Palhaço Assasino.

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   Na madrugada, espíritos estão soltos, me espionando por aí. É bizarro os movimentos que as árvores fazem quando o vento às encontra. Parecem um choro, um grito, um clamor, uma vontade repreendida, o implorar da perdição.
   Tudo o que eu queria era dormir logo e acordar pra ver o Sol aparecer, mas a insônia não deixara o tempo passar tão rapidamente. Me levantei procurando um passatempo, sem ideias do que fazer ou do que pensar, já que naquela noite todos estavam dormindo e nenhum vivo vagava pelas ruas nessas horas, decidi sair da casa para fazer uma caminhada e ver se eu consigo relaxar pra dormir.
     São 02:28 da madrugada. Vesti uma capa preta e estou bem discreta, espero que nenhum vizinho me reconheça. Na mesma hora que coloquei o pé fora de casa, já me senti observada. Olhei entre os galhos das árvores, sentindo sensações e friezas repentinas que arrepiavam a minha pele. A lua nunca brilhou tanto. Pena que grandes nuvens se aproximam, deve vir chuva mais tarde.
    A minha respiração quente se destaca numa fumaça perceptível, graças à baixa temperatura anormal. Fiquei surpresa com o quão enérgica eu estou a essa hora da madrugada.
   Eu andei por muito tempo. Até que comecei a sentir minhas pernas pesando um pouco, estou ficando mais sonolenta, porém meus sentidos estão sempre aguçados. Parece que meu inconsciente está sempre alerta.

(3:00h AM)
Sentei num banco para descansar as pernas, observando o lago da cidade, poluído, com várias plantas que flutuam e se mechem. Ouço o vento vindo novamente.

~risos~

((O que foi isso?))

   Entre as folhas das árvores, por trás das cercas, uma imagem nebulosa de silhueta humana estava me observando de pé. Me levantei rapidamente, sentindo sua presença ameaçadora. A minha respiração se tornou mais rápida. Meu coração está batendorapidamente. Abri bem os olhos e me mantive focada naquela sombra misteriosa.

"O que você é?"_Perguntei aflita_

~risos~

   Me aproximei para ver melhor, porém a sombra não se mexia. Aquilo reagia somente com risos amedrontadores.
    Como eu não podia ver sua aparência com clareza, tirei o celular do bolso para iluminar, mas num piscar de olhos, a sombra não estava mais lá.
   Minha adrenalina não parava de subir, mesmo que eu tivesse perdido de vista, ainda podia sentir sua presença tenebrosa no local. Me apressei para voltar para casa (o que não é uma boa ideia quando se está sendo perseguido).

~passos~

   Sugui o caminho de volta apressadamente, olhando pro chão com as pernas doídas. Quando estava passando pela ponte, tentando me convencer de que a coisa havia simplesmente desaparecido, senti pingos de chuva começando a cair sobre mim. Ainda tinha caminho pra seguir.

((Será que eu chego em casa à tempo?))

    Eu subi uma escadaria, virei a esquina, subi um alto, e a chuva quase me derrubou naquele terreno inclinado.
   Quando achei que o medo havia acabado, respirei e abri o portão de casa.

((Meu marido deve estar dormindo, não vai se preocupar se eu estiver fugindo de um homem estranho, porque parece mais um sonho do que a realidade...))

    Abri a porta da entrada com muito medo, já que com as mãos trêmulas era difícil de segurar a chave, e estava demorando de mais. Assim que finalmente entrei em casa, fui até a porta do quarto e meu marido não estava lá. Fui até a cozinha e suspirei aliviada ao vê-lo. Ele estava sentado na cadeira da cozinha me esperando.

- Meu bem, preciso da sua ajuda!

Tinha algo de errado...
Ele estava completamente...
Paralisado.

- O que você tem?

~risos~

- Essa risada não vem de você.

Andei lentamente até a porta do quarto que deixei semiaberta e aquela risada... ficava cada vez mais alta. Sim, ele estava ali.

     Se jogou de cabeça na porta, a coisa.

((Como ele foi parar no meu quarto!?))

  Meus instintos me botaram pra correr. Por sorte a porta abria para dentro do quarto, e demoraria mais para ele me alcançar.

- SOCORRO!!!

    Meu marido continuou lá parado.

- EU VOU VOLTAR!!!

    Desci as escadas, abri o portão e o fechei de uma vez.

~som de pancada~

Garras o atravessaram.
((De pressa!)) Ele não vai escapar, mas se tivesse alguma chance, eu agarraria essa chance e o salvaria. Boneco de cera.
    O mesmo caminho fui percorrendo nessa fuga. A chuva molhou todo o meu corpo. Só foi um escorregão e eu fui ao chão. O palhaço vinha se contorcendo, ele pulava nas poças de água mas não escorregava como uma pessoa normal, parecia uma entidade.

- SAI!!

Flashback~

    Eu estava numa casa alugada, na beira do lago da cidade, que mais parecia um rio ou um açude. Meu marido, com um semblante feliz cantava uma melodia. Subi no segundo andar da casa para usar o banheiro. Era tardezinha e uns raios de sol entravam pelas brechas da janela. Lavei as mãos e desci novamente.
   Meu marido estava preparando o motor de uma pequena canoa. Algumas pessoas pessoas desconhecidas se aproximaram, parecendo amigáveis. Elas trouxeram cadeiras e se sentaram do nosso lado. Elas pegaram bingos e distribuíram entre nós, no final eu havia ganhado um carneiro. Foi anoitecendo, e nós conversamos envolta da fogueira contando sobre o dia, porém algumas falas deles eu não consegui entender, deve ser pelo sotaque de outra região.
     Um som estranho vindo lá de cima no segundo andar da casa, tirou a atenção de todos. Fui até lá no meu quarto para pegar algumas coisas dentro da mala. Algumas pessoas entraram nos outros quartos para conferir de onde vinha o som.
    De repente ouvi um grito aterrorizante de alguém morrendo no outro cômodo da casa, e me escondi embaixo da cama tremendo de medo.

~risos~

     Um palhaço entrou no meu quarto, deixando marcas de sangue dos pés no chão do quarto. Enquanto ele entrou na suíte do quarto, tomei uma atitude rápida e prendi ele lá dentro, logo fechando a porta e depois descendo rapidamente.

- Meu Deus!

   Um corpo espatifado no chão da sala, uma criança gritando desesperada enquanto observava. Os adutos correndo pra lá e pra cá, era uma cena realmente traumatizante. Meu marido puxou-me pela mão. Eu coloquei malas, e o carneiro na canoa e subi com ele e uma criança, enquanto meu marido começou a puxava a corda do motor. Até que lá vinha ele, o palhaço assassino...

~abro os olhos~

Agora me lembro. Era você! Eu sei qual é seu medo.

O Caderno dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora