CAPÍTULO 1

70 11 0
                                    


Eu estava olhando através da janela do carro. Por um instante eu me questionei em tudo. Principalmente em por que eu estava sentada ali, sem tentar ao menos sair. Um homem estranho me coloca num carro, não diz nada, dirige por horas e eu consigo me manter quieta e calma com tudo isso?
Talvez fosse porque eu agora não tivesse nada a perder. Nada mesmo. Antes eu já não tinha, mas depois de matar um homem? Não, eu definitivamente não me importava muito com oque poderia acontecer agora.

— Você não vai mesmo me dizer onde estamos indo? — olhei seus olhos pelo retrovisor — Está dirigindo a horas.

O homem se mantinha em completo silêncio. Aquilo estava me deixando irritada, mas não passava nada pela minha cabeça. Eu apenas voltei a questionar minutos depois, quando entramos em um portão gigante com as siglas SK.

— Que lugar é esse? — arregalei os olhos.

O homem, novamente, se manteve em silêncio.
O lugar onde estávamos entrando era enorme. Muitas árvores e muitos campos ao redor da região. Era um propriedade privada e a casa logo à frente era incrivelmente bonita.
Haviam alguns homens de preto do lado de fora. Eram como se fossem seguranças. O homem parou o carro e desceu, cumprimentando todos. Eu olhava apenas pela janela, com medo, dessa vez.

— Desce! — o homem abriu a porta.

— Eu não vou descer sem saber onde estou! — gritei.

— Vai me obrigar a te arrastar pra fora vagabunda? — ameaçou.

Acho que ter um pouco de amor pela vida não faz mal. Então eu desci do carro olhando diretamente para o rosto do homem, mostrando estar enfurecida.

— Quem é o seu chefe? — perguntei.

Pensei que ele fosse apenas mais um deles já que estava com a mesma roupa que os outros homens, quais pressupus serem seguranças. 
   O mesmo se manteve quieto e agarrou meu braço com força. Parecíamos um pai e uma filha birrenta. Ele agarrava meu braço e eu, três vezes menor que ele, olhava de cara feia.
   Subimos as escadas até a porta principal e adentramos na casa. Era muito bonita. Havia pouca decoração, mas quadros excepcionais nas paredes. O sofá era preto, com móveis em marrom e a luz do sol batia pouquíssimo, apenas por uma enorme janela.

— Ok, acho que agora eu posso saber quem mandou você me sequestrar! — gritei rangendo os dentes e soltando meu braço.

— Por favor, grite menos. — escutei uma voz descendo da escada.

O homem que descia os degraus calmamente era alto, branco, de cabelo castanho escuro e camisa branca entreaberta. Era aparentemente um homem bonito, mas sua voz era estranhamente assustadora. Não como se eu fosse me assustar e sair correndo, mas assustadora como uma tensão ruim.

— Quem é você? — franzi a testa.

— Espera. — apertou os olhos como se me analisasse — Que porra é essa? — se aproximou, de modo que tive que levantar minha cabeça para olhar em seu rosto.

— Eu quem pergunto! — empinei o peito, mas nem assim eu o alcançava — Eu que sai da prisão e fui quase obrigada a entrar em um carro com um homem super estranho, onde ele dirigiu por horas sem abrir a merda da boca!

— Você não é a Camila. — me olhou de cima nos olhos.

— Meu nome é Camila, mas eu não sei o porquê de estar aqui. — disse sem abaixar a cabeça.

O homem não gostou da minha postura nada calma e apertou o maxilar irritado.

— Cadê a Camila, Jack? — observou o homem de braços cruzados.

— Você disse pra eu esperar a garota sair pelo portão as três da madrugada. E ela saiu exatamente as três se dizendo chamar Camila, chefe. — explicou.

— Calma, calma. — uma luz no meu cérebro se acendeu — Você é o cara que mandou matar um homem envenenado?

— Quem te disse isso? — seu olhar era de quem tentava entender, mas também de quem queria ameaçar.

— Camila. — disse pausadamente — Minha companheira de cela também se chamava Camila, mas ela era mais alta. Acho que vocês cometeram um erro e pegaram a Camila errada! — disse desvendando o mal entendido.

Naquele momento tudo fez sentido e se encaixou. Eu não havia matado ninguém. A outra Camila quem tinha matado um homem. Foi tudo um grande mal entendido e eu estava no lugar dela agora.
Por um lado senti um alívio, mas por outro me vi numa situação qual não sabia como sair.

— Que merda! — o homem gritou passando as mãos pelos cabelos.

— Eu sei que agora você deve estar com raiva, mas eu não tenho culpa alguma. — suspirei fundo — Será que poderiam me deixar ir?

— Você é um incompetente Jack! — gritou — Oque vamos fazer com essa garota agora?

— Eu não vou falar nada, eu nem mesmo sei o seu nome! — disse desesperada — Me deixem ir e eu esqueço tudo isso.

— O erro foi meu, chefe. Eu deveria ter percebido que não era a mesma garota. Se quiser, sumo com ela sem deixar rastros. — o segurança disse sem esboçar nenhuma emoção.

— Não, por favor! — gritei.

— Eu já disse pra não gritar, porra! — o homem se aproximou do meu rosto segundando o mesmo.

— Sr. Kane, seu advogado está esperando por você no seu escritório. — outro homem entrou na sala.

O nome dele deveria ser algo com S. Já que foi chamado pelo homem de Sr. Kane, presumi que as iniciais no portão eram dele, obviamente. S.k, alguma coisa Kane.

— Não deixa ela sair daqui até eu voltar, entendido? — ordenou.

— Entendido! — afirmou o segurança.

Sr. Kane, como agora eu irei me referir a ele, saiu da sala pisando firme. Parecia irritado e confuso sobre oque iria fazer comigo afinal. Eu estava no lugar errado, era a garota errada, mas sabia de algo que ele não queria que eu soubesse. Eu sei, o mais óbvio seria me matar, mas eu rezei para que ele não fosse um homem que fizesse coisas óbvias.

NOSSO ERRO Onde histórias criam vida. Descubra agora