ghosts and creatures

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I knew from the start
full of ghosts and creatures within our hearts.
A ship in a lonely sea,
the clouds are waiting on our spark.

Esqueço que tenho tanto medo.
Que sou vulnerável, frágil.
Quando eu era mais nova, me achava feia,
péssima, pavorosa, medonha, monstruosa.
Burra, estúpida, desprovida de qualquer tipo de inteligência.
Mas será que eu (realmente) nasci assim?
Eu aprendi a ser assim ou nasci assim?
Ou talvez eu só me odiasse tanto ao ponto de só me ver dessa forma e não saiba como é ter amor próprio (em todos os seus sentidos).

Com dezenove percebo completamente o contrário.
Eu era muito inteligente.
Na verdade, algo me confirmava todos os dias que era inteligente, eu só não acreditava.
Autossabotagem na adolescência.
Mas não posso dizer que acabou. eu não me acho inteligente, muito menos genial.
Quando todos sugeriam ideias incríveis na aula de matemática, eu era quem dizia o básico: faz uma lei dos cossenos, usa a geometria para encontrar os pontos e depois fazer uma equação da reta.
"use a geometria"
O básico que funciona.
A vida é o "use a geometria".
As vezes, a nossa inteligência se baseia no básico, mas é isso que nos torna genial, que nos dá inteligência.
Pena que só percebi isso aos dezenove anos.

Aos quase vinte, noto que ainda me questiono se sou bonita,
Se meu corpo é bonito, ou ideal
Se deixo de ser melhor do que alguém por ter este biotipo.

Quase vinte anos, e ainda é o mesmo questionamento de quanto eu tinha quinze.
Mas meu corpo era tão bonito, o que fiz com o meu corpo?
Talvez eu só tenha crescido,
ou talvez eu esteja descontrolada.

Ainda questiono minha inteligência. Ainda me chamo de burra todos os dias.
Ainda me lamento por uma nota nove porque talvez eu não a mereça.
Eu era tão inteligente aos dezessete, como que regredi tanto?
Mas, aos dezessete, eu me achava a pessoa mais burra da sala e tinha certeza que nunca passaria em um vestibular.

Pensamentos tão contraditórios em poucos anos.
Vejo que meu pensamento não evoluiu tanto quanto deveria.
Os mesmos questionamentos ainda permeiam a minha mente.
Acho que aprendi a me odiar e não a me amar.

Aos trinta poderei perceber o quão foda eu era aos vinte.
O quanto que meu corpo era ideal e bonito aos vinte.
O quanto que eu era inteligente aos vinte.

Aos quarenta, sentirei falta dos trinta, dos vinte, dos quinze.

As we eletrify,
the lightning bugs look for our heart.
Like ships in a lonely sea,
cut down, an afterthought.

Nunca será ideal. sempre colocarei um problema na frente, uma desculpa para não gostar de mim mesma.
Uma desculpa para não me amar, para não ficar bem.

Aos quarenta e cinco devo perceber que a velhice está chegando.
A minha pessoa de dezenove anos diz que a minha pessoa de quarenta e cinco irá fazer plástica e botox para disfarçar a velhice.
Ou que serei uma delegada muito foda, renomada.
Será que terei inteligência e capacidade para isso? provavelmente não.
E mais uma vez eu me autossabotando por uma fase que ainda nem chegou.
Talvez eu ainda não terei amor próprio até lá.

Aos cinquenta, vou querer voltar aos quarenta,
Aos sessenta, voltar aos cinquenta
Aos setenta, voltar aos sessenta.
Aos oitenta, voltar aos setenta.

Provavelmente não viverei tantos anos mas, tal coisa é fato.
eu nunca me compreendi por inteiro.
Nunca reparei na minha imensidão aos dezessete, aos dezenove.

And I don't even know,
back down to get together.
What's to be surprised?
Wake up, we need another one.

Eu não sabia aproveitar os momentos bons,
as oportunidades.
Eu estava presa demais na minha insegurança,
nas minhas imperfeições.
Eu não me conhecia, não sabia lidar comigo mesma.

E assim digo, será que um dia irei aprender a me amar?
Será que um dia irei viver genuinamente o que a vida pode me proporcionar?

Talvez um dia eu me apaixone por quem sou.
Talvez um dia eu deixe meu passado de lado e pense no meu futuro.
Talvez um dia eu serei (genuinamente) feliz.
Talvez um dia eu viva a vida que tenho que viver.
Talvez um dia eu aprenda que me odiar só me traz traumas e problemas.

Quando isso acontecer, me questionarei o porquê de não ter percebido o quão bom é viver antes.
mais questionamentos.
Ainda estarei me questionando.
Será que um dia minha mente ficará livre de questionamentos?
Será que um dia minha voz insuportável não habitará meus pensamentos?
Talvez eu morra permeada de pensamentos.

Yes, I need a friend.
Seeing things in black and white again.
A man in a lonely sea,
cut down, it never ends.

Quando eu morrer, me questionarei (novamente) o porquê viver era tão bom e eu não havia reparado.

Por que o eu de quinze anos não foi fazer um intercâmbio?
Por que o eu de dezenove não foi morar fora do país?
Por que a minha pessoa de dezenove, mesmo morta, ainda estará se questionando?

A conclusão que chego é que a nossa mente nunca vai se calar. nunca teremos paz.
Posso tomar quantas cartelas de remédio forem, na tentativa de calar meus pensamentos, mas eles nunca acabarão.
Preciso aprender a lidar, aprender a conviver e, principalmente, aprender a viver, se amar.

É natural se odiar (até certo ponto) em alguma fase da vida. Talvez o ser humano nasceu se odiando e aprendeu a se amar.
Ou talvez fosse indiferente a si mesmo, e os fatores externos contribuíram para nós odiarmos a si mesmos.
A segunda hipótese é mais clara em minha cabeça, apesar da primeira ser válida.

O eu de dez anos lembra o que marcou tal sentimento que, ao se repetir na minha adolescência, fez eu me odiar. E talvez eu nem tenha noção disso. Talvez eu nem lembre.
talvez eu nem me lembre o porquê de eu me odiar tanto.

And I don't even know,
back down to get together.
What's to be surprised?
Wake up, we need another one.

mundanoWhere stories live. Discover now