sua superiora fosse descuidada à ponto de trocar alguns nomes nos pergaminhos, era apenas cuidadoso demais ㅡ por ser desastrado demais. Conhecia bem o poder da flecha e qualquer erro poderia custá-lo a liberdade. E não pretendia ser castigado e banido para o Vazio, sendo esse o maior castigo que um anjo poderia receber. E não desejava isso nem mesmo ao seu pior inimigo ㅡ Yongbok.
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Cupid is so Dumb
FanficEm um mundo onde os cupidos são responsáveis por garantir o amor entre os humanos, há um novato um tanto curioso e atrapalhado que, numa confusão inesperada, acaba sendo atingido por sua própria flecha, apaixonando-se acidentalmente por seu alvo hum...