CAPÍTULO VIII - Uma situação inusitada

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Hermione fechou os olhos. Sentia-se tão segura ao lado de Harry. Nunca conseguira perdoar o pai por ter abandonado sua mãe, mas só agora entendia realmente o quanto ela devia ter sofrido. Só agora, na condição de mulher apaixonada, avaliava a perda de um amor.De repente, endireitou-se no sofá. Como num passe de mágica o sorriso voltou-lhe ao rosto.- Harry! Amanhã é dia de Natal! Não devemos estar falando de coisas tristes. Conte-me o que já ganhou de presente.Harry sorriu. Era bom vê-la animada outra vez.- Bem, da Sooner ganhei um bônus extra, e de meus pais, um lote de ações.Dinheiro, Hermione pensou, mais dinheiro. Ela havia quebrado a cabeça tentando encontrar algo especial para dar a Harry. No ano anterior havia lhe comprado uma caneta. Um presente impessoal, da secretária ao patrão. Naquele ano, porém, a situação tomara-se bem diferente. Queria dar-lhe algo que o fizesse lembrar-se sempre dela. Mesmo quando ele estivesse com Gina.Depois de muito pensar, optara por um pulôver de lã. Joyce lhe diria que roupas eram pessoais demais, mas ela não se importava. A intenção era que Harry soubesse que pensava nele como um homem. Como alguém de quem se sentia íntima.Hermione sorriu.- Não ganhou nenhuma garrafa de uísque, charutos ou gravatas de seda?Não, mas ganhei a sua companhia, Harry sentiu vontade de dizer, mas não teve coragem.- Ainda há alguns presentes que ficaram no escritório sem serem abertos - lembrou-se. - E você? O que ganhou até agora?- Harry! Não costumo trapacear. Meus presentes estão todos embaixo da árvore para serem abertos no dia certo. Amanhã. - Ela olhou para a águia presa em seu vestido. - A não ser o seu, Harry. Vou usá-lo em todos os natais daqui para a frente. E no ano-novo, e no meu aniversário.Harry desejou tocá-la. Só esperava que Hermione continuasse pensando daquela maneira depois que soubesse da verdade.- Mas o meu presente você vai ter que esperar, Harry... Está lá em casa, embaixo da árvore, junto com os outros.- Não devia ter se incomodado, Hermione.- Sei disso. Você é daquelas pessoas que têm de tudo. Mas achei que merecia uma lembrança minha.Harry olhou para a porta e ela acompanhou-lhe o olhar. De onde estavam dava para avistar na outra sala o pinheiro de Natal com os presentes de Gina arranjados ao lado.- Espero que minha ajuda tenha sido boa em relação aos presentes de Gina, Harry - comentou procurando parecer casual. - Teria sido mais fácil se eu a conhecesse.- Eu... Eu tenho certeza de que Gina vai adorá-los todos. Você tem muito bom gosto, não se preocupe.Sim, ela se preocupava! Tinha vontade de sacudi-lo pelos ombros até fazê-lo entender que nenhuma outra mulher no mundo se importava tanto com ele como ela. Mas não podia. Ao invés disso, mudou de assunto.- Está com sono, Harry?- Não, e você?- Ainda não, também.Harry levantou-se para ligar de novo a televisão. Enquanto isso Hermione foi até a janela. Continuava nevando. Ela voltou e sentou-se ao lado dele no sofá.- Está com fome, Hermione?- Impossível depois de tudo o que comi naquela festa.- O mesmo digo eu.Hermione fixou a atenção na televisão. Anunciavam um filme antigo, aparentemente bom.- Quer assistir? - Harry indagou-lhe. - Gosta de filmes antigos?- Especialmente quando são dos anos quarenta ou cinqüenta - ela confessou, acomodando-se melhor no sofá. - E você?Harry aumentou o volume e sentou-se bem junto dela, segurando-lhe a mão.- Também. Especialmente quando tenho a mão de alguém para segurar.Hermione sorriu. Um mês atrás teria sido impossível imaginar Harry Potter ousando um gesto tão romântico.- Concordo com você, Harry - disse suavemente. - Tudo fica melhor quando se tem alguém a quem dar a mão.O filme começou. Não era ruim, mas também não prendia muito a atenção. Hermione tentou acompanhá-lo, mas acabou encostando a cabeça no ombro de Harry e em poucos minutos dormia.A princípio ele não quis nem se mexer com medo de acordá-la. Continuou assistindo o filme, mas a certa altura não agüentou mais. Com Hermione ao seu lado só pensava no quanto seria bom estreitá-la nos braços. No quanto adoraria tê-la para sempre ali com ele. O sono veio e Harry também adormeceu.Hermione foi a primeira a acordar .Antes mesmo de abrir os olhos percebeu que alguma coisa estava estranha. Sentia muito frio nas costas, mas a parte da frente de seu corpo encontrava-se aquecida. Devagarinho ela abriu os olhos. Céus! Estava deitada abraçada a Harry!Na posição em que se encontrava não dava para ver o rosto dele, mas, aparentemente, também dormia. De repente ele abriu os olhos.- Hermione!- Harry! - Você dormiu -ele murmurou.- Acho que você também.Hermione não compreendia o que se passava com ela. Tinha consciência de que devia sair do sofá o quanto antes, mas uma força misteriosa não a deixava. O choque de ter acordado abraçada a Harry aos poucos foi sendo substituído por sensações muito diversas.Aquele era o homem que amava. Achava agradável toca-lo, estar tão perto dele. Perceber-lhe a respiração. Podia senti-lo quente e viril. Era impossível afastar o desejo de beijá-lo. De ser acariciada, amada...- Hermione...Seu nome soou como música nos lábios de Harry. Era impressão ou ele também queria beijá-la? Antes que tivesse tempo de pensar no assunto, suas bocas se uniram.Harry soltou um gemido e estreitou-a com força. Não devia prosseguir com aquela loucura, mas Hermione se mostrava tão receptiva, tão cheia de desejo quanto ele. Era impossível separar-se dela. Tanto tempo amando-a, sonhando com momentos iguais àquele e agora ali se encontrava ela agindo como se realmente gostasse dele!- Hermione... Oh, Hermione...Parecia um sonho, Hermione pensou entreabrindo os lábios para a língua ansiosa de Harry. Começava a perder todo o senso de realidade para mergulhar num mundo mágico onde apenas ela e Harry existiam. Nunca desejava um homem com tal intensidade. E sentia que ele também partilhava seus anseios. Mas não era possível! Amava Harry, sim, mas ele não a amava. Esperava por uma outra mulher, como podia querê-la daquele jeito?A lembrança de que Harry estaria pensando em Doreen naquele instante fez com que Hermione perdesse todo o entusiasmo. As chamas do desejo se apagaram quando ela lembrou que Gina era mulher dos sonhos dele. Bruscamente, afastou-se.- Harry, eu...- O que foi, Hermione? -Harry a fitou confuso. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. - Magoei você?Ela balançou a cabeça, negando. Não conseguia nem falar. Queria dizer que sim, que ele a havia magoado, mas não pelo motivo que pensava.- Escute, Hermione... - Ele sentou-se no sofá. - Não tive intenção de...- Tudo bem, Harry... - Hermione o interrompeu ajeitando as roupas. - Não estou culpando você de nada. Eu... eu me esqueci de Gina, foi só.- Acho que eu também. - Ele mentiu passando a mão nos cabelos. Céus! Como desejava tomá-la nos braços de novo. Quem sabe não seria o momento ideal para contar-lhe que Gina era uma invenção? No meio daquela tempestade Hermione não teria como fugir. Harry a fitou por alguns instantes, mas percebeu que não teria coragem. Ainda não se sentia preparado.- Harry! - Hermione exclamou de repente, olhando para a televisão. - Estamos com algum problema! Veja! A imagem sumiu.- Sim, e é por isso que a sala está tão fria. Deve ter queimado algum fusível. Meu sistema de calefação é elétrico.Hermione cruzou os braços ao redor dos ombros.- Há lenha aqui dentro da casa? Podemos acender a lareira.- Ótima idéia. - Harry entusiasmou-se. - Vou ver se encontro algumas toras no porão. Quer vir comigo ou prefere esperar?- Vou junto. - Hermione levantou-se. - Você tem uma lanterna em caso de não haver luz no porão também ?Harry encontrou uma num dos armários da cozinha e os dois desceram ao porão. Enquanto ele procurava pela lenha, Hermione constatou que havia diversos móveis guardados ali, todos protegidos com lençóis brancos. Pareciam fantasmas, pensou, arrepiando-se toda.- Ali estão as toras, Harry! Deixe-me ajudá-lo.Quinze minutos mais tarde o fogo crepitava alegremente dentro da lareira. Acomodando-se o mais perto possível do calor, Hermione amaldiçoou a hora em que tivera a idéia de usar aquele vestido de lã. Era tão curto!- Agora sim, Harry - disse animada. - Está uma delícia aqui junto do fogo.Harry encontrava-se perto de uma das janelas, olhando para o jardim coberto de gelo.- Este Natal será mesmo inesquecível - disse, voltando-se para ela. - Vou lembrá-lo para sempre.Por causa da tempestade ou do que acontecera há pouco no sofá?, Hermione ficou imaginando. Ainda sentia-se envergonhada de sua atitude ousada.- Também não me esquecerei jamais deste Natal, Harry - admitiu sentindo um leve calor no rosto.- Eu sinto muito, Hermione. - Harry aproximou-se. - Queria tanto que se divertisse esta noite e agora aqui estamos nós morrendo de frio.- Não tem importância. Sinto-me tão confortável como se o aquecimento estivesse funcionando. - Hermione esticou as pernas de forma a aproximá-las um pouco mais do fogo. - E além disso, não há mais nada para fazermos esta noite a não ser dormir, não é mesmo?Harry concordou. Na verdade tinha uma infinidade de idéias sobre o que poderiam fazer em vez de dormirem. Mas tratou de afastá-las da mente. Hermione já devia estar fazendo um mau juízo dele depois daquele beijo. Um aproveitador de mulheres, ela devia estar pensando. Não, não podia piorar ainda mais a sua imagem já prejudicada. O mais sensato seria procurar remediar a situação.- Hermione, eu... - Ele passou a mão nos olhos, indeciso sobre como começar. - Você sabe, eu...- O que houve? Suas lentes estão incomodando?- Lentes... ? Oh, não, não. O que estou tentando lhe dizer é que... bem, espero que não tenha ficado zangada com o que aconteceu há pouco. Não planejei aquilo. Se a ofendi me...- Não, você não me ofendeu, Harry. Também tive culpa. De certa forma eu o encorajei. Aliás, achei que estivesse fazendo um mau juízo de mim.- E por que eu estaria?Hermione desviou os olhos.- Gina...- Entendo. E para ser sincero, também pensei que estivesse me achando um aproveitador .- Harry! - Nem passaria pela cabeça dela classificá-lo de aproveitador. - É claro que não pensei uma coisa dessas!- Bem, você é uma mulher atraente, sedutora, e... e eu não sou de ferro, Hermione.Ela olhou para as toras queimando dentro da lareira.- Também o acho atraente, Harry...- Fico feliz... quero dizer, que não esteja zangada comigo, é claro. - É preciso entender que a situação foi um tanto inusitada - ela disse corando.- Sim. - Harry respirou fundo. - Muito inusitada.

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