Nessas conversas, Lando expunha sua vulnerabilidade, compartilhando sua frustração por não atingir suas expectativas pessoais, por não ter vencido uma corrida na Fórmula 1 em mais de três anos e por sentir que havia passado de um garoto prodígio para apenas mais um piloto. Frequentemente, ele se comparava a George Russell, já que ambos ingressaram na Fórmula 1 no mesmo ano, e George já havia conquistado vitórias, estava em uma equipe mais competitiva e era companheiro de equipe do sete vezes campeão Lewis Hamilton. Oscar tentava consolá-lo, adotando uma abordagem racional e apresentando fatos. Ele explicava que não era justo para Lando fazer comparações desse tipo, enfatizando que cada um tinha sua própria jornada e que a sorte desempenhava um papel incontrolável na Fórmula 1. Era impossível prever se um projetista acertaria o carro, se os pilotos à sua frente cometeriam erros, se alguém o jogaria contra o muro, se a estratégia seria acertada, se os mecânicos fariam um pit stop perfeito ou como seria o clima no dia da corrida. Oscar procurava mostrar a Lando que se culpar e gastar energia com aspectos incontroláveis só poderia prejudicá-lo, e Lando parecia estar começando a entender, mesmo que ainda sentisse culpa.
Apesar de oferecer apoio a Lando, Oscar também estava ciente desse sentimento de culpa, e talvez todos os pilotos o compartilhassem. Crescer competindo com outras crianças, sujeitos a cobranças absurdas e elogios apenas quando se alcança o melhor resultado pode afetar o psicológico de qualquer piloto. Talvez alguns fossem melhores em esconder os traumas de infância do que outros, talvez Oscar fosse mais habilidoso nesse aspecto, mas ele próprio também se sentia assim.
Foi no sábado à noite na Bélgica, após Oscar ter terminado em segundo na corrida Sprint, bem à frente de Lando, que chegou em sexto, que a conversa se tornou ainda mais pessoal. Os dois estavam sozinhos do lado de fora do terraço do prédio da McLaren, sentados em cadeiras almofadadas. Lando estava à esquerda de Oscar, como se estivessem à beira da praia, olhando para a vista da pista iluminada como se fosse o mar.
Oscar estava, de fato, muito feliz com sua colocação. Ele travou uma batalha interessante com Max Verstappen pela primeira posição na volta 6 e se orgulhava disso. No entanto, sua personalidade comedida entendia que essa não era uma corrida de verdade, nem um pódio de verdade. Mesmo assim, ele se permitia pensar que seu momento estava chegando, talvez se Max acordasse com dor de barriga no dia seguinte, talvez tivesse uma pedra pequena na vesícula, quem sabe. Lando fez questão de demonstrar animação pela conquista de Oscar, parabenizá-lo e fazer um pequeno discurso de incentivo. No entanto, no fundo, ele estava se sentindo mal, sem saber se era raiva, ciúmes, tristeza ou decepção.
Lando estava atormentado por uma série de pensamentos. Será que outro companheiro de equipe conseguiria uma vitória antes dele? Será que podia confiar em Oscar? Será que podia confiar em si mesmo? Talvez ele realmente estivesse faltando talento, talvez devesse se contentar em ser o segundo piloto, talvez até mesmo considerar a aposentadoria da Fórmula 1. Os pensamentos eram tão intensos que ele não conseguia disfarçar sua agonia, seu rosto e seu corpo expressavam claramente que ele não estava bem.
Oscar notou a expressão preocupada de Lando e o abordou.
- Você parece pensativo - disse, observando-o de perfil.
Lando tentou disfarçar sua agitação.
- Não... Apenas apreciando a vista - respondeu, tentando não revelar suas emoções, mas Oscar insistiu.
- Você não parece contente com seu resultado, não é?
Lando hesitou e se enredou nas palavras, não querendo que Oscar pensasse que estava com inveja de seu próprio desempenho.
- Não, é que... Eu não dei o meu melhor hoje.
Oscar sabia que aquele era o momento de deixar Lando falar e não de consolá-lo imediatamente. Ele esperou, enquanto Lando continuava.
- Eu estou muito feliz por você, eu juro... Mas ver o piloto incrível que você está se tornando me faz sentir tantas coisas...
Oscar, já conhecendo Lando profundamente, o interrompeu gentilmente.
- Agora você está se comparando comigo, certo?
Lando admitiu.
- É que o carro está tão bom, eu poderia ter sido melhor...
A voz de Lando foi diminuindo a cada palavra, seus olhos agora estavam fixos em suas mãos, enquanto ele parecia perdido em pensamentos e palavras. Oscar esperou alguns segundos para ver se Lando continuaria seu desabafo, mas ele permaneceu em silêncio, incapaz de expressar completamente o que estava sentindo sem o risco de ofender seu amigo. Então, Oscar colocou sua mão esquerda no ombro direito de Lando, tentando consolá-lo. Lando sentiu o toque quente e reconfortante, mas pesado, e uma onda de emoção o invadiu. Ele virou o rosto para o lado oposto, tentando esconder de Oscar as lágrimas que escapavam sem que ele percebesse. Logo, o choro se intensificou, um choro profundo, magoado e silencioso, mas que lhe roubou o fôlego.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Companheiros de Equipe
FanfictionNa noite seguinte ao ótimo resultado em Silverstone, Lando não conseguia parar de contar a Oscar cada detalhe de sua corrida, da cerimônia do pódio e da festa com champanhe. Depois de terminar o jantar, os dois decidiram se sentar no terraço do préd...