CAPÍTULO V - Esqueci-me de Gina, Harry

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Subitamente Hermione foi invadida por uma estranha onda de calor. Era a primeira vez que o simples contato da mão de um homem ou um olhar a deixavam tão perturbada. Os olhos verdes pousados nela e Harry dizendo palavras tão lindas a fizeram esquecer por um instante que Gina era sua musa inspiradora. Rapidamente retirou a mão com medo que ele percebesse sua reação.- Gi... Gina é uma mulher de sorte.- Espero que ela também pense assim. - Harry mantinha os olhos fixos nela. - Mas, se não se importa, gostaria que não falássemos mais em Gina esta noite.Hermione ficou surpresa. Para um homem que se dizia tão apaixonado era um pedido estranho, aquele. Mas por outro lado, ela também achava uma ótima idéia. Já começava a se cansar de a todo momento estarem lembrando de Gina. Resolveu não contestá-lo.- Por mim tudo bem - disse evitando parecer muito entusiasmada e em seguida resolveu mudar de assunto. - Que tal seu cachorro-quente?- Uma delícia. Fazia tempo que eu não comia um. Minha mãe costumava dizer que hambúrgueres e cachorros-quentes são alimentos desnecessários. Acho que por isso não criei o hábito de comê-los.- Sua mãe deve ter sido bastante repressora, não?- Curioso, mas não era. Meus pais nunca foram do tipo que diz faça isso ou não faça aquilo. Simplesmente esperavam que eu seguisse o padrão fixado por eles. Acho que desde que saí do berçário já me tratavam como adulto.- Mas isso é muito triste. A melhor coisa do mundo é ser criança.- Eu sei. - Harry pegou uma batata frita. - Mas é preciso entender que, quando nasci, meus pais já tinham certa idade. Eu era um... um intruso na vida deles. Acho que por esta razão não fui um garoto rebelde. Não queria causar mais problemas quando eu próprio já me considerava um.- Imagine, Harry! - Hermione levantou-se para pegar refrigerantes na geladeira. - Filhos nunca são intrusos na vida dos pais.- Mas eu me sentia assim, que posso fazer? Você, aposto como sempre foi rebelde.Hermione riu enquanto enchia os copos.- Nem tanto. Só quando não faziam minha vontade.- Era o que eu imaginava.Conversaram ainda por algum tempo e quando já não agüentavam mais olhar para o prato de batatas fritas, Hermione sugeriu que fossem para a sala. Harry acomodou-se no sofá e ela sentou-se no chão ao lado dele, perto da vitrola. Pegou uma pilha de cd's e começou a separar os mais indicados para dançar.- Justamente o melhor deles não está aqui - disse a certa altura. - Não consigo me lembrar se o emprestei para alguém.- Não faz mal - Harry disse rapidamente. - Talvez seja melhor para todos nós se esquecermos essa história de festa e de dança.Hermione ergueu-se, sentando-se ao lado dele no sofá.- Oh não, Harry! Gostaria tanto que você fosse a essa festa.- Não entendo por quê. Já disse que não sou dos mais animados. Nem sequer sei dançar direito.- Oh, Harry! Como sabe que você não é animado? Pode estar enganado a respeito de si mesmo.- Faz tanto tempo que não vou a uma festa.- E esta vai ser muito divertida, você vai ver. Ao menos me dê uma chance de exibi-lo.Harry franziu as sobrancelhas. O que Hermione tinha em mente desta vez?- Exibir-me?! Escute, estou achando que é você quem deveria dar um pulo no oculista. Definitivamente não está enxergando bem.Hermione riu, apertando suavemente o braço dele.- Minha visão está ótima, Harry. Só estou louca para ver a cara dos outros quando virem você sem os óculos.- Pois lhe garanto que não estou nem um pouco ansioso por este momento.- Mas por quê?!- Por quê? - Ele passou a mão no cabelo e suspirou. - Porque detesto chamar atenção. Prefiro continuar no meu canto como sempre fiz. Sou uma pessoa dos bastidores.- Você, uma pessoa dos bastidores?! - Hermione o fitou indignada. - É a coisa mais absurda que já ouvi. E não posso entender por que se sente inseguro no meio de muita gente.- Não é sempre que me sinto inseguro no meio de muita gente - ele confessou. - Em reuniões de negócios, por exemplo, fico totalmente à vontade. Mesmo diante do cliente mais temperamental. Mas quando se trata de assuntos pessoais, pareço um idiota.- Não diga isso. Você nunca será um idiota.- Aposto como seus amigos não pensam como você.Hermione sentiu o rosto corar. Lembrava-se dos nomes que Joyce e Nigel usavam quando se referiam a ele.- Bem... só acham que você é um pouco frio.Harry arregalou os olhos. Frio, ele? Céus, com Hermione ali ao lado segurando-lhe o braço estava era pegando fogo!- Você também me acha frio?- Não - ela respondeu muito séria. Será que sua opinião tinha algum valor? - Mas acontece que agora o conheço. Sei que é um homem gentil, bom e com sentimentos. Mas por que não quer que os outros o vejam como de fato é? Agora entendo por que gosta de usar aqueles ternos pardos e o cabelo fora de moda. Não gosta que o notem, não é mesmo?- Ternos pardos?! O que há de errado com meus ternos? São iguais aos dos outros executivos.- Mas eles têm mais de sessenta anos! Lembro-me de que logo no início, quando passei a ser sua secretária, achava que todos os dias você ia a algum velório. Só agora entendo que é uma camuflagem.- Funeral? Camuflagem? - Harry deu um longo suspiro. - Você é impiedosa, sabia?- Não, não sou impiedosa. - Ela riu. - Só quero que saiba que não é homem para viver nos bastidores. Não deve se esconder porque seu lugar é no palco!- De forma alguma, não nasci para essas coisas. Prefiro meu canto.Hermione pressionou os dedos no braço dele.- Por que você é assim, Harry?- Não sei. Acho que tudo começou na infância. Lembro-me de ocasiões em que eu daria tudo para ouvir algum elogio de meus pais. E nunca ouvia.- Que tipo de elogio você queria ouvir?Harry a fitou durante alguns instantes antes de responder . A pele de Hermione era tão bonita, parecia tão aveludada, macia... E como brilhavam aqueles olhos cor-de-mel. Não se lembrava de ter conhecido uma mulher com tal beleza e frescor. Há dois anos, quando ela entrara em seu escritório pela primeira vez, já ficara fascinado. Depois de conhecer Hermione, a palavra "mulher" passara a ter novo significado para ele.- Bem - disse ele então -, pelo menos por uma vez eu gostaria de ter ouvido: "Harry, você jogou uma bela partida de futebol, meu garoto".- Só isso? Apenas que havia jogado bem?Ele sorriu com amargura.- Também teria ajudado ouvir: "Harry está se tornando um rapaz atraente". Ou então que minha mãe despenteasse meu cabelo num gesto carinhoso... Que meu pai batesse em meus ombros, como fazem os outros pais.Hermione sentiu-se penalizada. Era óbvio que ele havia sido uma criança carente de afeto. Agora começava a entender o porquê daquela atitude austera e reservada que Harry sempre adotara.- Deve ter sido muito duro para você.- Muito. - Ele tentou sorrir. - Por outro lado, cansei de ouvir: "Harry terá um milhão de dólares em sua conta bancária antes dos trinta e cinco". Acho que martelaram minha cabeça com essa frase desde que nasci.- Ao menos já tem um milhão?- Não, mas também ainda não cheguei aos trinta e cinco. Quando chegar provavelmente vou ter bem mais, pois falta muito pouco.Hermione começou a rir. Não pôde evitar. Era a primeira vez que via alguém tão deprimido por ser um milionário.Harry a fitou confuso no início, mas depois de alguns instantes pôs-se a rir também. Só mesmo Hermione para fazê-lo achar graça em um fato que sempre encarara como trágico.- Diabos! Só estou com trinta anos! Quando chegar aos trinta e cinco terei juntado dois milhões e não um!- Provavelmente! - Hermione concordou, às gargalhadas. - E agora me diga. Por que se sente tão inseguro?Ele olhou para a mão de Hermione ainda em seu braço antes de responder.- Não sei.- Harry! Tire os óculos um instante, por favor.- O quê?!Ao invés de responder, Hermione tirou-lhe os óculos.- Só consegue enxergar bem de perto?- Sim, mas por quê?- Venha até aqui. - Hermione o levou pela mão até um espelho pendurado no canto da sala. - Consegue se ver daqui, Harry?- Mais ou menos.Ela o fez aproximar-se um pouco mais.- E agora?- Perfeitamente. - Ele a olhou preocupado. - Vai doer?- Não. - Hermione riu, segurando-lhe o queixo. – Você vai se sentir muito bem. Só quero que se olhe, mais nada.- Hermione! - Ele voltou-se para ela. - Vejo meu rosto no espelho todas as manhãs quando faço a barba!- Mas aposto como nem se vê direito.Hermione o forçou a olhar-se de novo. Seu próprio rosto apareceu no espelho ao lado do dele e ela ficou observando as duas imagens sem dizer nada.- Está querendo ser meu santo protetor? - Harry indagou suavemente e levou um susto ao vê-la zangar-se pela primeira vez.- Não costumo proteger ninguém, Harry Potter!Os dois estavam tão próximos que Harry podia ouvir a respiração de Hermione. Ela ainda mantinha a mão em seu queixo e as bocas de ambos se encontravam a poucos centímetros uma da outra.- Hermione, eu...- Confie em mim, Harry - ela disse baixinho. - É verdade o que vou lhe mostrar. Olhe para os seus olhos. São tão verdes, não acha? Suas sobrancelhas são grossas, negras... Os cílios também. Iguais aos seus cabelos.Harry mal respirava. Não sabia se teria estrutura para agüentar aquele exame por muito mais tempo.- Não acha que...- Quietinho, Harry. - Ela ralhou. - Agora examine o seu queixo. Ele é firme, quadrado, muito másculo. – Hermione começou a deslizar o indicador pelo nariz. - Veja o perfil... Que força! Que personalidade! - O dedo chegou aos lábios. - E sua boca... é linda também, Harry. Especialmente quando sorri. Ela é perfeita para falar... para rir... e... e para beijar.Lentamente, Hermione foi aproximando ainda mais o rosto do dele. Tinha que sentir o gosto daqueles lábios. Não conseguira resistir à tentação de beijá-los. Colou a boca na de Harry e qual não foi sua surpresa ao ouvi-lo gemer de prazer enquanto a enlaçava pela cintura.Naquele ponto Hermione esqueceu-se do mundo. Entregou-se ao beijo mais arrasador de toda a sua vida. Não havia planejado aquilo, apenas um leve roçar de lábios. Mas o que Harry fazia com ela era terrível. Nenhuma mulher jamais resistiria. Nem mesmo... Gina! De repente ela se lembrou que estava ocupando o lugar de Gina. Afastou-se rapidamente, sentido o rosto corar.- Oh, Harry, desculpe-me!Desculpá-la de quê, céus! Por aquele beijo?! Pelas maravilhosas sensações que ela lhe causara? Harry não compreendia.- Hermione, eu...- Esqueci-me de Gina, Harry. Deve estar pensando que sou uma devassa, uma mulher promíscua, mas...- Não! - Ele a tocou de leve no braço. - Não diga isso de si mesma. O que penso de você é que é muito especial.Ela o fitou surpresa.- Acha mesmo? Que sou especial?- É claro que sim.- Não pensou que... que eu estava tentando seduzi-lo?E não era o que ele mais queria? Mas nunca teria coragem de confessá-lo a Hermione!- Nunca fui seduzido por uma mulher tão bonita. Seria agradável pensar em você como a primeira.Hermione tentou rir, mas saiu apenas um grunhido. Céus! O que aquele homem estava fazendo com ela? Não podia estar falando sério. O objetivo dele era Gina e não ela!- Mais uma vez, desculpe-me, Harry - repetiu sem jeito. - É que você é tão terno, tão afetuoso que eu... Bem, que tal esquecermos tudo isso? Vamos fazer de conta que não aconteceu nada, está certo? O que acha de começarmos nossa aula de dança?Harry a viu atravessar a sala e pegar o telefone. O que Hermione planejava daquela vez? Droga! Começava a sentir-se num beco sem saída. Mas se tentasse ir embora àquela altura, ficaria numa situação bem pior. O jeito era levar o plano adiante até que o momento ideal surgisse.Hermione discou alguns números e a voz de Lawrence respondeu do outro lado.- Oi, Lawrence! Tudo bem, anjo? Escute, por acaso você tem o último álbum de rocks e baladas do grupo Selection?Harry ficou imaginando quem seria aquele tal de Lawrence. Mais um dos fãs musculosos de Hermione?- Você tem? - Ela continuou a conversa. - Que bom! Dá para trazê-lo aqui para mim? Agora?Assim que ela desligou, Harry aproximou-se.- Escute, acho bobagem todo esse trabalho. Além disso eu...- Imagine se é trabalho, Lawrence não se importa. Em dois minutos estará aqui.Era o que ele temia, Harry pensou sentando-se no sofá. Não se sentia em condições de enfrentar mais um dos amiguinhos de Hermione. Momentos depois o tal Lawrence chegou.- Oi, amiga! Aqui está o seu disco. - Ele olhou curioso para Harry no sofá. - Está com visitas?- Harry, este é Lawrence. - Hermione apressou-se em apresentá-los. - E Lawrence, este é Harry, meu chefe.- Seu chefe? - O garoto entusiasmou-se e apertou a mão de Harry. - Muito prazer, sr. Potter. Você é um cara muito legal.Harry sorriu. Dos amigos de Hermione, sem dúvida aquele era o mais simpático.- Mesmo? - disse ao garoto. - E posso saber por quê?- Porque deu um aumento à minha amigona. Ela ia ter que se mudar daqui porque havia acabado de comprar o "Z280" quando o aluguel subiu. Com o aumento, não precisou.- Lawrence! - Hermione gritou. - Você é mesmo uma matraca, menino!- O que tem de mais dizer isso ao seu chefe? Não vou contar a mais ninguém.Harry começou a rir.- Pelo que entendi, ficou feliz porque Hermione não se mudou daqui? - perguntou ao garoto. - Gosta muito dela?- Claro! Ela é minha melhor amiga.- Fico feliz, também, Lawrence. Mas na verdade não sou eu quem paga Hermione. Apenas cuidei para que a firma aumentasse o salário dela.- Dá no mesmo. - O garoto sentou-se no sofá ao lado dele. - Hermione me disse que você é inteligentíssimo. Que faz cálculos de cabeça e que pode dar um baile naquele pessoal de Wall Street se quiser.Ela sentiu o rosto pegar fogo. Percebeu que Harry não tirava os olhos dela e seu desejo era fazer um buraco no chão e sumir.- Hermione foi muito gentil ao dizer todas essas coisas a meu respeito - Harry disse ao garoto. - Mas cá entre nós, Lawrence, ela é muito parcial.- Parcial? O que significa parcial?- Significa que como sou o chefe, ela... exagera os elogios, digamos assim.Hermione ia protestar , mas Lawrence entrou em sua defesa antes:- Não concordo. Ela sempre diz exatamente o que pensa! - O garoto olhou para Hermione. - Lembra quando eu queria comprar aquela bicicleta toda cheia de decalques? Você me disse que era uma bobagem, que eu a queria só para aparecer. Que chamava muita atenção.- É claro que me lembro - disse Hermione.- Fiquei furioso com ela, sr. Potter. Comprei a bicicleta e uma semana depois me roubaram.- Hermione é muito sábia - disse Harry. - Deve sempre ouvi-la.- Sim, eu sei. - De repente Lawrence o fitou ressabiado. - Não está pensando em namorá-la, está? Porque ela só está esperando que eu cresça para que a gente se case.Harry olhou para Hermione no mesmo instante. Ela aproximou-se de Lawrence.- Esse aqui é o único namorado com o qual nunca pretendo brigar - explicou. - O que você acha, Harry? Ele vai dar um bom marido?- Bem, deixe-me ver. - Harry fingiu avaliar o garoto. - Parece forte, é simpático, bonito. E quanto à sua renda, rapaz? Acha que dará para sustentar essa mulher maravilhosa?O garoto o fitou confuso.- Sustentá-la? Está dizendo que tenho de arranjar um emprego e ganhar dinheiro?- É assim que ocorre normalmente. Hermione pode querer um "Z280" zerinho quando se casar. Vai ter que dar um a ela.- Eu?! Hermione e Harry caíram na gargalhada.- Não pretende ser o marido dela?- Sim, mas... Bem, Hermione, acha que pode me dar um tempo? Ainda quero jogar muito futebol antes de nos casarmos.- É claro, meu anjo. - Ela sorriu. - E agora que tal colocar aquele disco na vitrola para mim?Lawrence imediatamente atendeu-lhe o pedido. Mas o volume estava tão alto que precisou pedir-lhe que abaixasse um pouco.- É que preciso falar com Harry enquanto a música toca, Lawrence - ela explicou. - Vou ensiná-lo a dançar.- Mesmo? Posso ficar para ver?- Sabe dançar, Lawrence? – Harry quis saber.- Hermione me ensinou. No começo eu achava besteira ficar dançando, mas depois ela me explicou que não gostaria de me ver pelos cantos durante as festinhas do colégio.Como ele, Harry pensou. Os pais nunca haviam considerado importante que ele aprendesse a dançar. E ele próprio só percebera o quanto lhe fazia falta um certo desembaraço quando começara a interessar-se por garotas.Nos trinta minutos que se seguiram Harry ouviu estalar cada junta de seu corpo. Ao som de um rock, Hermione e Lawrence fizeram de tudo para que ele conseguisse sincronizara música com verdadeiros malabarismos corporais. Era uma loucura, pensava enquanto se retorcia todo. Se a mãe o visse naquele momento mandaria interná-lo numa clínica psiquiátrica!A certa altura o telefone tocou. Era a mãe de Lawrence chamando-o para dormir. Apesar dos protestos do garoto a mãe não cedeu e ele teve de voltar para casa.- Já que paramos, que tal um café? - Hermione sugeriu depois que Lawrence se foi. - Um pouco de cafeína nos fará bem.Harry estava tão cansado que adorou a idéia. Na verdade, nem mesmo depois do café acreditava que agüentaria praticar urna valsa que fosse. Sentou-se numa cadeira e pouco depois Hermione juntou-se a ele com duas canecas fumegantes de café e uma lata de biscoitos.- Lawrence gostou de você, Harry. Espero que não tenha se aborrecido. Você sabe como são as crianças.- Imagine! Ao contrário, gostei demais de Lawrence. Sempre quis ter filhos. Aliás, uns três ou quatro.- Verdade? Eu também. Detesto ser filha única, e você?- Adoraria ter tido um irmão. Ao menos teria dividido com alguém as atenções de meus pais.- Entendo. - Hermione suspirou. - Comigo acontecia o mesmo. Só que era minha avó quem me perturbava. Ela nunca se conformou por eu ter vindo morar sozinha. Diz que uma moça direita não sai da casa dos pais a não ser quando se casa.A expressão de Harry tornou-se séria enquanto ele pegava um biscoito.- Hermione, você... Você tem muitos amigos, não? Eles vêm sempre aqui?- Às vezes. Por quê?- À toa. Só estava imaginando se...- Se convido algum deles como fiz hoje com você?Harry não precisou responder. O rubor em sua face provava que era exatamente o que ele estava pensando.- Não, Harry - Hermione assegurou-lhe. - Você é o primeiro a quem faço esse tipo de convite. Raramente trago meus amigos aqui, mas quando acontece sempre vêm em turma.Harry não sabia o que dizer. Aliás, não compreendia por que não ficara de boca fechada. Não era de seu feitio falar demais, especialmente intrometer-se na vida dos outros.- Bem... eu... peço-lhe desculpas. Não devia ter perguntado nada.Hermione fez um gesto com as mãos.- Esqueça, Harry. Já estou acostumada com os comentários maldosos a meu respeito dentro da Sooner Fidelity. Você não tem culpa se os ouviu também. Só posso lhe garantir que é tudo mentira. Tenho vários amigos sim, a maioria rapazes, mas acima de tudo respeito a minha casa. Teria que me sentir muito íntima de um homem antes de convidá-lo a vir aqui.- Você me convidou.- Sim, mas é diferente.- Diferente como? Sou inofensivo?Hermione lembrou-se do beijo. Não fosse por Gina ainda estaria nos braços dele. Como poderia classificá-lo de inofensivo?- Não foi o que eu quis dizer, Harry. Você é diferente dos outros porque... porque sei que não vai me magoar. Confio em você.Sim, ele jamais a magoaria. Pelo menos não por vontade própria. Se algum dia acontecesse, seria por força das circunstâncias.- Gostei de dançar, sabia? - comentou desejando mudar de assunto. - Você é uma ótima professora.- Tive um bom aluno, foi só. E então? Como se sente agora a respeito da festa de Natal?- Acredito que não vou passar vexame. Sorte sua, acho.Ainda bem que ele não falou de Gina, Hermione pensou, e sorriu satisfeita.- Mas ainda não ensaiamos uma dança mais lenta - lembrou-o. - Quer tentar?Harry sabia que devia dizer não, mas quando deu por si já havia concordado. Hermione escolheu uma seleção bem romântica e ele a tomou nos braços tendo o cuidado em manter uma boa distância entre os dois.- Não se usa mais dançar desse jeito, Harry. - Hermione o censurou. - Passe os dois braços ao redor da minha cintura - ela pediu. - Desse jeito...Harry fez conforme ela lhe mostrava. Assim que a envolveu, sentiu as duas mãos de Hermione atrás de seu pescoço.- Que tal, Harry? - Ela o olhava diretamente nos olhos. - Não é bem melhor?Céus! Se iam dançar abraçados daquele jeito seria prudente ele concentrar-se no último filme de bangue-bangue que havia visto na televisão!- Sim - concordou. - Está... está bem melhor. - Ele respirou fundo e começou a dançar. -Estou indo bem?- Você tem os pés bem leves. - Hermione o elogiou. - Mas o pescoço está tão tenso que até parece uma prancha de windsurf.- Eu, tenso? - Harry percebeu que ela começara rir. - Pergunta idiota, não? Aposto como sempre me achou tenso.- Para ser sincera, você sempre me provocou uma reação entre admiração e temor.- Temor? - Harry afastou-se um pouco para encará-la. - Você fala como se eu fosse uma espécie de senhor feudal ao redor de quem todos andam nas pontas dos pés!- Sua inteligência é tão brilhante que chega a ser atemorizadora, Harry. No início eu até tinha medo de que me achasse medíocre demais.- Que absurdo. Você é tão inteligente quanto eu. Apenas direciona a sua para um setor diferente.Hermione sorriu. pousando a cabeça no peito dele. Dançavam tão lentamente que quase não saíam do lugar.- Fazemos um par perfeito, não acha, Harry? Ambos tão inteligentes, tão...- Ofuscantes? - Ele riu.- Isso mesmo. Nossos filhos sairiam maravilhosos.Harry prendeu a respiração.- Nossos... filhos?!- Estou falando em hipótese, é claro.- Ah...! - Ele respirou fundo. - Em hipótese... Sim. nossos filhos seriam lindos.Se tivesse um pingo de bom senso ainda, iria embora imediatamente. Harry disse a si mesmo. Mas não sentia o menor entusiasmo para enfrentar sozinho aquela casa enorme, fria e deserta. Além do mais, a "fase dois" estava sendo um sucesso. Bem maior do que esperava! Verdade que não previra alguns probleminhas que teria de enfrentar, mas ainda contava com uma semana e meia pela frente para encontrar uma solução... Naquela noite não queria preocupações. Queria apenas vivê-la...

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