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O apartamento estava uma tremenda bagunça. Roupas espalhadas pelo sofá. Sapatos em cima do tapete da sala. A louça estava na pia desde a noite passada. E para piorar, o fogão estava um nojo, porque meus dois amigos bêbados haviam feito um belo de um macarrão ao molho branco quando estavam chapados de madrugada.

Já eu estava sentada há dias em frente àquele notebook, dedos nervosos voando pelo teclado e a cabeça prestes a explodir enquanto tentava terminar aquele esboço do que futuramente seria um roteiro.

— Não, Aya. Sério! Você tem que ir na próxima festa. A Heather sabe dar uma festa como ninguém. — Brooke se direcionou a mim no meio de uma conversa animada que estava tendo com Lucas.

— É, o DJ mandou bem. E aqueles petiscos? S-e-n-s-a-c-i-o-n-a-i-s! — meu amigo continuou, dando muita ênfase na comida. Fiquei triste momentaneamente por lembrar que meu jantar tinha sido um pão integral com frango.

— E drogas, né? Porque vocês chegaram louquíssimos e não era de álcool. — me pronunciei dando a indireta sobre a bagunça da cozinha.

Conheci Brooke nas primeiras semanas morando na Califórnia, bem quando minhas únicas companhias em bares eram um livro que colocava embaixo do braço ao sair de casa, e algumas taças de vinho. Bem, eu saía bastante sozinha quando ainda não tinha amizades, fruto da frieza dos estadunidenses, mas em uma dessas noites solitárias, minha amiga me cutucou com seus olhos amendoados verde elogiando minhas tranças recém colocadas, e foi bem ali que ela me ganhou. Brooke tinha uma beleza absurda, com belíssimos cachos abertos e volumosos em sua tonalidade ruiva, que combinava idealmente com seu tom de pele, que era um pouco mais clara que a minha.

O Lucas veio junto, como num combo, já que se conheciam desde da adolescência, além de trabalharem juntos numa agência de publicidade. A primeira vez que nos vimos, ele não gostou de mim. Obviamente, eu era totalmente culpada por isso, já que meus atrasos rotineiros fizeram ambos esperar por mim do lado de fora de uma festa num frio congelante de inverno. Mas com o tempo, naquele mesmo dia eu ganhei seu coração, e alguns beijos também — essa parte é totalmente esquecível, blame it on the alcohol. O fato era que Lucas era muito bonito para não ser notado. Meu amigo tinha esse corpo musculoso que ele adorava exibir, junto com esses olhos castanhos que faziam qualquer segredo obscuro escapar.

— Totalmente irrelevante para a conversa esse detalhe. E nós falamos que vamos arrumar a cozinha. — ele se pronunciou, se ligando no que eu estava dizendo. Ótimo, não precisaria falar duas vezes e me estressar com algo além do meu roteiro.

— Anotado! — falei.

— Não, mas o que eram aqueles homens, Lucas!

— Eu falo com tranquilidade que beijei mais mulheres que homens ontem, nunca tinha visto tanta gente bonita reunida.

— Vivendo seu próprio bi panic. — brinquei rapidamente, e eles riram.

— É, você perdeu. Você sabe que perdeu, Ayana.

Olhei para cima por um momento, para respirar, mas rapidamente voltei a me concentrar.

— Não importa, eu só quero terminar isso daqui e para isso, eu preciso de silêncio.

Lucas e Brooke rolaram os olhos, mas continuaram conversando.

— Ah, você deveria ter visto a cara do Jake quando a gente contou que você não ia. Ele ficou cabisbaixo a festa inteira — informou Brooke.

— Não poderia me importar menos.

— Como pode ser tão virginiana — vi minha amiga sorrir, balançando a cabeça.

REFRAMED: ON TRACK AND BEYONDOnde histórias criam vida. Descubra agora