Capítulo 2 - Claustrofobia

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           A tristeza no rosto de Evelyn era nítida, mas não era desnecessária. A tutora possuía milhares de motivos para estar sofrendo desta forma, sua história naquele local não era nada agradável. Enquanto ela caminhava pelos velhos corredores da creche, seu passado começou a passar pela sua cabeça como um filme, era como se ela estivesse revivendo todo aquele tormento, que se iniciou como um sonho. Seu marido e seu filho foram ameaçados de morte desde o dia que ela pisou nos pisos coloridos daquele estabelecimento. 

          A tutora pensou que iria finalmente trabalhar em uma empresa de sucesso, ter uma carreira estável e poder dar orgulho a sua família, mas pelo contrário, aquela fábrica foi a sua ruína. O início da sua fantasia, começou com um sequestro, uma ameaça de morte a todos as pessoas que ela amava, deu sequencia com um trabalho escravo, com o único salário sendo sua vida, que já não lhe valia nada. 

           Enquanto ela caminhava lentamente pelos corredores, observando os quadros das crianças na parede, ela se recordava de todo o esforço que já fizera por seu filho, de todos os dias da sua medíocre e miserável vida que foram desperdiçados unicamente trabalhando incontáveis horas apenas para manter seu garotinho vivo, o que foi um fracasso total. 

            Na noite anterior a esta, Evelyn descobriu que seu filho foi sequestrado a muito tempo, e que todo seu desgaste mental foi em vão, todas as horas perdidas trabalhando, todas as noites que ela passou em claro, serviram unicamente para enriquecer o bolso dos chefes da PlayTime Company. 

          A tutora começou a subir os degraus de madeira de pinheiro, envelhecidos e sujos, o som que eles emitiam ecoava pelo corredor vazio que se preenchia unicamente por gritos silenciosos das crianças que nunca puderam ser escutados por ninguém. Quando ela chegou ao quarto andar da creche, se deparou com uma das poucas janelas verdadeiras que existiam naquela fábrica, ela estava tampada com tábuas de madeiras presas por pregos, a luz do dia não conseguia entrar naquele lugar, deixando com que o mesmo se afogasse na escuridão. 

        A ponta de seus dedos estava completamente preenchida por farpas de madeira que faziam com que suas unhas sangrassem, havia sido uma boa ideia arrancar cada tábua com as mãos? Esta questão repercorria a vazia e fúnebre mente da tutora, esta mesma mente que estava morta, a muito tempo, sustentada apenas por um resquício de amor que permanecia bem no fundo do seu subconsciente, que lutou até seu último momento. 

        As tábuas de madeira caídas ao chão davam espaço ao grande raio de sol que entrou como um anjo pelas janelas, fazendo com que todo aquele corredor se enchesse de luz pela primeira vez na vida. Evelyn então abriu a janela, colocando sua mão direita no vidro que flutuava sobre o exterior do lugar, ela observava as nuvens de fumaça geradas por inúmeras chaminés, e que em questão de um piscar de olhos tornaram-se brancas como algodão. A vegetação retorcida, florescia como lindas flores de papoula em um por do sol radiante que fez com que seus olhos assumissem a coloração de uma margarida que acaba de desabrochar. De sua testa, escorriam lágrimas de sangue pela rachadura que se formara, ao mesmo tempo em que o vidro daquela janela se partiu em milhares de pedaços, mas não mais do que o seu coração despedaçado, o coração de uma mãe que perdeu o seu filho, uma ferida sem concerto e sem tempo para sofrimento, já que as nuvens que pendiam sobre o vasto horizonte acolheram-na antes que atingisse o chão.

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        Uma leve brisa de inverno passeava por cada canto daquela sala, Lulu não conseguia ver nada, era como se ela tivesse perdido o controle do seu corpo e da sua própria mente. Seus pensamentos estavam viajando a mais de mil quilômetros por hora, enquanto sua cabeça estava vazia, preenchida apenas com a sensação do medo. 

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