16 -The piece that fits

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Correr desesperada pelos corredores do colégio já virou rotina para mim. Sexta-feira, novamente atrasada como todos os outros dias. E para qual aula? Ah sim, para a aula do "professor ruivo bonitão", onde, provavelmente, ele fará algum comentário besta com um flerte escondido.

A única coisa que salva meus pensamentos de arruinarem esse dia só pelo fato de estar atrasada, é sobre ontem a noite. Ou pior, sobre o que aconteceu depois.

__Flashback__

Acordo no susto pelo toque do telefone, por instinto a minha mão vai novamente para a orelha do Joshua tentando abafar o som estridente.

Atendo quase pegando no sono de novo.

Era meu irmão, na verdade, meu irmão mais velho irritado e ciumento, ele me disse que não toleraria eu dormir longe de casa e que chegaria em 15 minutos. Não tive tempo de contrariar, quando meu cérebro processou a informação, ele já havia desligado.

Saio do quarto do Josh com relutância, bêbada de sono e completamente exausta, minhas pernas viraram gelatinas, meus bracinhos viraram macarrão, eu só queria deitar em qualquer lugar e dormir.

Minto. Eu queria deitar na cama do Joshua e dormir.

Com ele. Com o seu corpo quentinho e convidativo.

Mas cá estou eu, andando pelos corredores dessa mansão enorme que nem um zumbi.

Às vezes me ocorre um estalo de realidade, onde a minha mente se desprende da parede da minha cabeça e viaja por aí, observando toda a minha vida por outra perspectiva.

Há 1 semana atrás eu era Any Gabrielly, capitã do time reserva de futebol, zoada todo dia pela Dove, a garota que perdeu a mãe e ficou amarga, agressiva e sem sal, que não cantava e nem dançava, e que era atormentada todo dia pelo gostosão da escola, amigo do meu irmão mais velho.

E agora, 1 semana depois, eu sou Any Gabrielly, a garota que perdeu a mãe, que não é mais capitã do time, que não é mais zoada por ninguém, que não suporta brigas ou discussões, que descobriu que sempre amou cantar e dançar, e que agora namora o gostosão da escola, o cara mais odiado pelo meu irmão mais velho.

É, eu acho que o mundo ficou tonto de tanto dar voltas e voltas na minha vida.Paro na frente da escada, preciso de toda a concentração do universo para não cair. Eu praticamente subo em cima do corrimão e dou passos de tartaruga. Ao chegar ao chão, solto um suspiro de alívio e vou andando pelo piso gelado de mármore.

- Any! - Puta merda. - Já está de saída?

Eu congelo, literalmente ao julgar os meus pézinhos nesse chão.

- Já - respondo sem me virar. - Meu irmão vai me buscar daqui a pouco.

Escuto somente o chiado da tevê por longos segundos.

- Deveria ter me avisado que queria ir embora Any, eu poderia levar você.

- Não! - com o eco daqui, eu praticamente gritei. - Quer dizer, não precisa se incomodar, ao julgar do que aconteceu hoje a tarde, o senhor deve ter muuita coisa pra fazer.

Me virei, e encarei esses olhos azuis pela primeira vez desde que eu explodi com ele. Levando um susto pela sua aparência agora.

O pai do Joshua tinha uma expressão triste e cansada no rosto, a máscara de superioridade e arrogância estava jogada no chão, e ele vestia um pijama simples e, sem querer virar a Sabina mas, nada combinando. Nada de ternos sob medida, nada de cabelo entupido de gel, só ele, só um homem adulto e cansado.

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