Introdução

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   Me sinto como um animal preguiçoso dentro de um zoológico. Para ser mais literal, dentro de uma gaiola. A prisão não é como imaginei nas séries que vi. Pensei que eu fosse encontrar uma valentona que me fizesse limpar o seu chão até que eu ganhasse o seu respeito, de forma incrível e fodona. Em dois dias, o máximo que aconteceu foi uma usuária de drogas me confundir com a Cher quando era jovem. Não pareço nada com a Cher jovem. A não ser pelos cabelos longos e pretos. Enfim, não que eu quisesse que a prisão fosse algo medonho, mas também não precisava ser tão entediante.
Eu atropelei um homem. Eu confesso que estava errada. Cruzei o sinal vermelho em um momento que minha cabeça estava desligada e acabei mandando um pobre homem de quarenta e sete anos para o hospital. Felizmente me disseram que ele está vivo, mas ainda sou culpada.
Desde pequena eu escutei no colégio sobre os perigos no trânsito, mas eu sempre faltei muito e perdi algumas aulas.
A garota do meu lado parecia ter quase a mesma idade que eu. Eu chutaria uns três anos mais velha. Magra, cabelos escuros como os meus e pele um pouco mais clara que a minha. A maior diferença estava na altura. Ela parecia uma modelo de passarela e eu uma tampa de refrigerante.

— Oque você fez pra estar aqui? — perguntou enquanto eu tentava não fazer contato visual.

— Atropelei um homem. — suspirei — E você?

— Me envolvi com gente errada. — deu de ombros.

— Errada em qual nível? — me virei para ela.

— Nível político e maluco. Ele me contratou pra um serviço onde ele me pagaria o triplo do que eu cobro, mas a ganância que me fez aceitar também fodeu com tudo. — balançou a cabeça.

— Ele te pediu pra transportar drogas ou algo assim?

— Não, pior! — se virou olhando em meus olhos — Ele me pediu pra transar com um homem no quarto de hotel e dar pra ele uma taça de champanhe depois do sexo. — pausou passando os olhos pelo chão — E então ele morreu envenenado.

Eu estava acostumada a conhecer gente de caráter duvidoso, mas aquilo me pegou de surpresa. Ela aprecia alguém normal, mas havia envenenado um homem depois de transar com ele!

— E pegaram você na cena do crime? — perguntei curiosa com o caso.

— Parece que alguém que não concordava com esse plano denunciou tudo pra polícia e então me pegaram em cima de um velho morto enquanto eu usava apenas calcinha. — riu — Foi engraçado, mas me deixou na pior. — ela parecia não ligar pra nada, mas seus olhos diziam ao contrário.

— E como vai sair daqui?

— Não tem como. — rolou os olhos inconformada — Eu não consigo nem mesmo pagar um advogado bom.

— Isso é tenso. — torci os lábios.

Esse foi o meu primeiro diálogo com ela. Nós dividimos a cela por três dias. Tudo que consegui saber era seu nome, que no caso era o mesmo que o meu, Camila.  Oque era uma grande coincidência, mas deixou a gente um pouco mais próxima naquele espaço pequeno. Tirando o porquê de estar presa e o nome, eu só sabia que ela gostava de frango e odiava barulho enquanto dormia.
   Eu não estava assustada na cadeia, para ser bem sincera. Como disse, não era como imaginei e também me dava tempo. Eu tinha um lugar para dormir e comida para comer. Antes de ser presa eu só tinha um carro velho que mal funcionava e uma vida inteiramente sem planos.          Desde que saí de casa, amenos de uma semana, a minha vida tem sido apenas sonhar com algo que eu nem mesma pensei em como conseguir. Uma vida melhor e cheia de lembranças boas e felizes.
Coloquei na minha cabeça que se as lembranças quais tenho não me fazem feliz, eu preciso de novas. Preciso de um trabalho bom, preciso de pessoas boas ao meu redor e principalmente, preciso focar em mim e crescer na vida. Ser alguém. Tudo bem, minha primeira experiência não foi tão feliz, mas eu ainda tinha tempo de corrigir.

— Você! — escutei o homem através da cela — Vem comigo.

Eu estava deitada na minha cama, qual era dura e desconfortável, mas aceitável pela circustância. Me levantei sem entender absolutamente nada, mas atravessei a cela depois de aberta e segui o guarda.

— Oque está acontecendo? — franzi os olhos.

— Você vai sair. — respondeu direto e rápido.

— Sério?

— Pegue seus pertences! — disse me dando as roupas quais eu entrei.

— Eu não estou entendendo. — disse pegando a sacola — O homem está bem? Ele retirou a queixa?

— Ele está morto, garota. — elevou as sobrancelhas como se fosse óbvio — Você tem sorte de alguém com muito dinheiro estar do seu lado. Agora saia!

Eu não pude acreditar. Eu havia matado aquele homem. Eu havia tirado uma vida. Ok. Eu. Havia. Tirado. Uma. Vida.

— Mas... — estava incrédula e paralisada.

— Eu disse pra sair rápido e sem chamar atenção! — ordenou grosseiramente.

Eu não estava muito consciente para questionar o policial. Eu tinha matado um homem e estava sendo liberada? Como? Bom, naquele momento eu só saí rapidamente pela porta e corri até o portão. Estava tudo escuro, mas eu vi um farol em frente.

— Camila? — a voz perto do farol disse.

— Sim. — respondi trêmula com as mãos sobre os olhos tampando a luz.

— Entre no carro! — ordenou.

Eu não tinha outra saída. Pensei em correr, mas o portão estava fechado. Não havia para onde eu ir a não ser a frente, dentro do carro. Então eu entrei. O homem entrou logo em seguida e funcionou o carro saindo dali.

Que porra estava acontecendo?

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