Nunca diga "nunca"

272 19 4
                                    


NETEYAM ON

Acordei com o sol esquentando minha pele, o calor não era grande, o que mostrava que era o início da manhã.
Abri os olhos e estávamos só nós dois, no meio das raízes da majestosa árvore que nós acolheu durante a noite daquele dia. Ergo meu corpo, me colocando sentado naquelas folhas secas que cobriam partes do chão.
Olho para o lado e vejo que ele está lá, pensei que fosse embora assim que eu pegasse no sono, mas não. Ele permanecia lá.
Retomo minha visão ao local agradável que nós nos encontramos. A luz do sol perfurava as folhas das árvores, criando um lindo cenário de início de manhã.

– Ai porra, eu tô aqui mesmo.– uma voz cansada, levemente rouca e remetendo decepção é ouvida do meu lado.
Abaixo as orelhas e o olho sarcástico

– Ninguém mandou vir comigo. Veio aqui porque quis.– digo convencido, vou ignorar o fato de eu ter o arrastado para cá ontem.
Ele me lança um olhar questionador e intrigado com minha fala, apenas rio da sua feição.

– Vem, se levanta – puxo levemente seu braço para que se sentasse e o mesmo o faz– vamos caçar algo para comer, se não, vamos ficar aqui com fome.
Sugiro em quanto passo a mão pelos meus cabelos com a intenção de arruma-los para o dia

– Nem pensar, vamos voltar para a vila agora mesmo! – afirmava o macho tão apreciando por mim. Reviro os olhos com sua fala (kiri vibes) – Eu vou ser o próximo Olo'eyktan, não posso me mostrar irresponsável saindo de casa no meio da noite e voltando só no outro dia! E você também, deve voltar pra seu marui. Não sabe o quanto foi difícil te encontrarem para você fugir de novo.

A última fala dele me comoveu, mas não me comoveu no sentido de querer voltar para meu marui. Eu jamais voltaria para lá, não era mais meu lar.
Depois do que ouvi do meu pai, nem o considero mais como tal.

– Se o seu pai fizesse o que o meu pai fez comigo, você agiria como!?– pergunto irritado.

Ele passa as mãos pelo rosto, como se estivesse tentando se controlar

– Neteyam –começou calmo– eu sei o qual duro seu pai foi com você, mas as coisas podem melhorar. As vezes ele só precisava de um tempo pra pensar. Tenho certeza de que ele estará diferente quando voltarmos.

Me encontro em choque, ele com certeza não sabe nem da metade do que aconteceu, só quer que eu volte para a vila a qualquer custo.
Sibilo para ele, que fica sem entender.
Ainda o encarando, me levanto do chão dando poucos passos de distância
– Você não entende, não sabe o que eu passei, não sabe o que eu senti. Eu nunca mais voltarei para meu pai, se é que devo o chamar assim.

Aonung levanta e começa a vir até mim com uma feição de preocupação e ... pena? Percebo que há uma árvore fácil de subir próxima a mim, dou uma leve corrida e subo na mesma. Em questão de segundos já estava lá em cima.
Olho para baixo com a intenção de ver o que o aquático ia fazer. Ele apenas me olha com espanto e um leve ar de admiração.
– Nossa, você sobe muito rápido! – um sorriso abre em seus lábios, como se estivesse vendo algo que o fascinou e aparentando ter esquecido do que acabou de rolar.

– Claro, nasci na floresta– digo ríspido. Como vou saber se ele está falando a verdade ou se ele só deseja que eu deça e vá com ele? – Se você quiser voltar, pode ir, não preciso de você,– (cu doce sempre é bom) – mas se me dedurar, eu te caço durante noite e vou te bater, da mesma forma que meu pai me bateria.– subo mais um pouco na árvore– Se o conhecer, diga ao No'an que eu estou aqui.

– No'an? Porque ele!? Você o conhece!?– agora ele parecia com raiva

– Conheço, e daí?

– E daí que ele é terrível, tenho motivos contáveis para isso!

O Que É Um "Espaço Pessoal"? [CANCELADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora