CAPÍTULO XXIX

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CAPÍTULO XXIX 

A porta do quarto fechou quando Sakura soltou-a lentamente. Com os olhos já levemente úmidos, ela sentiu o abraço ficar frouxo aos poucos, então, aproveitando isso, começou a se afastar dos braços de Sasuke e criar uma pequena distância entre eles. 

Seus olhos se encontraram, e ela pôde ver toda a dor e tristeza nos dele. Ela tentou sorrir um pouco, mas não achou que fez bem. A mão dela lentamente buscou a do Uchiha, entrelaçando seus dedos. Ele ficou surpreso com isso. 

— Sakura… 

Ela o puxou para dentro do quarto, caminhando com o Uchiha atrás de si em direção a cama. Ela sentou na beira do colchão, olhando para ele com um pouco de pesar e bastante cuidado. Sasuke continuou em pé, observando-a fixamente, a boca entreaberta e as sobrancelhas unidas. 

— Eu vou ouvir você. — ela murmurou, calma. — Estou disposta a ouvir toda a verdade, Sasuke. Por favor, não esconda mais nada de mim. Preciso saber o que realmente aconteceu. 

Ele continuou em choque, até que piscou, voltando a si. Ele sentiu o seu lábio inferior tremer, suas mãos suando um pouco. Engolindo em seco, Sasuke deu alguns passos para frente, curtos e cautelosos. Sob o olhar atento de Sakura, ele se recostou na penteadeira quase ao lado da cama dela, as mãos apertando a madeira até que os nós de seus dedos ficassem brancos. 

De cabeça baixa, Sasuke sentiu o amargo descer dolorosamente pela garganta e ficar entalado em seu peito esquerdo, junto a um forte incômodo que se alastrava cada vez mais. 

— Sakura, tem algumas coisas que talvez você ainda não saiba sobre a minha família. Desde criança, a relação que eu e meu irmão temos com nossos pais não é das melhores. Na verdade, não chega nem perto de ser assim. Itachi saiu de casa muito cedo e logo após se assumir gay, e isso causou muita revolta neles. Para eles, Itachi estava destruindo sua vida e jogando fora tudo o que eles tinham investido nele e projetado para seu futuro. Por isso, quando ele se foi, eu fui o único filho que restou. Até então, eu não recebia tanta atenção dos meus pais, na verdade, de ninguém da minha família. Até que, um dia, tudo mudou. Eu não era mais o filho esquecido dos Uchiha, eu tinha me tornado o único filho deles, e todos os holofotes se voltaram para mim. Depois disso, eu nunca mais soube o que era sorrir… Pelo menos, não sinceramente. Eu era obrigado a agir da forma que eles julgavam ideal para um Uchiha. Cada passo meu era planejado pelos meus pais. Cada fala minha em público era muito bem ensaiada. A maneira que eu me vestia, o que eu comia, com quem eu podia brincar… Nada estava sob meu controle, e sim deles. 

Sakura franziu a testa, sentiu vontade de dizer alguma coisa, porém nada escapou de seus lábios, pois ainda estava digerindo o que ele dizia com incredulidade. E ela notou que Sasuke estava se preparando para continuar, os olhos focados em algum ponto do chão. 

— Antes de ir embora, Itachi me prometeu que voltaria para me buscar. Ele não tinha nada além de umas economias, era pouco, mas ele não esperou mais tempo para fugir daquele inferno. Ele me pediu para esperar por ele, e eu fiz isso. Fiz isso por muito tempo, chorava todas as noites, ainda assim, eu nunca deixei de acreditar que ele cumpriria a sua promessa. Na escola, minha mãe dizia que eu devia ficar apenas entre os garotos de famílias mais influentes, que eu não devia me misturar com qualquer um e sempre manter minhas notas altas e ser o melhor de todos na turma; até que a gente começou a se aproximar. 

"— Você, aos poucos, entrou na bagunça que era a minha vida e se tornou a única que me fazia sentir mais… Vivo. De alguma forma, Sakura, você sempre me causava uma alegria espontânea que eu tentava a todo custo manter escondida dentro de mim. Eu não sabia direito o que era na época, nunca tinha sentido nada como aquilo antes. Então, a única forma que eu encontrei de demonstrar essa alegria que você me causava, foi através dos desenhos…" 

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