Capítulo 3 - Valeu, pai.

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Fiquei na esquina da escola esperando meu pai passar pra me pegar, como ele disse que faria hoje

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Fiquei na esquina da escola esperando meu pai passar pra me pegar, como ele disse que faria hoje. Duvidei, mas fui pra lá mesmo assim. Acendi um cigarro e fiquei encostado no muro pensando no quanto aquele ano ia ser só mais um de tantos. Que porra. Meu pai tava demorando pra caralho. Liguei o foda-se e decidi ir pra casa andando. 

Cheguei na porta de casa xingando a mim mesmo por não ter levado o skate pra escola hoje, já teria chegado há muito tempo. Isso que dá ficar contando com o meu pai. Abri a porta:

Eu: Cheguei!

Gritei pra quem estivesse lá. A cozinha tava uma zona do caralho, como sempre. Meus pais nunca tavam em casa. Enquanto procurava um prato limpo, estranhei ao ouvir barulhos no andar de cima. Devia ser a porra da gata da minha mãe, foda-se. Finalmente achei algo limpo naquele lugar, mas ao ir até a geladeira ouvi um grito tão alto que soltei o prato no chão.

!: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Era grito de mulher aquela porra. Saí correndo imaginando que tivesse acontecido alguma coisa com a minha mãe. Subindo as escadas, comecei a entender a situação ao ouvir os gritos vindos do quarto, acompanhados de risadas e “Ai, Mauro! Como você é!”. Mauro é o nome do meu pai. E aquela voz não era da minha mãe. Andei pelo corredor bem devagar. Não sabia se queria mesmo chegar até o final dele quando vi a porta do quarto dos meus pais entreaberta.

Eu: Pai? – o chamei do corredor.

Ouvi alguns objetos caindo e respirações aflitas.

Eu: Pai? Tu tá aí? 

Empurrei a porta devagar. Pude ver um pé de sapato do meu pai, meias jogadas e, levantando mais o olhar, vi uma mulher em pé segurando o lençol contra o corpo, ao lado do meu pai, que abotoava a camisa com pressa.

Pai: Filho!! Essa… Essa é a… A Cássia! Ela tá trabalhando com o pai agora, é.
Cássia: Oi. - disse a vadia acenando com um sorriso nervoso.

Minha cabeça começou a queimar. Minha garganta se fechou de um jeito que ficava difícil até pra respirar. Que filho da puta. A cama tava toda bagunçada, sem o lençol, sinal de que deviam estar ali há muito tempo. Tempo suficiente pra ele se esquecer de me buscar no colégio, pior ainda. E aquela puta não parava de sorrir, parecia que tava gostando. Por dentro ela devia tá podre, vadia. Enquanto abotoava a camisa e dizia coisas nervosas e sem sentido do tipo “ela veio aqui pra gente trabalhar”, eu tentava segurar o choro e fingir que tava prestando atenção no que ele falava. Virei meu rosto pra ela, ignorando totalmente o meu pai.

Eu: Tu aceita um café?

Ela ficou séria na hora, pareceu engolir seco. Meu pai cortou a fala como se eu tivesse perguntado se ela queria trepar comigo. Ela sorriu e abriu a boca pra dizer que aceitava, mas meu pai interrompeu.

Pai: Filho, isso não tem graça.

Sorri pros dois e dei as costas praquela cena ridícula. Desci as escadas como se os degraus estivessem desmoronando atrás de mim, acendi um cigarro e bati a porta da frente. Meu pai me olhava pela janela do quarto. Tive pena do bosta de cara que ele era, mas logo passou quando a vadia apareceu atrás dele. Ele abriu a janela.

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