Charité

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Behind Blue Eyes — Charité


Annelisa Deveraux — Point of View


Nova Orleans, Luisiana. 9 de junho — sexta-feira


— Por favor, não. — murmurei quando Michael abriu as janelas de meu quarto, deixando a luz do dia entrar, fazendo-me cobrir minha cabeça com o travesseiro.

— Vamos, já passa do meio-dia! — puxou as cobertas da cama, recebendo um chute de minha parte. — Você que decide. — ele bufou, deixando-me sozinha.

Michael tinha razão, eu precisava levantar. Meu turno no Rousseau's começaria em menos de duas horas e, por mais que fosse extremamente cansativo trabalhar todos os dias em um bar, era a única forma que eu tinha para me manter e guardar dinheiro para a faculdade de direito.

Tomei um banho rápido, em seguida colocando o uniforme de bartender e descendo para tentar tomar café sem me atrasar. Ao lado da escada, havia um papel de parede que, desde que me mudei para a casa de Michael, sempre me chamou a atenção.

Não era nada chamativo, pelo contrário. O papel de parede era creme, o que dava o destaque eram as fotos da família Clifford espalhadas por toda a parede. Parei por um instante para observar a primeira foto que foi colocada na parede. A família completa por Michael, Karen, Daryl e o pequeno Harry. Infelizmente, Daryl e Harry não faziam mais parte da família. Harry, que não conheci, faleceu em um acidente de carro. A família não fala muito sobre ele.

Não apenas Harry, mas também Daryl me chamou atenção. Quando os Clifford me resgataram do orfanato, não demorou muito para que Daryl fosse embora de casa. Mesmo eu o conhecendo pouco, o amava como um pai. Todas as noites, ele colocava Michael e eu para dormir, sem necessidade. Sempre nos contava histórias de terror, mesmo sabendo que Michael o expulsaria do quarto dizendo que não era mais criança.

Eu devia a minha eterna gratidão aos Clifford. Se não fosse por eles, eu não teria a mínima chance de ser alguém na vida. A família me adotou durante suas férias em França, quando eu tinha apenas quatorze anos. Claro que a papelada demorou a sair, mas eles não desistiram de mim. E hoje, depois de sete anos, eu ainda estou aqui. E o mais importante, tenho Michael Clifford ao meu lado.


[...]


— Espero que você esteja fazendo um dry martini e não estudando fora de hora, Annie. — fechei o livro rapidamente, sorrindo sem graça para Jasper, dono do Rousseau's.

O único motivo de eu estar trabalhando como bartender era para juntar dinheiro e conseguir pagar a faculdade de direito. De preferência, uma perto de Nova Orleans.

Eu nunca teria coragem de pedir dinheiro para Karen, muito menos para Michael. A situação da família nunca foi ruim, sempre tivemos tudo, mas eu não me considerava uma verdadeira filha para fazer um pedido tão importante como esse. Se eu chegasse até lá, seria por mérito próprio.

O sino da porta de entrada soou, afastando meus devaneios. Uma mulher magra, olhos castanhos escuros, de cabelos negros assim como os meus e algumas tatuagens. Usava roupas pretas coladas em seu corpo e um salto alto vermelho. Deixei um riso baixo escapar por lembrar que ela estava parecendo Sandy Olsson de Grease, nos tempos da brilhantina.

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