Part 4

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Adam sentou na cama, sentindo o suor escorrer pela pele, deixando-o todo grudento. Por isso, após passar a mão pelos cabelos úmidos, ele se levantou e foi direto para o banheiro. Um banho. Era disso o que ele precisava. Um bom banho gelado!

Enquanto a água o cobria, Adam não conseguia parar de lembrar dela. Os olhos azuis cheios de vida, brilhantes e que ele estava louco para ver novamente. Foram anos longe dela.

"Ela não vai voltar", a voz no fundo da mente dele o lembrou.

Não, Lauren não voltaria. Ela não o olharia novamente. A última vez que os olhos dela o encararam, estavam estáticos, sem vida.

"Sem vida, como ela".

A satisfação por ter matado Ashton e depois, possuído Lauren, unindo-se à mulher que desejou por anos, não durou. Não por Ashton. Mas por ela. Ela nunca mais poderia dizer o quão desapontada ficou. O quão repugnante ele era.

Naquele momento, Adam queria poder ouvir a doce voz de Lauren, mesmo com raiva. Mas aquilo era impossível. Ela estava morta. E ele era o culpado.

Apenas quando Adam se deu conta de que Lauren jamais passaria novamente pelas portas da delegacia, nem que fosse para xingá-lo, foi que ele começou a ter os pesadelos.

"— Por que está fazendo isso?"

Uma coisa que as pessoas tendem a não compreender sobre a morte é que ela é, de fato, o fim. A ligação com os vivos, aquela possibilidade de uma retórica, não existe mais.

Quando você machuca alguém, mesmo que se passem anos, sempre há aquela centelha de esperança de, um dia, poder pedir desculpas e ouvir, mesmo que uma negativa, vindo da outra parte. Mas quando esta morre, isso desaparece. Apenas o vazio fica presente.

Lauren estava morta e enterrada. Ele mesmo a enterrara, então, ele não podia nem mesmo manter o "E se" dentro dele.

Ele a havia sufocado com os dedos enrolados na garganta da loira, enquanto o belo rosto da mulher ficava cada vez mais vermelho e, finalmente, roxo. Depois disso, silêncio. Tudo ficou tão quieto que Adam teve certeza de que o ar ao redor dele havia paralizado.

Lauren ficou deitada no banco de trás, olhando para o teto do carro, enquanto Adam dirigia até a árvore solitária. Ele não daria a satisfação do corpo dela ficar próximo ao de Ashton. Não.

O tapa no rosto dele parecia arder, ainda. Os arranhões no pescoço e no peito, nas costas, ardiam.

Enquanto se enxugava, ele olhou-se no espelho, mas não havia qualquer marca, ali.

Já havia se passado algum tempo, seis meses.

"Seis malditos meses!", ele jogou a toalha na poltrona, deitando-se na cama e cobrindo o rosto.

— Volta pra mim, Lauren! — Ele murmurou.

"Ela nunca foi sua...", novamente, aquela voz. Sarcástica, carregada de maldade. Era ele, Ashton O'donnell.

Adam odiava ouvir o homem dentro da mente dele, assombrando-o como se fosse a própria consciência.

"A consciência do Pinóquio", o mentiroso que, mesmo sabendo que fazia o errado, continuou. Mas Adam não tinha um Gepetto para perdoá-lo, ou uma Fada Azul para transformá-lo em alguém melhor. Para desfazer a merda.

O dia já estava amanhecendo e Adam se preparou para mais um dia de trabalho.

Não, Adam nunca teve desejo de ser um policial. Ao lembrar o que o fez sair de Dallas e voltar para a pequena Round Top, ele se arrastou para fora do quarto, apenas para andar até o fim do corredor e bater à porta.

— Está acordada? — Ele perguntou à mãe.

Nenhuma resposta, mas era possível ouvir movimento dentro do quarto e, por isso, Adam resolveu se afastar. Ele já tinha problemas suficientes para ainda se ocupar da mãe histérica.

Havia uma certa culpa, por falar assim da mãe. Mas a verdade é que a mulher infernizou o pobre Elias toda uma vida. Ele a aturou e cuidou dela, mas a mulher sempre desconfiava que ele tinha outra e, um belo dia, ele teve um AVC.

Adam sabia muito bem que Alicia se alegrou com o fato de que Elias estava entrevado em uma cama, pois assim, ele não poderia "ir atrás de qualquer rabo-de-saia", como ela costumava acusá-lo.

"Vai ver você se livrou da mulher errada", a voz maldosa de Ashton falou dentro da mente dele.

"Vai pro inferno!", Adam retrucou e se recusou a dar ouvidos à risada macabra do defunto.

O dia no trabalho foi enfadonho, novamente. Adam não conseguia achar graça em absolutamente nada.

TOC-TOC!

Ele olhou para cima, dando de cara com um dos policiais que ele nem mesmo conseguia recordar o nome, olhando-o.

— Ah, tem uma senhora querendo falar com você — Ele olhou para trás, fazendo uma careta — Ela é bem esquisita.

Adam suspirou.

— Beleza, deixa entrar.

Nem dois minutos se passaram e Adam ouviu um farfalhar de tecido. Ele levantou os olhos e lá estava ela, com os cabelos brancos, o rosto marcado por rugas e uma roupa que ele chamaria de excêntrica.

"Ela parece uma bruxa", ele pensou, mas logo se recriminou. "Não deveria falar assim dos mais velhos".

"Ora, por favor! Você matou uma mulher há poucos meses, depois de estuprá-la... Não se faça de bom samaritano!", a voz de Ashton, novamente. Adam quase podia vê-lo, olhando- o com desdém, enquanto mantinha a mão nos bolsos e um sorriso zombeteiro nos lábios.

— Senhor! — A idosa balançou a mão na frente do rosto de Adam, que piscou algumas vezes.

— Ah, perdão! — Ele falou e suspirou — Eu... Eu me distraí. Como posso ajudá-la, senhora...?

A mulher o olhou sem muita expressão, o que fez um arrepio perpassar o corpo de Adam.

— Gertrude Dean — A idosa respondeu — Preciso que vocês verifiquem as minhas terras.

Adam inspirou fundo.

— Certo, senhora Dean. Qual seria o motivo?

Ele pegou a caneta e abaixou os olhos.

— Alguém abriu uma cova, ali. Perto da árvore solitária.

Adam congelou e sentiu a mão tremendo. Ele olhou para a idosa.

— O que... O que disse?

— Acho que uns coiotes estão rondando a minha casa! — A idosa bufou — Pelo amor de Deus, tem alguém competente que possa me atender?

Adam piscou algumas vezes e engoliu a saliva, o coração voltando a dar doloridas batidas.

— Coiotes?

— Pelo visto é surdo. Isso explica porque não está me EN-TEN-DEN-DO!

Ela falou mais alto e pausadamente, o que irritou Adam profundamente.

"Esse telefone tem peso suficiente para abrir o crânio dessa velha maluca". 

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