Fazia tempo que eu não dormia, quando a luz do sol bateu em meu rosto como de costume quis apertar meus olhos o que me ajuda a acostumar com a luz, mas dessa vez algo me impedia de erguer meu braço.
Babando sobre minha camisa cinza estava uma garota de cumpridos cabelos negros e cílios cumpridos. Miriane Perlon, eu me lembro de tantas fases dela que me faz sentir um nojento em tê-la na mesma cama que eu.
Me lembro da dor de quando ela puxou meus cabelos quando me pediram para falar com a bebê, me lembro dela pisando no meu cavalo de madeira e chorando antes que eu pudesse chorar meu brinquedo quebrado, me lembro dela usando coroa e gritando que queria brincar de chá.
Me lembro até de quando Tobias e eu brigamos porque ele acreditava que eu queria me casar com a irmã dele de cinco anos.
Os Perlon são hoje uma família influente e sempre muito bem recebida em muitos eventos, mas quando o conde assumiu seu lugar as coisas não eram tão boas e depois da ajuda do meu pai puderam achar conveniente colocar o futuro de uma criança junto ao de um feto que não sabiam que existiram.
E agora ela está aqui.
Tão bem treinada que mamãe deve estar se debatendo embaixo da terra para tomar o controle da situação.
Observei os detalhes de seu rosto mesmo que cobertos pelos fios rebeldes, as bochechas relaxadas, os lábios semi-abertos e um olho mais torto que o outro, isso além da saliva que pinga em minha camisa.
Como ela pode continuar bonita? Realmente, muito bem treinada.
Tentei me mexer sem acordá-la, mas falhei.
Entretanto ela não se importou, só virou seu corpo se virando para o outro lado como se estivesse exausta.
— Não me encha Jeremiah, seu idiota.
Virei o pescoço e encarei seus cabelos bagunçados, a garota achou estar sendo incomodada pelo irmão mais novo o que me faz notar o quanto esse personagem de mulher conquistadora não é ela.
Coloquei toda a minha força sobre meus punhos para me sentar e virei meu corpo usando meus braços para ajudar minhas pernas a saltarem para fora da cama.
Juntei minhas mãos entre minhas pernas e encarei a porta adiante de mim, pelo que tenho tentado mas visitas do médico são 14 passos, 14 passos e eu estou fora desse quarto.
Mas eu não consigo dar nem mesmo a droga dos 8 passos até o banheiro.
— Eu ajudo você.
Ela não pergunta, não me questiona, nem mesmo sabe do que eu preciso e insiste em dizer que me ajuda.
Meu humor não me deixou respondê-la, se deixasse ela sairia chorando novamente.
— Claro que você não precisa da minha ajuda, tanto faz pra mim.
Eu não consigo levantar dessa cama, não está óbvio que eu preciso.
— O dia está tão bonito hoje, mas fui só até a casa dos Walter ontem preciso continuar trabalhando — A observei enquanto ela andava decidida pelo quarto — Sabe como é, por trás da fala de um grande homem sempre se tem uma grande mulher e se você se recusa a sair dessa cama cabe a mim carregar toda a fama e prestígio — Ela se virou para mim e sorriu — Afinal sou uma Benedict e isso tudo é meu, pedirei para Janete lhe trazer o café da manhã, sobrou do bolo que eu mesma fiz.
Como se não fosse mais voltar depois de estar a noite inteira me esquentando do frio Miriane pegou seu travesseiro e seu livro, em seguida deixou meu quarto temporário sem olhar para trás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cruel Capitão
Ficção HistóricaRecluso a anos em alto mar, o capitão George Benedict precisa retornar a seu lar com a piora na saúde de seu pai. Miriane Perlon é a segunda filha de um conde, observa de longe a movimentação de sua casa em sua primeira temporada sem chances de rece...