Ela o olhava com curiosidade e preocupação. Rogers abriu um sorriso tímido.
— Sim, foi apenas uma dor de cabeça — Ele segurou a mão dela e lutou contra a vontade de beijar-lhe o dorso — Boa noite, Lauren. Qualquer coisa, basta me ligar.
— Boa noite.
Lauren puxou a mão dela, delicadamente e entrou, fechando a porta atrás de si. Adam ainda olhou para o pedaço de madeira por alguns segundos, antes de sair dali e voltar à delegacia. Ele precisava verificar algo antes de ir para casa.
A noite foi repleta de sonhos estranhos, tanto para Lauren, quanto para Rogers. E, assim que o sol raiou, ambos estavam de pé.
Ela colocou o vestido preto novo, que comprou porque "é sempre bom ter um vestido preto. Nunca se sabe quando se vai precisar". Lauren olhou-se no espelho e os lábios dela tremeram.
— Só não tinha que ser pra isso — As lágrimas encheram seus olhos, transbordando em seguida.
Ashton e Lauren se conheciam a vida toda. Eram bons amigos e, naturalmente, na adolescência, o Rei e a Rainha da pequena escola Round Top Carmine High School não poderiam seguir outro caminho que não o namoro e, então, casamento. Para Lauren, nunca houve outro caminho possível.
Após o casamento, os dois viveram bons seis anos juntos, repletos de amor e respeito. Para alguns, Ashton O'donnell não passava de um playboy arrogante, mas para Lauren, ele era um cavaleiro de armadura dourada. Sempre amável com ela. Sempre atencioso.
Ninguém nunca se atreveu a ficar contra o filho do prefeito, mas também, fora algumas respostas espertas, Ashton jamais foi ruim com ninguém.
"Exceto...", Lauren buscou não pensar naquilo.
Ashton era amado e odiado. Mas no fim, ele impunha respeito e mantinha excelentes relações com todos os habitantes dali.
Duas semanas antes, ele resolveu visitar um dos amigos mais próximos, ao que Lauren concordou, claro, e ficou em casa, preparando-se para o retorno dele. Ashton sempre voltava cheio de amor para dar a ela.
No entanto, o relógio bateu meia-noite e não havia sinal do homem. Lauren esperou, até que adormeceu na poltrona da sala, sendo acordada por uma bola batendo em sua porta.
Após ir à casa de Reece Shaw e ouvir que Ashton havia saído de lá depois das oito horas da noite anterior, fez um calafrio percorrer a espinha de Lauren. Ela voltou à casa deles, o procurou em casa cantinho e, dando-se por vencida ali, saiu procurando-o pelas poucas ruas.
A polícia foi acionada e as buscas — em vão — começaram. Nada. Ele parecia ter sumido. Nem mesmo o carro dele foi encontrado.
Rumores de que ele havia abandonado Lauren começaram a circular. O que ela mais ouvia era de que a culpa era toda dela, por não ter dado um filho ao homem mais importante daquela cidade.
Adam Rogers se mostrou amistoso e à postos para ajudar. Porém, quando o corpo foi encontrado, o corpo em putrefação foi encontrado, dentro do porão da residência dos O'donnell, as coisas mudaram um pouco. Ele não foi grosseiro, mas parecia dividido entre acusá-la de vez ou defendê-la das más línguas.
O enterro estava repleto de pessoas, todas ali para derramar uma lágrima por Ashton O'donnell e soltar palavras de admiração e pesar. Porém, nenhuma para acalentar o coração de Lauren. As pessoas já tinham dado o veredicto: ela era culpada.
— É uma falta de respeito essa mulher estar aqui, livre! — Uma mulher de meia idade disse para a outra. Irene Hartfield tinha sempre um comentário ácido para as pessoas. Uma vez que seu nome caísse na boca dela, sua reputação estaria acabada.
— E ela ainda tem coração de chorar! E vejam só... O vestido dela! Parece uma vagabunda!
Lauren olhou para baixo e encarou a saia, que passava dos joelhos dela, quase alcançando os tornozelos. O vestido não tinha decote, e estava abotoado até o pescoço. Os braços estavam cobertos pelo tecido negro.
"Uma vez que decidem que você não vale nada, não adianta nem tentar", Lauren disse para si mesma.
Aquelas mesmas mulheres que queriam validação, buscando a amizade dela, agora lhe ofendiam sem nem ao menos tentarem disfarçar.
"Ninguém vê a sua dor, Lauren", ela disse para si mesma.
— Não ligue para o que elas dizem — Rogers falou baixinho e Lauren olhou para ele, desconcertada. Os olhos castanhos profundos a encaravam com mais do que apenas simpatia. Mas Lauren não queria pensar naquilo. Ela não podia. Não naquele momento.
— Obrigada.
— Vem, vou te levar em casa.
— Não precisa. Está de dia.
Rogers olhou em volta.
— Não é seguro. Não pra você.
Não pra você. Ela repetiu aquilo mentalmente e olhou para aquelas pessoas. Não, não era seguro, de certo.
— Quando começará o processo? — Ela questionou o jovem delegado e ele apertou os lábios.
— Em breve. Mas... Eu estive pensando — Adam olhou em volta — Ainda não começou e a sua família mora na cidade ao lado. Por que não fica com eles, por hora?
Os pais de Lauren haviam morrido, mas ela ainda tinha uma tia em Shelby.
— Pode ser. Mas talvez pensem que estou fugindo.
— Não! É bem ali! Mas pelo menos, eu duvido que alguém vá tentar te machucar por lá — Adam sorriu para Lauren — Eu não posso ficar por perto vinte e quatro horas por dia, Lauren.
Ela apenas olhou para frente e continuou andando, até chegarem à cerca da casa dela.
— Por que está me ajudando assim? Quero dizer, a gente nem se conhece...
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Os Olhos!
HorrorATENÇÃO, PARA MAIORES DE 18 ANOS. CONTÉM GATILHO! É TERROR, NÃO ROMANCE! Uma historinha bem curtinha. Um assassinato misterioso, uma viúva suspeita e um delegado solícito. Qual a ligação entre os três?